Especialistas em negócios analisaram a apresentação do Fyre Festival

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE Austrália .

Ahh, o Fyre Festival. Um presente dos deuses que continua nos abençoando. Poderia ter sido apenas o pior festival de música da história, largando centenas de millennials ricos entre Miami e as Bahamas com nada pra fazer fora xingar muito no Twitter. O sonho caribenho febril de Ja Rule acabou rendendo um processo de $100 milhões. Depois a apresentação do festival para investidores vazou e, bom… é um negócio praticamente incompreensível. Depois de ler várias vezes, ainda estou perdida sobre o que o Fyre Festival estava realmente vendendo.

Mas claro, não tenho um MBA. Talvez o problema seja eu. O Fyre Festival pode ser o próximo unicórnio, um AirBnb esperando para acontecer. Para descobrir se estou perdendo a grande ideia da década, mandei a apresentação do festival para alguns especialistas em negócios — investidores, professores de administração e empreendedores de sucesso — para saber o ponto de vista deles. Minha principal pergunta: Se você lesse a apresentação logo antes do colapso do Fyre Festival, você teria investido ou teria fugido?

Fico realmente impressionado com como eles conseguiram envolver esses famosos do Instagram nesse festival de merda.

Eu queria tanto estar na reunião onde eles apresentaram isso. O modelo de negócios parece ser:
1. Ideia: vamos fazer a Experiência Cultural da Década
2. Pagar celebridades dos Instagram pra fazer a propaganda
3. Ja Rule
4. ????
5. Lucro

Alguns dos slides favoritos do George:

Texto motivacional sobre fotos de minas de biquíni: ótimo para ganhar likes no Instagram. Numa apresentação pedindo US$25 milhões de investimento: nem tanto.

Fico realmente impressionado com como eles conseguiram envolver esses famosos do Instagram nesse festival de merda.

Eles querem US$25 milhões. US$25 milhões sem literalmente nenhuma outra informação além de "para adquirir 500 gerentes". Qual a avaliação disso? Ou seja: que parte dessa maravilhosa empresa eu levo pelos meus US$25 milhões? Quais os ganhos projetados? Como eles vão ganhar esses lucros? Como você compra um gerente? Eles vendem gerentes por aí? Que tipo de retorno de capital esse gerente vai te dar?

É nesse slide que os investidores começam a prestar atenção, é aí que eles veem como conseguem o dinheiro, e quanto terão de retorno do investimento. No contexto de toda essa apresentação ridícula, esse é o slide mais besta.

Se eu estivesse pedindo dinheiro para investidores novatos que buscam status nas redes sociais, provavelmente essa seria a apresentação que eu passaria para eles! Se eu estivesse tentando conseguir dinheiro de investidores experientes, então eu entregaria uma apresentação bem mais realista, com detalhes operacionais concretos e muito mais números.

Qualquer investidor experiente tentaria ver os números dos riscos aqui. Pelo que vazou, parece que muito do foco [do projeto] estava no envolvimento de influencers [no festival], mas você pode comprar propaganda de influencer facilmente em lugares como o Tribe.
Nas últimas páginas da apresentação eles listam umas 15 pessoas — nenhuma delas parece ter experiência operacional. Isso seria um sinal vermelho logo de cara. Se estivesse vendo essa apresentação, eu perguntaria quem vai gerenciar os eventos no local e qual a experiência dele, porque qualquer um perceberia que levar milhares de pessoas para uma ilha tropical sem infraestrutura é bem complicado! A equipe do Fyre se concentrou muito no marketing e levantamento do dinheiro aqui, e parece que esqueceu todo o resto… e é nisso que uma coisa dessas termina. Um evento com um ótimo marketing que deu desastrosamente errado.

Você pode tentar se esconder atrás de jargões irritantes de startup e personalidades do Instagram, mas não pode se esconder atrás de números. Não há um problema definido, uma proposta de solução, um modelo de negócios ou tração. Não é estranho que a solução para o lucro de música gravada seja música ao vivo? Música ao vivo não resolve a monetização de conteúdo gravado. Além disso, Ja Rule é tão 2003, tipo quando o iPod ainda estava bombando.

O mais interessante nessa apresentação não é o que aparece, mas o que não aparece. Como a ficha criminal do Ja Rule… e seu histórico de evasão fiscal. Influencers com uma grande base de seguidores são ótimos para publicidade e exposição, mas você precisa de mais que uma vitrine para gerenciar um evento ou um negócio de sucesso. Uma apresentação bem-feita é uma coisa, mas diligência com prazos, verificação de antecedentes e realidade são outra.

O Fyre não foi a primeira empresa a maquiar sua apresentação, mas esse é um bom lembrete para qualquer negócio da importância da transparência e honestidade em comunicação. Da perspectiva de gerenciamento de crise e comunicação, fica claro que o Fyre tinha feito pouco para se preparar, talvez porque não tinham planejado nada mesmo. Um dano de reputação desses para qualquer marca é quase impossível de contornar.

Tem muita coisa para gostar nessa ideia, e uma apresentação dessas de um dos nossos estudantes na Queensland teria uma boa nota. Primeiro, a ideia de realizar o maior festival de música do mundo é inovadora. Isso atrairia a atenção dos investidores (quem não ia gostar de dizer aos amigos que investiu no maior festival de música do mundo?). Segundo, o design da apresentação é atraente — ele traz uma mensagem poderosa por meio de imagens e textos que se intercalam. Terceiro, a equipe demonstrou uma grande tração com mais de 300 milhões de impressões nas redes sociais.

Até aí, tudo ótimo! Onde o Fyre errou? O problema é que o Fyre muda a ideia da apresentação no meio. O que começa como uma plataforma de contratação direta de artistas vira um festival de música. São duas coisas com modelos de negócio diferentes e exigem especialidades diferentes para estabelecer e executar.

Cada coisa tem um público-alvo diferente, e exige modelos de renda diferentes para pagar os investidores. Acho que a pergunta que faríamos para nossos estudantes seria: como o conhecimento em redes sociais se traduz para conhecimento em montar um festival de música?

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É isso. Parece que Billy McFarland e Ja Rule passariam no primeiro semestre de administração, mas bombariam em todos os outros quesitos de avaliação. O festival parecia um gigantesco e dispendioso exercício de marketing para um aplicativo de contratação de artistas e, sendo justos, esses "Fyre Starters" ajudaram mesmo o festival a se vender.

Não se esqueça que aqueles milhares de millennials putos da vida, que o Fyre deixou num tipo de mashup Spring Breakers – Jogos Vorazes, eram clientes pagantes (que já podem ir comprando ingressos para o festival do ano que vem!). Então até logo, Fyre Festival. Parece que ainda vamos ter notícias suas. Em nome de toda internet: estamos ansiosos pra ver o que vocês estão preparando para o ano que vem.

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Tradução: Marina Schnoor

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