Tecnologia

O plano aterrorizante do Pentágono de criar supersoldados ciborgues

O exército americano quer soldados que tenham visão sobre-humana, músculos aumentados controláveis que vão transformar novatos destreinados em assassinos especialistas, e mais.
Here's the Pentagon's Terrifying Plan for Cyborg Supersoldiers
Imagem: Getty.

Aprimoramentos cibernéticos que fundem humanos e máquinas estão chegando, e o exército americano quer estar preparado pra isso.

Um novo relatório do Centro Químico e Biológico de Desenvolvimento de Capacidades de Combate do exército dos EUA – uma divisão científica do exército americano que foca em armas biológicas e químicas – detalha como o campo da cibernética estar em 2050. O relatório, intitulado Soldados Ciborgues 205: Fusão Humano/Máquina e as Implicações para o Futuro do Departamento de Defesa, parece mais um romance distópico passado num futuro próximo, com soldados feridos são melhorados ciberneticamente, mas voltam para um EUA aterrorizado por ciborgues.

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“O principal objetivo desse esforço era determinar o potencial de máquinas que são fisicamente integradas no corpo humano para aumentar e melhorar a performance de seres humanos nos próximos 30 anos”, disseram os pesquisadores.

O estudo identificou a percepção pobre do público como sendo uma barreira para a adoção em massa da cibernética. Exterminador do Futuro 2 aparentemente nos envenenou contra robôs assassinos, para o desgosto dos militares.

“Na mídia, literatura e cinema popular, o uso de máquinas para aumentar a condição da espécie humana recebeu uma narrativa distorcida e distópica em nome do entretenimento”, diz o estudo. “Líderes de defesa devem entender que essas percepções públicas e sociais negativas precisarão ser superadas, se essas tecnologias serão implementadas.”

Aprimoramento cibernético é tecnologia de ponta, e é difícil prever pra onde isso vai nas próximas três décadas. Os pesquisadores do Pentágono focaram em quatro áreas prováveis de melhoria: supervisão, audição aumentada, músculos aumentados e “aumento neural direto do cérebro humano para transferência de dados de duas mãos”.

Veja como o Predador

O Pentágono prevê um mundo onde soldados melhorados têm olhos ciberneticamente modificados para permitir que eles vejam o campo de batalha em diferentes comprimentos de ondas, e identifiquem alvos em “ambientes urbanos densos ou megacidades subterrâneas que vão desafiar a identificação e rastreamento de alvos”, ele disseram.

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Os pesquisadores mencionaram o que se tornou um tema perturbador do estudo – muitas dessas melhorias só poderão ocorrer depois que um soldado for ferido. Quando trabalhando numa área delicada como os olhos, ferimentos podem ser o único caminho para convencer um soldado a receber uma cirurgia do tipo, apontou o estudo.

“Melhoria ocular pode ser uma opção médica atraente em situações onde os tecidos dos olhos foram prejudicados ou destruídos por ferimento ou doença”, disseram os pesquisadores. “De fato é improvável que indivíduos estejam dispostos a passar pela remoção de tecido saudável numa área considerada tão sensível. Mas o papel central e crítico que a visão tem na sociedade provavelmente vai motivar combatentes que perderam parte ou toda a visão a passar voluntariamente por cirurgia para restaurar ou até melhorar sua habilidade de ver.”

Músculos controlados por luz

Essa tendência de consertar soldados feridos com cibernética continua com sistemas de controle osteomusculares optogenéticos. “O uso mais provável seria a restauração de funções perdidas devido a ferimentos nos músculos ou nervos”, diz o estudo. “Ferimentos osteomusculares são a segunda principal causa de perda de tempo de serviço nas Forças Armadas dos EUA.”

Para aprimorar músculos, o Pentágono melhoraria tecido fraco com “uma rede de sensores implantados sob a pele que entregam estímulo optogenético através de pulsos programados de luz”, disseram os pesquisadores. Optogenéticos estimulam tecido muscular, ou até neurônios, com luz em vez de eletricidade.

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“O controlador optogenético tomaria o controle dos movimentos dos membros de um combatente, permitindo assim que um novato realize funções profissionalmente.”

“O corpo humano teria uma variedade de sensores ópticos implantados sob a pele nas áreas do corpo que precisam ser controladas. Esses sensores poderiam se manifestar como fios óticos finos que são colocados em intervalos regulares de músculos críticos e feixes de nervos, e são ligados a uma área de controle central pensada para estimular cada nódulo apenas quando o músculo acima é necessário.”

Segundo o estudo, isso poderia permitir que soldados feridos retornassem para a batalha com músculos cibernéticos que operam melhor do que sua carne. Isso também poderia permitir que eles controlassem ferramentas externas como drones e sistemas de armas que não estão diretamente ligados ao corpo. Ou deixar outra pessoa controlá-lo remotamente.

“O controlador optogenético tomaria controle dos movimentos dos membros de um combatente, permitindo assim que um novato realize funções profissionalmente.”

Você pode ouvir uma agulha cair

Ouvidos cibernéticos melhorariam a percepção e permitiriam aos soldados acessar novas habilidades, segundo o Pentágono.

O estudo imagina que avanços futuros não vão apenas melhorar a audição das pessoas, mas também permitir “conversão e transmissão desses sinais para outros a certas distâncias”. Em outras palavras, as pessoas poderiam usar ouvidos cibernéticos para acessar uma rede de vozes e comunicação só perceptível para elas. É como implantar um celular dentro do seu ouvido, com tradução em tempo real para línguas estrangeiras.

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Perda de audição é um grande problema no exército americano e, por essa razão, os pesquisadores acreditam que convencer os soldados a passar por melhorias de audição seria mais fácil que nos olhos e músculos. No entanto, os pesquisadores sentiram que fazer upgrade dos ouvidos é mais invasivo e menos reversível que outras tecnologias, então recomendam que o Pentágono busque abordagens menos invasivas. “Eletrodos com interface direta com caminhos neurais podem ser implantados com procedimentos cirúrgicos menores e podem ser removidos com efeitos colaterais mínimos”, eles disseram.

Se conectando

Mas a menina dos olhos das melhorias cibernéticas é interface direta entre o cérebro humano e máquinas. A Agência de Pesquisa de Projetos Avançados de Defesa (DARPA) vem trabalhando nessa tecnologia há anos. Eles já testaram com sucesso “chips de memória prostéticos”. Até o Elon Musk está trabalhando em implantes neurais com o objetivo de “alcançar simbiose com inteligência artificial”.

O estudo do Pentágono sugere um futuro em que humanos com implantes neurais se conectam a uma matriz que permita a eles controlar máquinas, ter máquinas os controlando e um controlado o outro. “A melhoria não implicaria simplesmente o usuário controlar equipamento (cérebro para máquina) mas também transmitir para um operador (máquina para o cérebro) e humano para humano (dinâmicas de comando e controle) para melhorar a consciência situacional com drones, computação analítica e informação humana retransmitida para o operador”, diz o estudo.

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Soldados ciberneticamente melhorados poderiam controlar drones e sistemas de armas complicados remotamente com o poder da mente. O problema é que, diferente de algumas das outras tecnologias discutidas, provavelmente não haverá um jeito não invasivo de alcançar a simbiose entre soldado e máquina.

Por causa disso, os pesquisadores sugerem que links neurais sejam restritos para uma classe de soldados de elite, como os SEALs da marinha, que podem ser receptivos “se podem ter melhoras significativas de capacidade, letalidade, sobrevivência e superioridade geral no campo de batalha”, eles disseram.

Consequências inesperadas

Mais assustador que a percepção negativa do público com ciborgues, que o relatório aborda, é a suposição correta do Pentágono de que a adoção da tecnologia ultrapassou o enquadramento legal e ético que governa a sociedade. Quando um humano funde a uma máquina, as leis da guerra devem considerar isso uma pessoa ou um equipamento?

“Se um combatente melhorado é capturado, ele tem a mesma proteção sob a Convenção de Genebra, e seu status aumentado altera o tratamento que ele provavelmente receberá?”, perguntam os pesquisadores.

Também há questões básicas de segurança nacional. Ciborgues podem ser hackeados? Que tipo de criptografia deveria ser usada e isso será suficiente? Um soldado voltando da guerra tem que entregar suas melhorias? É ético remover músculos aumentados que permitem que um soldado ferido ande de novo? Quais serão os efeitos de curto e longo prazo de saúde dessas tecnologias? As coortes militares devem ser integradas com soldados ciborgues ou eles precisam ter suas próprias unidades?

O Pentágono não sabe. Ninguém sabe. Tudo que sabemos é que essas melhorias, em alguma forma, estão chegando. Elas podem não parecer exatamente com o que o Pentágono previu, mas pessoas poderosas querem que elas aconteçam. O exército americano quer que elas aconteçam. A verdade triste é que a maioria dessas considerações morais, éticas e legais provavelmente serão definidas depois do fato.

“Tem tanto no mundo hoje que pareceria ficção científica trinta anos atrás, seja um computador na sua mão onde você pode buscar toda a informação do mundo até um presidente dos EUA usando o mesmo computador para publicar desinformação governamental”, Peter W. Singer – estrategista de guerra futura, membro da New America, e autor do livro ainda não lançado Burn-In: A Novel of the Real Robotic Revolution – disse a Motherboard por e-mail. “Então mesmo que nem tudo que o relatório do exército previu para uma futura fusão de homem-máquina em 2050 se torne realidade, não devemos ficar chocado que algumas partes se tornem.”

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