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Música

O Thiago Elñino homenageia Malcolm X no clipe de "Ubuntu"

No dia do aniversário de morte de um dos líderes do movimento por direitos civis, rapper discute o amor enquanto redescoberta da cultura negra.

Foto: Bruno Filipi/Divulgação.

Há exatos 52 anos, um dos principais líderes do movimento por direitos civis dos negros estadunidenses, Malcolm X, era assassinado. O Thiago Elñino, que recentemente lançou seu primeiro álbum Rotina do Pombo, resolveu prestar uma homenagem ao Al Hajj Malik Al-Shabazz nesta terça-feira (21), em razão de sua morte. Para isso, se juntou ao diretor Rafael de Toledo e gravou o clipe de "Ubuntu" que você confere com exclusividade no Noisey.

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A ideia, conta Thiago, nasceu da cabeça do diretor, que foi bem aberto quando Thiago sugeriu prestar homenagem a vários outros negros. "O Rafael de Toledo chegou para mim em uma onda meio Fahrenheit 451. Nesse caso seria alguns pretos em uma onda Black Panthers buscando um tesouro escondido e proibido à população preta que seria sua história e seus valores culturais. No processo, me veio a ideia de homenagear alguns ícones pretos e o Rafael foi muito generoso ao incluir a ideia no que ele já tinha pensado."

Malcolm X é referência para a maioria dos negros no mundo, tanto que o Kendrick Lamar já falou sobre a importância da autobiografia dele para sua vida. Para o Thiago, isso não é diferente e tem a ver principalmente com amor. "Eu acredito que o amor é um sentimento indispensável para uma saúde social plena no universo, mas com o tempo a gente foi sendo enganado, principalmente pela indústria pop, de que o amor é um sentimento fofinho cantado nas músicas sobre relações afetivas entre homem e mulher. Para mim o amor não é isso. O amor é algo que se coloca na forma de uma inteligência que te faz enxergar e respeitar a si próprio no outro, logo o amor pode ser algo agressivo e violento quando se trata de proteger as ideias que você acredita. Malcolm é para mim a representação disso, um amor tão forte por si e pelo seu povo que o coloca como alguém que de forma justa faria o necessário para protegê-lo. É um modelo de conduta social e de coerência entre fala e ação que tenho como referência para mim", diz.

No Brasil existe um mito muito forte: o da igualdade racial. Para muita gente, o racismo não existe em terras tupiniquins por causa da miscigenação dos povos. Uma mentira, claro, que ainda piora a situação, explica Thiago. "No Brasil, por exemplo, esse mito da igualdade racial nos tornou extremamente passivos apesar das referências de luta fantásticas que temos. Aqui, nós além de batermos palmas e protegermos o opressor, por vezes queremos ser como é parte deles. Uma merda!"

"Ubuntu" é a oitava faixa do A Rotina do Pombo, e conta o encontro com um Preto Velho que fala sobre retomada de força e identidade, o que fica claro no vídeo quando vemos o pessoal desenterrando um monte de livro e disco. Aí fica uma metáfora: a do negro redescobrindo seu orgulho e sua cultura. Se muitos podem dizer que isso é exagero, já que a internet tá aí, o Thiago fala sobre a relação do negro e da tecnologia. "Isso se dá de forma muito mais lenta do que a do homem branco pela questão econômica e grupo social. Como nós pretos demoramos a ter acesso, por exemplo, à internet de banda larga de qualidade, demorou muito para que nós aprendêssemos a utilizar a rede de forma mais eficiente, e acho que isso tem se dado e contribuído para que estejamos conseguindo atingir de forma mais direta vários irmãos que não tinham tido acesso a força da nossa cultura. Ainda é difícil, mas nós estamos aprendendo e fazendo o melhor que podemos, e o resultado tem sido bonito."

Assista ao clipe de "Ubuntu" abaixo.