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Música

A Peoples Potential Unlimited tem música de dança caseira para ti e para a tua mãe

Cenas que um melómano descobre.

É praticamente inevitável que um melómano intensivo seja obrigado a meter as mãos no subsolo dos discos obscuros e esquecidos, depois de atingido aquele ponto em que a sua curiosidade já devorou praticamente tudo à superfície. Para um coleccionador, que já habituou os seus olhos às imagens das mesmas capas, há uma satisfação natural no momento em que se depara com algo nunca antes visto (Rui Miguel Abreu sabe e

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vive

isso). A odisseia de Andrew Morgan pelos discos, que o levaria a criar a

label

Peoples Potential Unlimited

, começou como tantas outras: com idas a pequenas feiras em busca de companhia para um primeiro LP, que entretanto começara a ficar gasto de tanto rodar. Se é nessas feiras que acontecem as mais desejadas surpresas, o mercado paralelo da internet será o que oferece a maior variedade, além de todo o conforto de poder percorrer milhares de discos, com o rabo bem instalado num cadeirão.

Não duvidamos de que também Andrew Morgan terá achatado os glúteos com horas perdidas em páginas cheias de discos como o eBay ou, mais tarde, a especializada Discogs. Calculamos até que alguém tão vidrado em funk,

disco

e boogie se tenha muitas vezes perdido na hipnose de ler os mesmos nomes vezes sem conta: Kool & The Gang, Parliament, Isley Brothers, KC & The Sunshine Band, Rare Earth, Boney M. Mas nessa caça surge sempre um

outsider

, que desperta o coleccionador como se fosse um estalar de dedos. Leva isso a que, muito naturalmente, as buscas de quem já conhece (e possui) tudo só metam o pé ao travão no momento de avaliar aquele disco que permanecia na sombra desse “tudo”. Andrew Morgan começou por acumular alguns desses preciosos esquecidos até ao dia em que decidiu ir mais longe e passar a reeditá-los. Essa tem sido desde aí a principal missão da Peoples Potential Unlimited: arquivar e relançar música de dança que nunca chegou a singrar junto do grande público nas décadas de 70, 80 e 90.

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É praticamente inevitável que um melómano intensivo seja obrigado a meter as mãos no subsolo dos discos obscuros e esquecidos, depois de atingido aquele ponto em que a sua curiosidade já devorou praticamente tudo à superfície. Para um coleccionador, que já habituou os seus olhos às imagens das mesmas capas, há uma satisfação natural no momento em que se depara com algo nunca antes visto (Rui Miguel Abreu sabe e 

vive 

isso). A odisseia de Andrew Morgan pelos discos, que o levaria a criar a 

label

 

Peoples Potential Unlimited

, começou como tantas outras: com idas a pequenas feiras em busca de companhia para um primeiro LP, que entretanto começara a ficar gasto de tanto rodar. Se é nessas feiras que acontecem as mais desejadas surpresas, o mercado paralelo da internet será o que oferece a maior variedade, além de todo o conforto de poder percorrer milhares de discos, com o rabo bem instalado num cadeirão.





Não duvidamos de que também Andrew Morgan terá achatado os glúteos com horas perdidas em páginas cheias de discos como o eBay ou, mais tarde, a especializada Discogs. Calculamos até que alguém tão vidrado em funk, 

disco 

e boogie se tenha muitas vezes perdido na hipnose de ler os mesmos nomes vezes sem conta: Kool & The Gang, Parliament, Isley Brothers, KC & The Sunshine Band, Rare Earth, Boney M. Mas nessa caça surge sempre um 

outsider

, que desperta o coleccionador como se fosse um estalar de dedos. Leva isso a que, muito naturalmente, as buscas de quem já conhece (e possui) tudo só metam o pé ao travão no momento de avaliar aquele disco que permanecia na sombra desse “tudo”. Andrew Morgan começou por acumular alguns desses preciosos esquecidos até ao dia em que decidiu ir mais longe e passar a reeditá-los. Essa tem sido desde aí a principal missão da Peoples Potential Unlimited: arquivar e relançar música de dança que nunca chegou a singrar junto do grande público nas décadas de 70, 80 e 90.





O que acontece, de facto, é que grande parte desta música merece ser escutada por muito mais gente, além dos coleccionadores gananciosos e endinheirados (esses malvados). É possível decifrar essa função de Robin Hood na actividade de Andrew Morgan, à frente da PPU, mas nem isso leva a que este rapaz da Carolina do Norte se assuma como um herói das descobertas. O nosso entrevistado, que hoje opera a partir de Washington, destaca-se aliás por um discurso modesto e discreto, que só desata a corda no momento de abordar os figurões da Peoples Potential Unlimited. Entre esses encontramos vedetas que nunca chegaram a sê-lo como é o caso de Dwight Sykes, Uku Kuut e Robbie M — todos eles nomes que a PPU trata com o maior respeito e cuidado, fazendo assim crer que estes são os James Browns do seu sub-universo. Encontramos também um salteador de discos perdidos chamado Moon B, que, a julgar pelas suas viagens pelo vasto cosmos do funk, pode muito bem ser a personificação actual do espírito arqueológico da PPU.





A julgar pelas palavras de Andrew Morgan, alguns destes artistas revelam-se gratos pela segunda oportunidade concedida à sua obra e aceitam colaborar com a label, enquanto outros acreditam que o grande dia ainda está por chegar. Pergunto ao patrão se alguma vez foi ele a ser encontrado em vez do contrário, ao que responde: “Sim, isso aconteceu uma vez. Nesse caso os artistas estavam à procura de mordomias típicas das grandes editoras. Procurei tratá-los na palminhas, tanto quanto me foi possível, mas, no final, eles decidiram que a sua música era demasiado preciosa para ser escutada por outros ouvidos que não os deles”.



Felizmente não foi isso que se passou com Dwight Sykes e o seu 

Songs Volume One

 , lançado no ano passado, enquadra-se perfeitamente  na orientação da PPU, que nunca descarta um disco de óptimas canções, por mais reduzidos que sejam os seus meios de gravação ou desmedidamente excêntricas algumas das ideias exploradas. Será que vale a pena resistir às improváveis chicotadas de estática, de “The Good Times”, ou implicar com o som tosco, de “In the Life Zone”? Talvez não, já que, em geral,

 Songs Volume One 

possui muito mais virtudes do que defeitos. Além disso, as suas imperfeições servem para mostrar como Dwight Sykes é um bravo executante de canções funk e soul, mesmo sem dispor dos recursos supostamente ideais para materializá-las. 


Que patrão…


Com recursos de sonho 

Songs Volume One

 provavelmente não seria um disco tão genuíno e acolhedor. Andrew Morgan explica que, “se por acaso googlares o nome do Dwight Sykes, é provável que vás dar aos seus vídeos caseiros dos anos 80 e 90, no YouTube. O que ali tens são imagens dos seus familiares e amigos — alguns deles ainda vivos, outros já ausentes. Tudo aquilo é estritamente pessoal, mas disposto como um mundo aberto a todos. A sua música funciona de um modo igual: toca em segundo plano, enquanto ele te convida para te sentares no sofá e falar um pouco. Adoro o Dwight e orgulho-me bastante do trabalho que fizemos juntos”.





Não existe ainda um mapa para explorar os prazeres caseiros da PPU e todos os momentos são igualmente certos para espreitar Dwight Sykes, mas também este catálogo tem a compilação certa para apresentar os seus principais valores em formato de “quem é quem”. Tal como adianta o título, 

The Family Album 

consuma o retrato de uma família talvez demasiado disfuncional ou azarada para pisar os grandes palcos, embora totalmente fértil no que diz respeito a grandes malhas de funk e boogie. Aliás, a qualidade dos

 grooves

, que bombam em faixas como “Tasty Tune” (Minority Band) ou “Funky Beat” (Crunch), é de tal modo segura, que não nos acanharíamos de colocar 

The Family Album 

ao nível da banda-sonora de 

Boogie Nights 

(tremendo postal musical da década de 70). Até pela forma como Andrew Morgan descreve a sua criação, 

The Family Album 

parece um disco feito por pessoas para pessoas: “Tinha recebido montes de pedidos para fazer uma compilação em CD e procurava também qualquer coisa portátil para oferecer aos clientes. Não sou grande fã do formato CD, mas as pessoas ficaram satisfeitas.”





Por esta altura já entendemos que um dos propósitos da Peoples Potential Unlimited passa por tentar garantir que alguma da mais autêntica música popular possa realmente obter essa popularidade. Em praticamente todas as fotos que conhecemos de Uku Kuut, o produtor nascido na Rússia apresenta-se com as roupas mais vulgares e entretido num mar de teclados e sintetizadores (aparelhos da Casio, Roland, Korg). Só de olhar ninguém diria que ali está um criador de música de dança especialmente capaz de conjugar funk com os novos breaks da vaga de 80, tal como comprovam 

Visions of Estonia

 e 

Grand Hotel

, álbuns carregados de uma invejável inventividade. Durante a sua vida, Uku Kuut passou por Los Angeles, Estocolmo e outras tantas cidades. Residiu durante mais de 20 anos na Estónia e foi nesse país que acumulou a reputação necessária para, à boa maneira europeia, gravar umas quantas malhas de house acompanhado por vozes femininas (as de Maryn E. Coote e Diva Avari).





Resumindo então: por aqui tivemos um anfitrião funk, uma geração do boogie perdida e achada, o mais desejado produtor nómada da Estónia. O que mais pode acontecer a esta entrevista? Tento a minha sorte e procuro saber se Andrew Morgan consegue satisfazer a minha fantasia de encontrar uma maravilha que junte funk e dub. Pois claro que consegue: ““It’s No Lie”, do Jon Gorr. Ele foi um dos fundadores dos I-Tones, a grande banda reggae de New England formada pelo próprio (teclista), Tony Allen (baterista) e RAM (vocalista). A mesma banda gravou “It’s No Lie”, em 1983, para a Massmedia Records, num projecto paralelo. Nesse mesmo ano, os I-Tones conheceram uma enorme popularidade local e internacional com o sucesso da versão que gravaram de “Walk On By”, o conhecidíssimo standard de Bacharach e Dionne Warwick”. O impossível é possível na Peoples Potential Unlimited.

O que acontece, de facto, é que grande parte desta música merece ser escutada por muito mais gente, além dos coleccionadores gananciosos e endinheirados (esses malvados). É possível decifrar essa função de Robin Hood na actividade de Andrew Morgan, à frente da PPU, mas nem isso leva a que este rapaz da Carolina do Norte se assuma como um herói das descobertas. O nosso entrevistado, que hoje opera a partir de Washington, destaca-se aliás por um discurso modesto e discreto, que só desata a corda no momento de abordar os figurões da Peoples Potential Unlimited. Entre esses encontramos vedetas que nunca chegaram a sê-lo como é o caso de Dwight Sykes, Uku Kuut e Robbie M — todos eles nomes que a PPU trata com o maior respeito e cuidado, fazendo assim crer que estes são os James Browns do seu sub-universo. Encontramos também um salteador de discos perdidos chamado Moon B, que, a julgar pelas suas viagens pelo vasto cosmos do funk, pode muito bem ser a personificação actual do espírito arqueológico da PPU.

A julgar pelas palavras de Andrew Morgan, alguns destes artistas revelam-se gratos pela segunda oportunidade concedida à sua obra e aceitam colaborar com a label, enquanto outros acreditam que o grande dia ainda está por chegar. Pergunto ao patrão se alguma vez foi ele a ser encontrado em vez do contrário, ao que responde: “Sim, isso aconteceu uma vez. Nesse caso os artistas estavam à procura de mordomias típicas das grandes editoras. Procurei tratá-los na palminhas, tanto quanto me foi possível, mas, no final, eles decidiram que a sua música era demasiado preciosa para ser escutada por outros ouvidos que não os deles”.

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Felizmente não foi isso que se passou com Dwight Sykes e o seu

Songs Volume One

 , lançado no ano passado, enquadra-se perfeitamente  na orientação da PPU, que nunca descarta um disco de óptimas canções, por mais reduzidos que sejam os seus meios de gravação ou desmedidamente excêntricas algumas das ideias exploradas. Será que vale a pena resistir às improváveis chicotadas de estática, de “The Good Times”, ou implicar com o som tosco, de “In the Life Zone”? Talvez não, já que, em geral,

 Songs Volume One

possui muito mais virtudes do que defeitos. Além disso, as suas imperfeições servem para mostrar como Dwight Sykes é um bravo executante de canções funk e soul, mesmo sem dispor dos recursos supostamente ideais para materializá-las.

Que patrão…

Com recursos de sonho

Songs Volume One

 provavelmente não seria um disco tão genuíno e acolhedor. Andrew Morgan explica que, “se por acaso googlares o nome do Dwight Sykes, é provável que vás dar aos seus vídeos caseiros dos anos 80 e 90, no YouTube. O que ali tens são imagens dos seus familiares e amigos — alguns deles ainda vivos, outros já ausentes. Tudo aquilo é estritamente pessoal, mas disposto como um mundo aberto a todos. A sua música funciona de um modo igual: toca em segundo plano, enquanto ele te convida para te sentares no sofá e falar um pouco. Adoro o Dwight e orgulho-me bastante do trabalho que fizemos juntos”.

Não existe ainda um mapa para explorar os prazeres caseiros da PPU e todos os momentos são igualmente certos para espreitar Dwight Sykes, mas também este catálogo tem a compilação certa para apresentar os seus principais valores em formato de “quem é quem”. Tal como adianta o título,

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consuma o retrato de uma família talvez demasiado disfuncional ou azarada para pisar os grandes palcos, embora totalmente fértil no que diz respeito a grandes malhas de funk e boogie. Aliás, a qualidade dos

 grooves

, que bombam em faixas como “Tasty Tune” (Minority Band) ou “Funky Beat” (Crunch), é de tal modo segura, que não nos acanharíamos de colocar

The Family Album

ao nível da banda-sonora de

Boogie Nights

(tremendo postal musical da década de 70). Até pela forma como Andrew Morgan descreve a sua criação,

The Family Album

parece um disco feito por pessoas para pessoas: “Tinha recebido montes de pedidos para fazer uma compilação em CD e procurava também qualquer coisa portátil para oferecer aos clientes. Não sou grande fã do formato CD, mas as pessoas ficaram satisfeitas.”

Por esta altura já entendemos que um dos propósitos da Peoples Potential Unlimited passa por tentar garantir que alguma da mais autêntica música popular possa realmente obter essa popularidade. Em praticamente todas as fotos que conhecemos de Uku Kuut, o produtor nascido na Rússia apresenta-se com as roupas mais vulgares e entretido num mar de teclados e sintetizadores (aparelhos da Casio, Roland, Korg). Só de olhar ninguém diria que ali está um criador de música de dança especialmente capaz de conjugar funk com os novos breaks da vaga de 80, tal como comprovam

Visions of Estonia

 e

Grand Hotel

, álbuns carregados de uma invejável inventividade. Durante a sua vida, Uku Kuut passou por Los Angeles, Estocolmo e outras tantas cidades. Residiu durante mais de 20 anos na Estónia e foi nesse país que acumulou a reputação necessária para, à boa maneira europeia, gravar umas quantas malhas de house acompanhado por vozes femininas (as de Maryn E. Coote e Diva Avari).


É praticamente inevitável que um melómano intensivo seja obrigado a meter as mãos no subsolo dos discos obscuros e esquecidos, depois de atingido aquele ponto em que a sua curiosidade já devorou praticamente tudo à superfície. Para um coleccionador, que já habituou os seus olhos às imagens das mesmas capas, há uma satisfação natural no momento em que se depara com algo nunca antes visto (Rui Miguel Abreu sabe e 

vive 

isso). A odisseia de Andrew Morgan pelos discos, que o levaria a criar a 

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Peoples Potential Unlimited

, começou como tantas outras: com idas a pequenas feiras em busca de companhia para um primeiro LP, que entretanto começara a ficar gasto de tanto rodar. Se é nessas feiras que acontecem as mais desejadas surpresas, o mercado paralelo da internet será o que oferece a maior variedade, além de todo o conforto de poder percorrer milhares de discos, com o rabo bem instalado num cadeirão.





Não duvidamos de que também Andrew Morgan terá achatado os glúteos com horas perdidas em páginas cheias de discos como o eBay ou, mais tarde, a especializada Discogs. Calculamos até que alguém tão vidrado em funk, 

disco 

e boogie se tenha muitas vezes perdido na hipnose de ler os mesmos nomes vezes sem conta: Kool & The Gang, Parliament, Isley Brothers, KC & The Sunshine Band, Rare Earth, Boney M. Mas nessa caça surge sempre um 

outsider

, que desperta o coleccionador como se fosse um estalar de dedos. Leva isso a que, muito naturalmente, as buscas de quem já conhece (e possui) tudo só metam o pé ao travão no momento de avaliar aquele disco que permanecia na sombra desse “tudo”. Andrew Morgan começou por acumular alguns desses preciosos esquecidos até ao dia em que decidiu ir mais longe e passar a reeditá-los. Essa tem sido desde aí a principal missão da Peoples Potential Unlimited: arquivar e relançar música de dança que nunca chegou a singrar junto do grande público nas décadas de 70, 80 e 90.





O que acontece, de facto, é que grande parte desta música merece ser escutada por muito mais gente, além dos coleccionadores gananciosos e endinheirados (esses malvados). É possível decifrar essa função de Robin Hood na actividade de Andrew Morgan, à frente da PPU, mas nem isso leva a que este rapaz da Carolina do Norte se assuma como um herói das descobertas. O nosso entrevistado, que hoje opera a partir de Washington, destaca-se aliás por um discurso modesto e discreto, que só desata a corda no momento de abordar os figurões da Peoples Potential Unlimited. Entre esses encontramos vedetas que nunca chegaram a sê-lo como é o caso de Dwight Sykes, Uku Kuut e Robbie M — todos eles nomes que a PPU trata com o maior respeito e cuidado, fazendo assim crer que estes são os James Browns do seu sub-universo. Encontramos também um salteador de discos perdidos chamado Moon B, que, a julgar pelas suas viagens pelo vasto cosmos do funk, pode muito bem ser a personificação actual do espírito arqueológico da PPU.





A julgar pelas palavras de Andrew Morgan, alguns destes artistas revelam-se gratos pela segunda oportunidade concedida à sua obra e aceitam colaborar com a label, enquanto outros acreditam que o grande dia ainda está por chegar. Pergunto ao patrão se alguma vez foi ele a ser encontrado em vez do contrário, ao que responde: “Sim, isso aconteceu uma vez. Nesse caso os artistas estavam à procura de mordomias típicas das grandes editoras. Procurei tratá-los na palminhas, tanto quanto me foi possível, mas, no final, eles decidiram que a sua música era demasiado preciosa para ser escutada por outros ouvidos que não os deles”.



Felizmente não foi isso que se passou com Dwight Sykes e o seu 

Songs Volume One

 , lançado no ano passado, enquadra-se perfeitamente  na orientação da PPU, que nunca descarta um disco de óptimas canções, por mais reduzidos que sejam os seus meios de gravação ou desmedidamente excêntricas algumas das ideias exploradas. Será que vale a pena resistir às improváveis chicotadas de estática, de “The Good Times”, ou implicar com o som tosco, de “In the Life Zone”? Talvez não, já que, em geral,

 Songs Volume One 

possui muito mais virtudes do que defeitos. Além disso, as suas imperfeições servem para mostrar como Dwight Sykes é um bravo executante de canções funk e soul, mesmo sem dispor dos recursos supostamente ideais para materializá-las. 


Que patrão…


Com recursos de sonho 

Songs Volume One

 provavelmente não seria um disco tão genuíno e acolhedor. Andrew Morgan explica que, “se por acaso googlares o nome do Dwight Sykes, é provável que vás dar aos seus vídeos caseiros dos anos 80 e 90, no YouTube. O que ali tens são imagens dos seus familiares e amigos — alguns deles ainda vivos, outros já ausentes. Tudo aquilo é estritamente pessoal, mas disposto como um mundo aberto a todos. A sua música funciona de um modo igual: toca em segundo plano, enquanto ele te convida para te sentares no sofá e falar um pouco. Adoro o Dwight e orgulho-me bastante do trabalho que fizemos juntos”.





Não existe ainda um mapa para explorar os prazeres caseiros da PPU e todos os momentos são igualmente certos para espreitar Dwight Sykes, mas também este catálogo tem a compilação certa para apresentar os seus principais valores em formato de “quem é quem”. Tal como adianta o título, 

The Family Album 

consuma o retrato de uma família talvez demasiado disfuncional ou azarada para pisar os grandes palcos, embora totalmente fértil no que diz respeito a grandes malhas de funk e boogie. Aliás, a qualidade dos

 grooves

, que bombam em faixas como “Tasty Tune” (Minority Band) ou “Funky Beat” (Crunch), é de tal modo segura, que não nos acanharíamos de colocar 

The Family Album 

ao nível da banda-sonora de 

Boogie Nights 

(tremendo postal musical da década de 70). Até pela forma como Andrew Morgan descreve a sua criação, 

The Family Album 

parece um disco feito por pessoas para pessoas: “Tinha recebido montes de pedidos para fazer uma compilação em CD e procurava também qualquer coisa portátil para oferecer aos clientes. Não sou grande fã do formato CD, mas as pessoas ficaram satisfeitas.”





Por esta altura já entendemos que um dos propósitos da Peoples Potential Unlimited passa por tentar garantir que alguma da mais autêntica música popular possa realmente obter essa popularidade. Em praticamente todas as fotos que conhecemos de Uku Kuut, o produtor nascido na Rússia apresenta-se com as roupas mais vulgares e entretido num mar de teclados e sintetizadores (aparelhos da Casio, Roland, Korg). Só de olhar ninguém diria que ali está um criador de música de dança especialmente capaz de conjugar funk com os novos breaks da vaga de 80, tal como comprovam 

Visions of Estonia

 e 

Grand Hotel

, álbuns carregados de uma invejável inventividade. Durante a sua vida, Uku Kuut passou por Los Angeles, Estocolmo e outras tantas cidades. Residiu durante mais de 20 anos na Estónia e foi nesse país que acumulou a reputação necessária para, à boa maneira europeia, gravar umas quantas malhas de house acompanhado por vozes femininas (as de Maryn E. Coote e Diva Avari).





Resumindo então: por aqui tivemos um anfitrião funk, uma geração do boogie perdida e achada, o mais desejado produtor nómada da Estónia. O que mais pode acontecer a esta entrevista? Tento a minha sorte e procuro saber se Andrew Morgan consegue satisfazer a minha fantasia de encontrar uma maravilha que junte funk e dub. Pois claro que consegue: ““It’s No Lie”, do Jon Gorr. Ele foi um dos fundadores dos I-Tones, a grande banda reggae de New England formada pelo próprio (teclista), Tony Allen (baterista) e RAM (vocalista). A mesma banda gravou “It’s No Lie”, em 1983, para a Massmedia Records, num projecto paralelo. Nesse mesmo ano, os I-Tones conheceram uma enorme popularidade local e internacional com o sucesso da versão que gravaram de “Walk On By”, o conhecidíssimo standard de Bacharach e Dionne Warwick”. O impossível é possível na Peoples Potential Unlimited.

Resumindo então: por aqui tivemos um anfitrião funk, uma geração do boogie perdida e achada, o mais desejado produtor nómada da Estónia. O que mais pode acontecer a esta entrevista? Tento a minha sorte e procuro saber se Andrew Morgan consegue satisfazer a minha fantasia de encontrar uma maravilha que junte funk e dub. Pois claro que consegue: “

“It’s No Lie”, do Jon Gorr. Ele foi um dos fundadores dos I-Tones, a grande banda reggae de New England formada pelo próprio (teclista), Tony Allen (baterista) e RAM (vocalista). A mesma banda gravou “It’s No Lie”, em 1983, para a Massmedia Records, num projecto paralelo. Nesse mesmo ano, os I-Tones conheceram uma enorme popularidade local e internacional com o sucesso da versão que gravaram de “Walk On By”, o conhecidíssimo standard de Bacharach e Dionne Warwick”. O impossível é possível na Peoples Potential Unlimited.