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Música

A Banda “Neonazi” Satanic Warmaster Anunciou seu Primeiro Show no Reino Unido, e as Pessoas Ficaram Putas

Ser um nazista furioso não é somente “aceitável” na cena do Black Metal Nacional Socialista, mas também um requisito crucial para sua inclusão nele.

Este artigo foi publicado originalmente no

Estamos em 2015, e não ser racista agora é algo tão forte que até os mais racistas estão preparados para continuar a insistir que eles, definitivamente, não são racistas. Uma subcultura em que isso não acontece, obviamente, é o mundo obscuro do Black Metal Nacional Socialista (BMNS). Como o nome sugere, vestir-se de suásticas, sair por aí gritando que você admira a SS e ser um nazista furioso não é somente “aceitável” na cena do BMNS, mas também um requisito crucial para sua inclusão nele. Então, como era de se esperar, o BMNS está impregnado de controvérsias, especialmente na grande comunidade do black metal e do metal em geral.

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A polêmica foi parar em Glasgow nas últimas semanas, após uma promotora local ter anunciado que a cidade seria palco do primeiro show no Reino Unido da controversa banda de black metal finlandesa Satanic Warmaster. Após lançar seu primeiro álbum em 2001, a banda praticamente agregou um culto de seguidores. Mas com os vínculos com as bandas de BMNS e o conteúdo de suas músicas quase sempre questionável, a Satanic Warmaster também gastou um bom tempo livre negando que tinha qualquer inclinação ao, vocês sabem, nazismo.

O do show.

Semana passada, o show em Glasgow, cujos ingressos estão esgotados, procurava uma casa nova, pois o local original, o Audio, pulou fora, alegando preocupação acerca dos “pontos de vista da banda”. O anúncio foi celebrado por comentários na internet de “muito bem, Audio!” e “então eles odeiam judeus e amam o terceiro Reich? Legal…”. Mas, de acordo com os promotores que agenciam a banda, isso só aconteceu quando a banda e o local do show se “aborreceram muito” e de terem sido “muito atacados por outros grupos”. Uma fã me contou que foi “ameaçada” por antifascistas depois de ter confirmado a presença no evento pelo Facebook, por meio de “comentários difamadores em toda a internet.”

A Satanic Warmaster é tão ruim assim? E toda essa indignação é justificada? Bem, fatores como o lançamento de splits com bandas de BMNS de nomes como Aryan Blood:mode_rgb():quality(96)/discogs-images/R-956843-1277640067.jpeg.jpg) (“sangue ariano”), ou uma contribuição a uma compilação de 2006 cheia de bandas neonazistas chamada _Declaration Of Anti-Semitic Terror_ (“declaração de terror antissemita”), não faz a imagem deles muito angelical. Houve casos também em que a banda parece ter apoiado a ideologia nazista, compondo músicas sobre “pôr fogo na criação judaica”, a “essência mais pura do culto de nosso sangue” e “um estado, um povo, um líder”. Os últimos dois vieram de uma música intitulada “My Dreams of 8” (“Meus Sonhos de 8”, a seguir), que pode parecer inocente, exceto quando consideramos que o número oito é um típico eufemismo de extrema direita para Hitler (sendo H a oitava letra do alfabeto).

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Devemos nos preocupar com o fato de que uma banda com vínculos ao nazismo e algumas letras suspeitas estão chegando ao Reino Unido pela primeira vez, ou se trata de uma provação à nossa crença na liberdade de expressão? Certamente, as letras da Satanic Warmaster são abomináveis, mas o black metal também não é uma cena que se empenha em cultivar uma imagem certinha, com uma galera que costuma tocar com todos os estereótipos de bandas de metal niilista que veneram o Diabo, com maquiagens assustadoras e postura de quem vai xingar sua avó. A atuação excessiva do gênero pode, com frequência, cair no pastiche, mas seus fãs tendem a levá-lo muito a sério, cultivando uma enciclopédia de conhecimento de artistas escandinavos obscuros e donos de discografias inexplicavelmente extensas.

Como resultado, tinha mais gente puta com a reação contrária ao show da Satanic Warmaster do que gente tentando impedir que eles toquem. Nas redes sociais está ocorrendo uma guerra entre os que ficam ofendidos pela banda e pelos fãs mais hardcore, que argumentam que as pessoas não entendem as nuances do gênero, criticando o cancelamento do local do evento como um ataque à liberdade de expressão. “Seus porcos fascistas do Audio Glasgow, não aceitam os outros por suas crenças e não fizeram sequer uma pesquisa de verdade, nem contataram alguém da banda para ter uma declaração definitiva”, afirma um comentário no Facebook.

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“Acho que o alvoroço todo está na falta de conhecimento, pra ser honesto”, me disse uma fã que – levando em consideração a situação envolvendo o show – estava receosa em ter seu nome publicado. Ela havia comprado um ingresso na manhã em que estes foram postos à venda. “Fiquei empolgada ao saber que o show deles no Reino Unido vai ser em Glasgow. É um grande acontecimento para a cena black metal, e gente de todos os lugares está vindo a Glasgow por causa disso.”

Continua a seguir.

O que vai acontecer exatamente permanece uma incógnita, e os promotores – Gigs in Glasgow – foram evasivos quando os questionei. No entanto, um assessor de imprensa disse que o show vai sair, então, parece que o caso é encontrar um local em Glasgow corajoso o suficiente para lidar com as consequências inevitáveis. Descrevendo a reação contra o show como “insana”, os promotores justificaram a escolha dizendo que é “uma banda de black metal obscura e subversiva que tem um culto de seguidores” e ressaltaram que não há nada de sinistro nisso.

“Não vai haver bandeiras nazistas ou saudações, nem skinheads tentando quebrar as pessoas. O que vai ter é fãs de black metal querendo curtir a noite, sendo que alguns esperaram cinco ou dez anos para ver a banda”, afirmaram. Os promotores também chamaram a atenção do local pelo cancelamento do show, apesar de eles terem sediado shows de bandas igualmente controversas, como Gorgoroth e Marduk, no ano passado. Além disso, em tentativa de diminuir as contravenções da Satanic Warmaster, os promotores listaram no Facebook várias outras bandas de black metal e seus crimes. Um exemplo é o Burzum, acusado de pôr fogo em igrejas e cujo fundador, Vargs Vikerner, foi acusado de incitar ódio racial, além de ser um assassino condenado – apesar de que não estou convencido de que o argumento “viu? Todo mundo faz isso!” é realmente válido ou vá ajudar nesse caso.

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A Satanic Warmaster respondeu furiosamente no passado sobre seus shows serem postos de lado, e foram incisivos no Facebook em tópicos e comentários relacionados ao show recente em Glasgow. Ano passado, após o cancelamento de um show na Holanda, houve uma declaração incoerente da banda, na qual eles acusam antifascistas de tê-los caluniado “de forma covarde e distorcida”. Eles afirmaram também que não iriam “pedir desculpas por ser uma banda de black metal”, não que alguém tenha pedido isso a eles, naquela época ou agora.

De caráter ainda mais conclusivo, um gráfico foi publicado no site da Satanic Warmaster detalhando os temas das letras da banda em seus 15 anos de lançamentos musicais. Sabe-se lá como, o terceiro Reich e o antissemitismo não aparecem no gráfico, apesar das letras mencionadas aqui anteriormente e do fato de que ambas são tópicos comuns em suas entrevistas. Talvez o gráfico incorpore somente as menções literais, ou talvez isso nem seja verdade. Devo admitir que nunca precisei mostrar nenhum gráfico em forma de barras para verificar minhas credenciais não racistas antes, mas, também, nunca compus nenhuma música sobre Hitler.

(via)

A produtora Gigs em Glasgow estão mais dispostas em admitir que há aspectos menos palatáveis nas produções criativas da Satanic Warmaster. “Acho a maioria das acusações insanas e bizarras, apesar de eu nunca negar que tem material questionável. Mas o black metal é todo questionável, pois o gênero foi construído com base na controvérsia”, eles afirmam.

Isto é, certamente, o xis da questão: o black metal, sem dúvida, exibe uma imagem marginal, com letras desnecessárias e uma obsessão em ultrapassar os limites do bom gosto e da respeitabilidade como parte de sua essência. Quando há uma linha tênue entre o que é e o que não é aceitável, as coisas ficam mais complicadas – e você pode chamar isso de a zona cinza do black metal.

Certamente, muitos fãs da banda não se identificam com as ideias de extrema direita da banda e, se seus pronunciamentos são algo a ser levado em consideração, a banda também não está tentando se vender com base na empolgação precária do nazismo. Talvez precisemos pensar duas vezes antes de levar o conteúdo de uma letra a sério demais ou um vocalista que se auto-intitula o Lobisomem Tirânico de Satã. Mas a questão é que, quando uma banda se associa com uma tendência específica do BMNS, mesmo que indiretamente, como a Satanic Warmaster, eles não estão somente usando a controvérsia como um conceito artístico e contribuindo para um movimento neo-völkisch que promove ativamente a ideologia neonazista, a supremacia branca, a homofobia, o antissemitismo e tudo o mais. Isso não é legal, e, além disso, não tem nada a ver com Glasgow. Assim, não é de se surpreender que em uma cidade onde um grupo de extrema direita como o Pegida planejou uma marcha (posteriormente desarticulada) pelo centro da cidade, as pessoas não queiram brincar com discurso de ódio.

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Tradução: Amanda Guizzo Zampieri