O rapaz por trás da “Pepeca do Mal” é um bom moço: entrevistamos o MC Livinho
Foto: Felipe Larozza

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Noisey

O rapaz por trás da “Pepeca do Mal” é um bom moço: entrevistamos o MC Livinho

O funkeiro meninão disse que não curte xana peluda, e explicou qual é a verdadeira pepeca do mal.

Por mais que as expectativas apontem o contrário, o MC Livinho é um moço para ser apresentado para os seus pais. Com apenas 19 anos, Livinho já conta com uma legião de fãs que lotam seus shows proferindo gritos ensurdecedores dignos da última boy band do momento e rendem mais de 4 mil curtidas em média a cada selfie postada pelo cantor.

Por aqui, na tão amada e tão odiada redação do conglomerado VICE, o hit "Pepeca do Mal" foi febre por algumas semanas e até inspirou o nome do meu tumblr. Depois de tudo isso, não tinha como não chegar no rapaz.

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Dono de versos que grudam na sua cabeça que nem ideia errada (como "já que não quer dar o cuzinho então desliza no bilau" ou "sarra na pica ai vai menina, vou te tacar um piru"), Livinho é afinado e mostra muita disposição e imaginação para contar uma boa putaria com estilo nos bailes funk. Essa facilidade para compor hits não é sorte: Livinho estudou música e toca violino desde 2003.

Tímido, no começo o MC se mostrou um pouco sem graça com minhas perguntas escabrosas. Mas logo ele foi se soltando e tudo acabou em um ótimo papo sobre pepecas e sobre como não é fácil querer se destacar no funk numa época em que a quantidade de MCs no palco parece maior do que a de solteiros na balada.

Conversei com ele numa produtora de eventos na Zona Norte de São Paulo e tive a impressão de que ele parece um Justin Bieber do funk paulistano. Só que o Justin Bieber nunca teria a proeza de compor uma música reclamando da falta de sexo anal e sacar um assobio grudento no meio da faixa. Com vocês, MC Livinho:

Noisey: Você é de onde?
MC Livinho: Zona Norte de São Paulo, Pedra Branca, Jardim Peri.

Desde quando você faz funk?
Desde os 14 anos, eu comecei fazendo umas rimas da rua, mas comecei a levar a sério com uns 15, 16…

Quem te incentivou a começar?
Tinha uns parceiros na escola. Eu tinha até um estilo meio diferenciado do funk, cabelo grande, curtia uma praia também. Eu era meio caiçara, via mais a praia do que a cidade. Meu pai também tinha umas lotações por lá. Aí na escola os caras me pediam para fazer umas rimas brincando. Me falavam "pô, você tem talento". Tinha até uns caras que curtiam um funk, tentavam rimar, mas não rolava. Aí eu chegava lá, desenrolava uns temas diferentes. Os caras falavam "nada ver esse cabelo aí, mas pelo menos você sabe se impor". Aí comecei a levar como esporte, como uma brincadeira, não sabia que um dia eu iria ingressar nisso.

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Quando foi seu primeiro show?
Meu primeiro show foi acho que em 2010, 2011.

Você fez sozinho?
Não, fui com um conhecido meu para cantar no palco. Eu não tinha noção nenhuma, só sabia que era subir no palco e tentar desenvolver para ver o que ia dar.

Você escreve todas as suas letras?
Sim, todas.

E você também toca violino, né? Quando você começou a tocar?
Nossa, toco desde 2003. Tocava na igreja e foi tudo muito rápido. Sempre tive uma fácil assimilação com as coisas, autodidata mesmo. Fazia tudo certinho, desenvolvi bem enquanto estava na igreja. Fui tocando e tocando e me apresentei como músico em 2008, mas eu era muito pervertido, doido, e fazia muita bagunça na igreja. Então eles não queriam me colocar para tocar. A previsão era para eu aprender em 2003 e em 2005 começar a me apresentar. Mas assim que comecei em 2003 já estava pronto para tocar, só que eles me seguraram um tempo para me apresentar. Quando me apresentei em 2008 já estava tocando com uma boa noção de orquestra e nota.

Você toca violino no show?
No show ainda não porque eu não consegui conciliar isso com funk, né? Vou esperar o momento certo para isso. Se pá até vou colocar no DVD, modificando um pouco, entrando tocando violino…

De onde que vem tanta inspiração para escrever música de putaria?
É que a gente não faz música tipo "ah, vou pegar essa visão aqui". São os momentos que estou sentado, tipo conversando com você, escutando algum ritmo ou até mesmo um toque do celular. Aí faz um toque "tâ nam na nããã" [canta] e em cima disso já penso em uma letra. Tava escutando uma música do Racionais MC's, "Jesus Chorou", e aí coloquei lá para escutar a música e apareceu o comercial da Gatorade [que tem a música da Disney]. Na hora já pensei numa letra "sarra na pica, ai vai menina, vou te tacar um…". Aí com isso já pensei numa letra. Nem escutei mais a música que eu queria, comecei a pesquisar, pesquisar, achei o som e comecei a buscar o que eu ia fazer na música em diante. Entreguei o projeto pronto na mão do DJ já falando "é isso e olha a letra, vai ser pesado, vai estourar". Até uns canais do Kondzilla postaram essa música lá.

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Sim, o Não Salvo postou também né?
Sim, o Não Salvo, o Mítico Jovem. O Mítico Jovem é muito fã meu, ele grava os vídeos dele com a minha música.

E você sabe que esse som é da Disney?
É sim, da Cinderela. Na hora que ela está se transformando.

Traumatizando infâncias por aí…
É.

Agora falando sobre o som "Pepeca do Mal". O editor da VICE mandou para a gente e quando vi fiquei a semana inteira curtindo o som, achei fera demais. Queria saber se alguma menina te inspirou a fazer esse som.
É, tá rolando uns papos assim, né?! Mas eu estava deitado na cama, assistindo Sobrenatural no Megaséries na internet. Aí tava nos 40 minutos do episódio; eu peguei, levantei e comecei a pensar… Eu tava muito "nossa, preciso fazer música, preciso fazer música". Eu ficava muito a milhão, vinha muitas ideias na mente e eu apurava muito antes de falar "essa vai". Aí eu pensei em começar a fazer um ritmo que vem devargarzinho, pará e pá. Aí eu comecei [cantando]: "Láá veeeeeeem, ela…". Na parte do "ela", pensei "corrigir meu bilau", achei que isso daria um choque no público, no pessoal do baile. O "bilau" é uma palavra que muitas pessoas usam de uma maneira óbvia e acabam não modificando o funk, aí tentei entrar nisso e fiz bastante música com um estilo até mais poético, e não mais putaria. A minha intenção com "corrigir o meu bilau" era como se fosse uma coisa infantil.

Você chegou a estudar música?
Estudei um pouco. A música em si é o mais importante. No meu ponto de vista, baseado no que aprendi, a música se divide em três partes: melodia, harmonia e ritmo. Isso se coloca na música para ficar diferente e não ficar aquela coisa reta e batida. Ou vem reta e depois vem a melodia, ou vem a melodia e depois vem algo mais reto.

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E a ideia do assobio foi sua?
Foi sim, eu tava conversando com o Perera, que produz todas as minhas músicas, e falei "meu, a gente tem que pensar num ponto" e ele falou para colocar um cavaco. Falei "o cavaco vai ficar louco" ai ele me falou para pensar em uma coisa diferente. Aí no mesmo segundo comecei a assobiar e ele me falou "por que não colocar um assobio?". Rolou na hora. [Começa a assobiar] Ele colocou o cavaquinho junto com o assobio e foi. Quando lançou já estava estourando nas quebradas.

Pelo que percebi quando vi seus vídeos no Instagram, muita mina pira demais no seu som e nas suas letras. Você acha isso legal, das minas curtirem?
É, eu tento não atacar tanto assim. As pessoas costumam julgar muito o funk por ser explícito, mas acho que tem que ser assim mesmo porque o pagode, sertanejo e todos esses ritmos de músicas não são explícitos, eles dão a entender tipo "vou te levar na minha humilde residência pra gente fazer amor". Mas amor significa o que? Transar! Fala transar logo, mano. Pra quê ficar naquilo sendo que todo mundo já sabe? As crianças de hoje já têm noção do que é certo e errado. Você não vai falar para criança usar droga, mas às vezes ela tem uma estrutura familiar que ela é levada a fazer isso. Mesmo você dando um conselho ainda ela erra. Então não tem por que a gente falar "não, vou ser diferente, vou fazer isso aqui", não adianta falar uma coisa que a gente quer ou cantar uma coisa que eu quero e esperar que vocês vão gostar. Você tem que fazer o que o público quer, mesmo que às vezes não seja tão prazeroso para você. Eu quero seguir o funk nesse gênero e nessa fita. É assim que eu me identifiquei e assim que eu consegui. Às vezes até as meninas pensam "nossa, ele nem deve estar aí paras as meninas", mas eu penso, faço letra consciente também. Não tem essa de funk ostentação, funk não sei o que, o funk é um só. Assim como o pagode canta melodicamente, assim como tem pagode que fala de traição, tem pagode que fala de reconciliação, não deixa de ser a mesma coisa. O funk é assim, é um só.

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Gostaria de saber a sua opinião, pepeca depilada ou peluda?
Pepeca depilada, cé é louco. Peguei uma pepeca peluda esses dias que pelo amor de Deus.

Pô, mas nem uma pistinha de avião de boa?
Não, pistinha de avião até que vai porque você percebe que a mina cuidou, raspou os cantos, deixou aquele moicano. Mas cê é louco, esses dias aí abandonei na hora.

Mas uma pepeca do mal é depilada ou peluda?
É uma depilada. É a pepeca do mal que não deixa anal, ela é má e não quer dividir. Só vai me deixar na vontade.

A gente descobriu outro dia na internet que existe um lubrificante que é feito de maconha, deixando a pepeca louca ao entrar em contato com ela. Você chaparia uma pepeca com esse lubrificante?
Lógico, pesado.

Dá pra chapar uma pepeca com lança perfume?
Dá sim, mas só dá pra chapar a pepeca em cima, porque embaixo…

O que você acha desses caras que compartilham vídeo das minas peladas sem autorização?
Acho ridículo. Vou falar uma coisa para você, tenho milhares de vídeos no meu celular. É meu fetiche, é eu e a mina. Agora, acho deselegante uma pessoa estar naquele momento íntimo, deu umas ideias na mina e ela gostou, se entregou, confiou em mim. Ela criou um vínculo com você naquela situação que só você sabe. É da hora um olhar para o outro e se identificar por causa daquela situação. Agora, você vai lá e posta o vídeo pra quê? Para bater no peito e falar que é mais homem? Ridículo.

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E você dá bronca nos seus amigos que fazem isso?
Ainda bem que os moleque que colam comigo não têm essa convicção. Se tiverem eu esculacho na hora. Acho zoado. Não é que a gente canta funk que temos que esculachar as minas. Se ela é piranha o problema é dela, deixa ela ser piranha. Bom pra ela. São elas que fazem nosso mundo ser mais feliz.

Qual que é o seu aroma de lança favorito?
Então, eu não uso drogas. O que eu gostei mesmo foi da música "Lança de Maracujá", é tipo uma criação mesmo. Não tem lança de uva, nem nada. É mais para rimar.

Você não usa nenhuma droga?
Não, por causa da voz, sou muito cuidadoso com a voz.

Então você cola no show, toma uma água…
A única coisa que eu quero no show é minha água sem gelo. Pode ser uma garrafinha só, sem gelo e no meu camarim. Eu vou comendo no meu carro, faço aquecimento de voz, diafragma e tal aí eu só chego lá. Fico sem comer umas quatro horas antes do show, para que na hora que eu chegar lá estar com a barriga bem flácida para encher bastante o diafragma e o pulmão. Aí depois que eu termino, como.

Quantos shows você chega a fazer por noite?
Para você ter uma ideia, sábado eu fiz oito.

Foi tudo em São Paulo?
Foram quatro matinês à tarde, quatro bailes à noite.

Chega, canta e vaza.
Muito rápido. Tipo, chega enquanto estão montando o microfone. E já cansei de perder voz no microfone. Você chega lá, não tem retorno, o som é todo ruim e você acaba não tendo um bom desenvolvimento com o público. O público que ouviu sua voz na internet espera que seja a mesma cosia no show. Se você chega no show e sua voz não é igual ao que tá na internet, esquece. O pessoal vira as costas, taca coisas, entendeu? Eu tento o máximo possível não desafinar no show. O que importa é ao vivo mesmo. Tanto que comecei a ganhar bastante público ao vivo, as pessoas podem não me conhecer na internet mas já viram um show meu. Quem não é visto não é lembrado.

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Como é a sua relação com os fãs?
Eu tento dar o máximo de atenção para eles, porque são eles que colocam a gente aqui. São eles que vão curtir nossos shows, são eles que vão comprar nosso CD, que vão divulgar nossas músicas. E não é só por isso também, é pelo sentimento. Quando a pessoa está ali é porque ela gosta, admira seu talento. Porque é isso que acontece bastante, eu consigo conciliar minha música, minha voz e minha imagem e consigo agradar o público. Às vezes rolam umas coisas, tipo o que tem acontecido ultimamente quando um fã, digo, uma farsa inventa palavras, coloca palavras na minha boca, fala que eu tô ficando com alguém.

Tem fãs e minas que tem vontade de me dar. Elas se aproximam de mim só para me dar, tá ligado? Tem minas que se aproximam de mim só para tirar uma foto, me dar presente….Aí eu sei dividir. Mas tem umas que se aproximam só para dar e ganhar ibope. Isso não tem conselho comigo não.

Você tá namorando?
Não, solteiro. Céloko. Nunca namorei, mas quando fui tentar ter uma coisa a mina era muito chata e até hoje me perturba nos bailes.

Você já chegou a fazer alguma coisa para o rolê ostentação?
Já sim, tenho letra na internet até hoje. É uma realidade ostentação, de carro, luxo, agradar as mulheres, mas desiludir também. É o que hoje chamam de DJC.

Desculpa, o que é DJC?
Don Juan Cafajeste. É tipo um cara que ilude as mulheres, mas ao mesmo tempo ele fala do rolê ostentação, dinheiro e tudo mais.

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Você acha da hora?
Ah, é uma levada diferente, né? Nem tudo que a gente canta na música é o que é, entendeu? Às vezes a pessoa gosta da música, mas não precisa se identificar com a letra. Hoje todo mundo é inteligente. Antigamente tinha um MC que soltava um som e todo mundo achava foda. Hoje, tem disso pra caramba. Se você chega no baile funk e fala "levanta a mão quem tá solteiro!" Aí poucos levantam. Quando você fala "levanta a mão quem é MC!" Todo mundo levanta.

É, tem que dar um jeito de se destacar na internet. Deve ser foda.
É, foi isso que eu fiz. Eu tinha lançado uma música no ano passado, foi a "Mulher Kama Sutra" e ela estourou só esse ano. Aí veio o Pedrinho, meu filhote, que não tinha noção nenhuma e levei ele pro baile comigo, dar uns conselhos e hoje tá aí.

E o clipe da "Mulher Kama Sutra"? Foi você que teve a ideia?
Foi tudo junto, eles passaram a visão e eu pensei nas imitações que tem no clipe.

Tem algum outro clipe que vocês estão pensando em soltar?
Estamos em dúvida ainda, porque tem "A Bela Rosa" que é tipo uma levada romântica no começo e depois vem uma paulada. Começa com um violão e aí depois vem a putaria. Aí a gente tava pensando nessa, mas fazer uma versão light. Mas também estava pensando em fazer primeiro a "Picada Fatal".

Qual que mais estourou? Foi "Pepeca do Mal", "Picada Fatal", "Mulher Kama Sutra"?
Aí tá difícil escolher. A que mostrou o Livinho foi a "Pepeca do Mal", que quando começou a lançar eu saía pros bailes e não cantava ela logo de uma vez. Eu deixava pra cantar lá na sétima música, as vezes o público cantava a música, mas não sabia que ela era minha. Quando rolava tudo mundo ficava, "ahhh, é ele quem canta Pepeca do Mal".

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O que você gosta de escutar?
Eu gosto de Racionais, Sabotage, Facção Central, Trilha Sonora do Gueto, gosto bastante de rap e black. 50 Cent, Ja Rule, Justin Timberlake. Tupac também, Snoop Dogg, Fat Joe. Só os fera. Também entro na MPB. Eu fui criado numa cultura em que minha mãe gosta muito de Maria Gadú, Ana Carolina, Chico Buarque, Djavan. Eu escolho para me diferenciar no funk, não vou escutar só funk para escrever funk. Tanto que minha cultura já foi outra, já vim de igreja, sou músico, entendeu? Então busco outras origens para compor e ter umas ideias.

Você é religioso?
Sou bastante.

Sua famila é evangélica, né? E o que eles acharam de você começar cantar funk?
Iiiiih [risos]. Hoje a família tá segurando a boca, porque eles não acreditavam que ia dar certo. Eu morava com os meus pais em Várzea Paulista e por não ter recursos lá, vim para São Paulo morar com a minha avó. Conheci o Pereira, levava para ele as músicas e foi melhorando minha situação, só que sem o apoio nenhum da minha família.

Quando era mais novo, um dia pedi "pai, quero um boné de 150 reais" e ele me respondeu "então você vai acordar cedo, arrumar um emprego e vai comprar esse boné de 150 reais para você descobrir o quanto que é caro no final do mês". O primeiro emprego foi quando eu ainda morava com os meus pais, vendia uns cartãozinhos de Natal que tocava uma musiquinha. Meu pai dava para eu vender na rua. Foi assim que eu fui conhecendo a rua: vendendo cartão, eu batia em porta em porta para vender. Aí depois minha mãe começou a fazer sabão decorado para colocar na gaveta, ela desenhava muito bem e eu saia vendendo. Aí depois meu pai tinha uma lojinha aqui na comunidade, meu pai pegava pão doce e levava para loja. Depois fui trabalhar como ajudante de pedreiro, trabalhei na mecânica hidráulica. Trabalhei o mês todo, ganhei 150 reais no mês todo. Aí eu cheguei na frente da loja, olhei pro dinheiro e olhei pro boné, lembrei os dias que trabalhei, mas como eu já tava lá, comprei o boné e fui pra casa.

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Cheguei e pedi pro meu pai fazer um café e ele me disse "o café tá na sua cabeça. Você tinha 150 reais para comprar as coisas então porque você só comprou um boné?". Eu fiquei arrependido, mas ele falou brincando para eu ter noção, né? Pai é pai. Ele me explicou que eu precisava entender o que eu queria. Ou eu juntava dinheiro para me sustentar ou eu juntava para comprar boné.

Vim para são Paulo com 14, 15 anos e comecei a trabalhar em uma lan house. Minha avó já me falou que eu não ia ficar na casa dela por muito tempo e que eu já tinha que arrumar um lugar para morar. Falei que não via nenhum desenvolvimento onde eu tava, que eu queria cantar funk. Ali ouvi um "você é louco? Vai cantar funk? Se for para cantar funk você nem entra".

Comecei a correr atrás, escrever letras. Às vezes quando você sai de casa com a sua família te apoiando, te prepara para você aguentar a escutar as coisas que rolam aqui fora. Era difícil, eu saía de casa, era esculachado na rua e voltava em casa e era esculachado também. Uma vez minha vó tacou água na minha cara para me acordar falando que eu nunca ia ser MC e eu só falei "vó, fica em paz que um dia você vai entrar nesse quarto e me falar 'quem diria, hein?'".

Ela me deu seis meses para arrumar um emprego, senão eu ia voltar para Várzea Grande. Arrumei um emprego de garçom na Água Branca e comecei a escrever umas letras. Foi passando os anos e consegui soltar "Kama Sutra" no ano passado. Tocou na Zona Norte inteira, depois foi pra Zona Sul. Veio o Pedrinho e explodiu. Vim com "Pepeca do Mal" e estourou tudo.

Agora já consigo viver do funk. Graça a Deus já tô tranquilo. Podia jogar isso na cara dela, esculachar, mas não quero fazer isso não. Ela nunca me apoiou no funk, mas nunca me deixou faltar um prato de comida, uma passagem de ônibus, sempre esteve do meu lado.

Você já tocou fora de São Paulo?
Eu tava em Brasília semana retrasada. Brasília, Goiânia e Goiás, fiz uma turnezinha lá e agora no mês que vem vou para Porto Alegre.

Valeu MC Livinho!

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