Paul Collins, o rei do power pop dos anos 80 está de volta

FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Paul Collins, o rei do power pop dos anos 80 está de volta

E actua esta quinta-feira, 29, no Popular Alvalade, em Lisboa. É o primeiro concerto do músico norte-americano em Portugal e é imperdível.

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma Noisey.

[Paul Collins, músico dos The Beat e que fez também parte dos míticos The Nerves, os mesmos de "Hanging on the Telephone", popularizado pelos Blondie, actua na quinta-feira, 29 de Junho, no Popular Alvalade, em Lisboa. É data única em solo nacional e a primeira vez que Collins toca em Lisboa. A digressão passa por grande parte da Europa e repassa em formato acústico os grandes clássicos dos The Beats, The Nerves e, claro, dos álbuns a solo do norte-americano. O concerto arranca às 22h00 e os bilhetes custam sete euros].

Publicidade

Os The Beat formaram-se em 1979 pela mão de Paul Collins, à altura baterista das lendas do power The Nerves, cujo tema "Hanging On The Telephone", haveria de se tornar um sucesso global na interpretação dos Blondie.

O homónimo álbum de estreia dos The Beat foi editado nesse mesmo ano pela Columbia, seguia o caminho traçado pelos Nerves e é considerado um dos álbuns clássicos do power pop. Depois do segundo disco, The Kids Are the Same, de 1981, e já sob a assinatura Paul Collin's Beat, para evitar confusões com a banda britânica de ska, o grupo acabaria por ser largado pela editora e separa-se. Regressam mais tarde, com um novo alinhamento e um som mais duro, para editarem To Beat Or Not To Beat. Gravado em Nova Iorque, em 1983, continha o single "All Over The World", que obteve airplay radiofónico regular na lendária estação KROQ, de Los Angeles. Em 1985 lançariam ainda um EP, Long Time Gone.

Paul tem gratas recordações desses tempos. "Lembro-me de receber um cheque de 800 dólares de royalties relativos a 'All Over The World' quando vivia em São Francisco e ter ido imediatamente comprar um Datsun B210 verde em segunda mão. Sempre que subia e descia as colinas da cidade cantarolava a canção!". Há muito fora de circulação, Long Time Gone e To Beat Or Not To Beat, foram recentemente alvo de reedições pela Lolipop Records. O Datsun B210 há muito que já não existe, mas Collins continua no activo e em frequentes digressões. Abaixo podes ler uma entrevista com o músico e ouvir algumas canções.

Publicidade

Vê também: "O rock de ginga na anca dos The Twist Connection"


Noisey: To Beat or Not To Beat foi um disco em que o som endureceu um pouco e estreaste um novo alinhamento de banda. Como é que era escrever e gravar música em Los Angeles naquela altura?

Paul Collins: Escrevemos as canções em LA, mas gravámos em Nova Iorque, portanto foi mais uma espécie de projecto costa-a-costa. Muitos dos temas ainda tinham aquela vibe pop da Califórnia solarenga, excepto "Gimme The Drugs", que, definitivamente, tinha aquela fricção de Nova Iorque, Foi quando eu e o Steve Huff nos mudámos para Nova Iorque e começámos a trabalhar com o baterista Jay Dee Daugherty [Patti Smith] e com Jimmy Ripp [Kid Creole & The Coconuts] que a música começou a ganhar umas arestas mais duras. Andávamos pela East Village, passávamos noites sem dormir e frequentávamos sítios como o Danceteria e o The Mud Club. A música nestes clubes parecia-nos mais exótica e excitante. A cena de Nova Iorque era mais dura e acabou por nos impregnar e nos preparar para a mudança, depois de anos do sol de LA.

Porque é que os Beat originais se separaram em 1981?

Tínhamos sobrevivido ao facto de a CBS nos ter largado, mas, na verdade, andávamos apenas ali por Los Angeles, sem qualquer plano a não ser tocar o mais possível e tentar sacar outro contrato discográfico. Toda a cena da New Wave tinha perdido um bocadinho de fôlego e a indústria simplesmente avançou e deixou-nos para trás. A falta de interesse começou a notar-se e a banda acabou por se desintegrar por causa disso mesmo.

Publicidade

Tentar entrar no mundo do rock corporativista de Los Angeles não ia funcionar connosco, era o ambiente errado para gente como nós. Um dia fui â minha cidade natal, Nova Iorque, visitar a família, vi o que se passava e convenci o Steve de que devíamos tentar relocalizarmo-nos, porque precisávamos desesperadamente de uma lufada de ar fresco.

Por esta altura, o vosso som era mais New Wave. Ainda lhe chamarias Power Pop?

Sim e não. No nosso íntimo ainda estávamos a tentar escrever boas canções pop, mas para sobrevivermos tínhamos de experimentar e ir ao encontro da procura que existia por aquele som de rock radiofónico. Grande. A indústria estava toda virada para isso, Big Rock Radio Sound. A escrita de canções tinha-se tornado uma coisa secundária. O charme da primeira vaga da cena New Wave/Power Pop estava definitivamente esgotado.

Li uma entrevista em que dizias que o problema com o power pop é que não é perigoso, como o punk, ou o rock.

Sim, até certo ponto ainda acredito que é o que mantém o género relegado para as ligas inferiores. Houve momentos brilhantes, quando canções como "My Sharona", ou "That`s What I Like About You" atingiram um nível mais mainstream, mas a maioria das pessoas continua a não saber o que é power pop. Estranhamente, todavia, o género recusa-se a desaparecer e parece até que, hoje em dia, está a ter um muito necessitado ressurgimento!

O single "All Over The World" era muito tocado na KROQ, em Los Angeles, mas a minha faixa favorita é "Making You Mine". Acho que tem mesmo aquela cena dos anos 80. Qual é a tua opinião?

Também sou bastante parcial em relação a essa música. Adorei a forma como a gravação acabou por sair. É a que melhor ilustra a nova direcção que estávamos a tentar seguir quando nos mudámos para Nova Iorque. Pop, mas com umas arestas mais duras. A canção foi escrita com Chris Fradkin, que era um bom amigo e parceiro de escrita de Joey Alkes. Tinham ambos trabalhado em "A Million Miles Away", de Peter Case, e foi assim que os conheci.

Para mim, tinha todos os elementos necessários para chegar à rádio naquela altura, grandes ganchos e um som áspero muito cool. Com esse lançamento, definitivamente voltámos ao mundo DIY, que é onde ainda hoje me mantenho. Na época não sabíamos. Ainda pensávamos que podíamos regressar ao grande negócio da indústria. Pouco depois, acabámos por ir para a Europa e desfrutámos de cinco anos de rock and roll total… All Over The World!

As reedições de Long Time Gone / To Beat Or Not To Beat estão disponíveis através da Lolipop Records.