Fui Adorar a Natureza com Druidas Dançantes na Inglaterra

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Fui Adorar a Natureza com Druidas Dançantes na Inglaterra

Fui ao festival de Beltane, onde uma variedade de hippies deixava tudo de fora balançando. Eles me guiaram por uma procissão pela cidade, onde tudo, das árvores até o caminhão de reciclagem, foi reverenciado e abençoado.

Mãos para cima se você já teve uma fase wicca na adolescência. Eu com certeza tive. Passava as noites esfregando óleo de patchouli em velas verdes e uma vez fui num negócio chamado “Witchfest” em Croydon, na Inglaterra, onde aprendi qual era o melhor tipo de madeira para fazer uma varinha.

Parei com a bruxaria antes de ter idade para entrar para um coven (a maioria só aceita membros acima de 18 anos). Meus feitiços não funcionavam, minha mãe estava brava porque sem querer coloquei fogo no tapete com um bloco de incenso de carvão, e eu também não queria me vestir como se fosse gótico ou hippie, o que parecia ser um pré-requisito. Mas às vezes fico pensando o que teria acontecido se eu tivesse me tornado um pagão de corpo e alma. Será que teria desenvolvido algum poder de cura? Será que meu guarda-roupa consistiria exclusivamente em veludo amassado? Será que a essa altura eu já teria uma loja de bongs?

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Nesse clima de nostalgia, entrei em contato com uma mulher muito gentil e bem informada chamada Kala, que tirava o tarô para mim. Hoje em dia ela se descreve como uma pessoa que está “em busca”, mas tem formação em bruxaria e já escreveu vários livros sobre o assunto. Falei que queria dar uma relembrada no paganismo, então ela sugeriu que eu fosse a Glastonbury para as celebrações de Beltane no começo de maio. Marcando o início do verão, Beltane é um dos maiores festivais do calendário pagão. Da forma como Kala descreveu, parecia muito com O Homem de Palha, tirando o ritual de matança de cristãos. Me ganhou.

Depois do início às cinco da manhã, nos encontramos no Chalice Well, o “Poço do Cálice”, que é um buraco sagrado. Reunidos na encosta, um monge budista, um druida, um cristão e um wicca representando a terra, o ar, o fogo e a água invocaram cada um de seus elementos, dizendo o tipo de coisa que você imagina que diriam. Por exemplo: “Hoje, mais uma vez encenamos a dança da criação, sentindo nossa ligação com a terra e invocando as energias do universo”. Foi legal que — pelo menos neste dia em Glastonbury — religiões diferentes pudessem esquecer suas divergências em nome da adoração à natureza.

Depois dos discursos, os quatro representantes acenderam uma fogueira — que representava a criação — e pediram a três homens voluntários que passassem um mastro através de uma guirlanda conduzida por mulheres voluntárias. Provavelmente foi a referência fálica menos sutil que vi desde a marreta do clipe de “Wrecking Ball”. “Tradicionalmente, Beltane era uma desculpa para encher a cara e fazer sexo”, explicou Kala.

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Quando o mastro de fitas vermelhas e brancas foi fincado ao nosso lado, todos nós pulamos, um por vez, uma fogueira ao som de um monte de gente batucando tambores. Depois que todo mundo tinha saltado, era hora de ir para o Monumento do Mártir no centro da cidade. Lá, assim que os céus começaram a se abrir, fomos apresentados à Rainha de Maio e ao Rei do Verão deste ano, que guiaram uma procissão pela cidade, onde tudo, das árvores até o caminhão de reciclagem, foi reverenciado e abençoado.

Paramos no Templo e Poço da Fonte Branca, onde umas mulheres ficaram peladas e brincaram na água. O público era, em sua maioria, uma variedade de hippies que deixavam tudo de fora balançando, junto de uma minoria de pessoas como eu que ficaram em volta, de casaco, sem saber direito o que fazer.

No começo da tarde, tive uma conversa legal com o Arquedruida de Avalon, mas ainda não tinha tido a sorte de falar com nenhuma bruxa. A maioria das pessoas que conheci definiu a própria espiritualidade em termos bastante vagos, se descrevendo como adoradores da natureza ou adeptos da “religião do amor”.

Ausência de bruxas significava ausência de mágica e só um monte de mulheres vestidas de Maid Marian. Comecei a pensar se Beltane em Glastonbury não era meio que nem o Natal nos outros lugares — uma desculpa para fazer festa, acreditando na lenda ou não.

Quando a procissão chegou à Colina do Cálice, finalmente conversei com uma autêntica bruxa, a Sandie, que explicou que as celebrações começaram há cerca de nove anos por dois covens que queriam retomar o feriado de Primeiro de Maio da igreja no hemisfério norte. Depois que as bruxas da cidade se manifestaram, toda a comunidade se envolveu para celebrar o início do verão. Num movimento sincronizado, a multidão congregada se reuniu em um grupo de quatro (todos druidas, até onde entendi), criaram um círculo sagrado e ergueram o imenso mastro que havia sido ostentado por toda a cidade. Essa cerimônia parecia muito com a da manhã, só que com custos de produção um pouco maiores e uma pessoa com uma espada só para garantir.

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Tirando o aspecto da novidade, ir a um ritual pagão é muito parecido com ir a qualquer cerimônia de uma fé que você não professa. Assim como se eu estivesse em uma missa, não entendi muito da retórica, e fiquei feliz quando o círculo sagrado foi dissolvido para rolar mais dança em volta do mastro.

Quando o sol saiu, aceitei que provavelmente não ia ter nenhuma epifania em Beltane, mas fico feliz por isso existir. O mistério e a mágica que me atraíram na bruxaria durante a adolescência estavam um pouco em falta, mas o que encontrei — muitos britânicos excêntricos marcando a mudança de uma estação — parece uma base mais sustentável de espiritualidade.

Obviamente é fácil desdenhar de qualquer pessoa que esteja usando um manto, mas uma comunidade que se reúne para celebrar a natureza provavelmente é o ponto mais inofensivo que uma religião deve conseguir chegar em 2014. E uma parte de mim tem a esperança de que, muito tempo depois que o aquecimento global deixar nossas cidades submersas, esse pessoal ainda se reúna numa montanha em algum lugar para adorar deuses antigos desse jeito dançante e pelado deles.

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