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Música

Música: John Frusciante

Qualquer uma destas faixas não teria qualquer hipótese de rodar em 99 por cento das rádios.

PBX Funicular Intaglio Zone
AWDR/LR2
8/10 Há quem o faça como manobra publicitária, ou para alimentar o mito, mas diríamos que John Frusciante desapareceu do mundo em geral só mesmo por opção artística. Se até aqui eram muitos os discos em que o ex-guitarrista dos Chili Peppers parecia desalinhado face às tendências (The Empyrean tem uma espiritualidade estranhíssima), 2012 trouxe dois lançamentos de ruptura definitiva com quase toda a música popular: o primeiro foi o EP Letur-Lefr, o segundo é este álbum com o incompreensível título PBX Funicular Intaglio Zone. Se o título é capaz de baralhar as ideias, o conteúdo do disco consegue muito mais: John Frusciante diz que faz synth-pop progressiva, e essa é uma descrição adequada, mas não revela muito sobre toda a obsessão pelos híper-ritmos do breakcore, que dominam PBX. Sabemos que Frusciante colaborou, nos Speed Dealer Moms, com Aaron Funk, mestre diabólico do breakcore, e isso pode explicar uma parte do que aqui vai. De resto, PBX explora  o aprisionamento mórbido, que podia ser o de Gaspar Noé, no Irreversível, como se isso fosse uma condição necessária para ouvir um disco de Frusciante. “Se decidiste vir por aqui, agora aguenta-te.” Não se chega a escutar um extintor a esmagar uma cabeça, mas as vozes de John Frusciante projectam uma intensidade que não é nada fácil de digerir. Além disso, A Sphere in the Heart of Silence, gravado com o habitual parceiro Josh Klinghoffer, não era assim tão distante deste PBX Funicular Intaglio Zone, na sua torrente de sintetizadores e ritmos de dança para quem não está muito bem da cabeça. É óbvio que trinta segundos deste emaranhado de electrónicas significariam suicídio comercial num qualquer disco dos Red Hot Chili Peppers. Parece que estou a vê-los a tocar um pedaço de "Bike", numa reunião com a Warner Bros., até um executivo dar um murro na mesa para dizer: "Mas vocês estão malucos ou quê?!" Este novo Frusciante, alienado e imerso na sua ciência, não faz discos para ganhar dinheiro, certamente. Qualquer uma destas faixas não teria qualquer hipótese de rodar em 99 por cento das rádios. Mas Frusciante tem o respeito, o culto merecido no Japão (onde edita todos os seus lançamentos com bónus especiais) e os seus discos em vinil chegam, por vezes, às centenas de euros em leilões. Alguém deve estar atento.