A devastação causada pelo rompimento da barragem de Brumadinho, MG, no dia 25 de janeiro, atingiu não apenas famílias, mas também a fauna local. Apesar dos esforços e mobilização das equipes de resgate animal, um cavalo e um bovino impossibilitados de serem resgatados foram sacrificados a tiros na segunda-feira, dia 28. O assunto ganhou comoção da população imediatamente e a ação foi por diversas vezes chamada de assassinato e execução, principalmente após a divulgação de um vídeo da ativista Luisa Mell afirmando que os agentes de resgate estariam assassinando os animais em vez de resgatá-los.
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Porém, a eutanásia por rifle, nome técnico para o sacrifício animal com um tiro na cabeça, é permitida segundo a Resolução CFMV nº 1000/2012 que dispõe sobre procedimentos e métodos de eutanásia em animais. Segundo o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), os animais estavam atolados em um local de difícil acesso. Além disso, estavam debilitados, desidratados e em sofrimento há quatro dias, portanto, a decisão foi estritamente técnica.
Mais especificamente, o artigo 3º da Resolução garante que a eutanásia pode ser indicada quando “o bem-estar do animal estiver comprometido de forma irreversível, sendo um meio de eliminar a dor ou o sofrimento dos animais, os quais não podem ser controlados por meio de analgésicos, de sedativos ou de outros tratamentos”.Rosângela Ribeiro Gebara, médica-veterinária e integrante da Comissão de Bem-Estar Animal do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo (CRMV-SP), explica que quando o bicho está em extremo sofrimento e não é possível chegar perto dele por uma série de motivos, inclusive por ser uma área muito perigosa ou instável, a ação é a mais indicada: “A eutanásia tem como premissa aliviar o sofrimento de um animal. Num caso sem reversão, sempre pensamos do ponto de vista do bem-estar animal". Não que seja fácil até mesmo para os profissionais, ela pondera. "O bicho está em um extremo sofrimento, por isso é necessário abreviar a vida dele de uma maneira com que não sofra mais. Logicamente, não é uma coisa bonita de se ver, nenhum veterinário gostaria de fazer isso, mas existem situações em que realmente é preciso.”
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O CFMV ainda afirmou que não havia condições de segurança para que os animais fossem içados, sendo que a área em que se encontravam oferecia risco aos socorristas. Isso impossibilitou uma intervenção com outra técnica de eutanásia, como a mais convencional, quando o animal é sedado. Nestes casos, o bicho recebe anestesia intramuscular, que o deixa sedado sem estresse. Ao passo que ele adormece e perde todos os reflexos, como em uma anestesia geral, o animal recebe uma sobredose até que o coração pare. Dessa forma o bicho não percebe que está morrendo ou sente qualquer tipo de dor. Contudo, o CFMV garante que o projétil utilizado produz dano cerebral grave e irreversível, o que leva o animal à inconsciência imediata, garantindo a morte rápida e indolor. A técnica é, inclusive, difundida e recomendada pela Organização Mundial de Saúde Animal.Rosangela justifica que esse tipo de eutanásia causa uma insensibilização do animal pela morte do tecido nervoso. “O bicho perde toda a conexão do cérebro e do sistema nervoso central com o resto do corpo, assim passa a não sentir mais nada e morre por conta da falência do tecido nervoso. Naquele milésimo não tem como o animal ter consciência, não tem como ele ter nenhum tipo de cognição de perceber o que está acontecendo."
Para realizar esse tipo de sacrifício, é preciso treinamento e o atirador deve ser acompanhado pelo médico-veterinário ou então ser o próprio médico. A veterinária explicou à reportagem que, para abater o animal com um rifle, é preciso seguir um protocolo, ter uma arma adequada e acertar no local correto, bem ao centro da testa, para que a morte seja instantânea e indolor. Esse foi um dos motivos para o atirador ser um policial, explicou a porta-voz do CFMV, e, por conta da distância, era preciso experiência com tiros.
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