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Música

As melodias das autárquicas 2013 prometem quebrar a abstenção

Sonoros eleitorais em quantidade e qualidade.

Montagem por Wandson Lisboa

Daquilo que temos visto até agora, estas autárquicas têm sido o equivalente aos programas da manhã recheados de playback, coxa à mostra e personagens locais. Estas épocas são tão previsíveis que já sabemos de antemão que, para além de se pedincharem votos, também teremos tempos de antena e discussões acesas nos focos de opinião, seja no café mais frequentado do centro da cidade ou no post motivacional, no Facebook, de um sobrinho do vereador de qualquer coisa do executivo em mandato.

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É sempre o máximo: bolas insufláveis para os mais novos, canetas que nunca escrevem bem, chapéus de cores berrantes para renovar o stock dos senhores da construção civil (cujos chapéus das eleições anteriores têm já os logótipos escondidos por trás da combinação de tinta, suor e sangue), comícios regados a vinho verde e todo o folclore a que já nos habituaram, ano após ano, em democracia. Mas de que valia todo este frenesim caleidoscópico sem a devida banda sonora? Vá lá, toda a gente sabe que as eleições (também) se ganham com aquela melodia que as pessoas vão a assobiar para casa.

Aqui o que me interessa é perceber qual deles teria o meu voto, baseando-me exclusivamente nos hinos de campanha. Apesar de já estar a analisar seriamente os candidatos do meu município (vocês deviam fazer o mesmo!), não, não é assim que costumo decidir em quem votar. Em honra das musas da criatividade eleitoral, estas malhas merecem uma atenção (neste caso, por escrito). Mas atenção que estes dois hinos não são os únicos que interessam. Há outros temas de brilho intenso noutras campanhas,

como as vozes gravadas por cima de uma música ao vivo dos Coldplay

, na campanha do candidato Francisco Barreiro a Famalicão, ou o

tema interpretado por Toy para a CDU

, em Setúbal. Estas pecam por não serem tão criativas, bem produzidas ou simplesmente tão cómicas como as que vos apresento seguidamente, mas também são um fartote.

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Se o Guterres usou

aquela música de Vangelis

, que o fazia passar por Colombo a chegar às Américas em vez de um senhor que devia andar de calculadora atrás, hipnotizando leigos desdentados que nos fazem crer que somos, tudo muda de cenário nas autárquicas que se aproximam. Fiquei incrédulo quando ouvi os hinos de campanha dos candidatos Hélder Sousa da Silva, no município de Mafra, e Manuel Baptista, em Póvoa de Lanhoso. Isto é gente que está a levar música e eleições a um novo nível, deixando a concorrência a comer o seu pó. Isso ou os respectivos gabinetes de comunicação e imagem dos candidatos são equipas dignas de se inserir num grupo de trabalho com o nosso querido criativo/empresário/entertainer Miguel Gonçalves (o homem que usa dois relógios).

A iniciativa é popular e honesta (“o que interessa é animar a malta”) e não podia ser mais simbiótica, sobretudo se pensarmos que todas as características estéticas de uma campanha eleitoral municipal (sobretudo em municípios de pequena dimensão), estão lá. No entanto, não se confundam os temas. A abordagem de ambos os hinos, em termos musicais, é distinta e merecedora de uma análise mais profunda: estamos sem dúvida perante dois compositores de raízes musicais diferentes e com objectivos muito vincados acerca da mensagem a passar através da sua música, bem como do público-alvo.

MAFRA É BEM MAIS DO QUE UM PALÁCIO

“Mafra é terra de boa gente”, diz o refrão do candidato Hélder Sousa da Silva. Dantes, ou mais precisamente antes da construção do megalómano palácio-convento por D João V — o rei que curtia comer freiras e imitar Louis XVI, Mafra contava apenas com uns casarios e gente quase nem vê-la. Viradas as páginas da história, temos em Mafra uma vila digna de um hino eleitoral ao mais alto nível. A abordagem é conservadora mas enérgica: uma rockada by the book, com direito a intro instrumental com solo de guitarra clássico, com um jeito meio latino e maroto; acalmia, riff de guitarra e uma intérprete de voz doce. A ode que nos apresentam vai da geografia do concelho, a abrir com as ondas da Ericeira e o turismo de “sol e mar”, até aos pomares e vinhas do interior, com um piscar de olho aos agricultores que alimentam a nação.

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O refrão é uma pérola de civismo: toda a gente faz parte desta corrida eleitoral. O ritmo é desenfreado e acreditamos ter vindo de um pop rock melódico (ainda que a melodia pareça atirada à sorte) que incita a viver o momento e não deixar passar esta oportunidade. Carpe diem eleitoral. Mas atenção, há ainda mais um refrão (ou pós-refrão, o que lhe quiserem chamar). Nessa passagem, ao bom estilo da “Total Eclipse of the Heart” da Bonnie Tyler, grita-se a pulmões cheios “vamos com Hélder Sousa Silva!”, numa explosão emocional que marca o momento em que se disse o nome completo de alguém, numa música, pela primeira vez na história. Bonito.

Seguem-se trocadilhos acerca de o palácio ser parte da tradição mas quem vai fazer com que a vila conquiste um lugar na história é o nobre candidato. Não adoram quando vos fazem sentir este “agora ou nunca”? Levar o povo às cordas emocionais, com socos musicais de um Mike Tyson, mas fazê-lo sentir que a seguir tudo estará melhor? Hélder é filho da terra, carai! Não importa se és velho ou novo, Mafra é de todos e o seu povo, para este candidato, é piuridade. Leram bem, piuridade. Eu ouvi cerca de 500 vezes esta obra e garanto-vos que a cicerone musical da campanha diz, com todas as letras (ou falta delas) piuridade. Podia ser pior, ao menos não é sopinha de massa.

O final é apoteótico, digno de hair rock a figurar num disco de Bon Jovi. Bem jogado Hélder, foi inteligente a inclusão do cardápio de piuridades e propostas eleitorais para levar Mafra avante. Agora só falta convencer o pessoal que anda bronzeado o ano todo e a cheirar a parafina e salitre de que este é o momento de largarem as ondas e irem surfar para uma mesa de voto qualquer. Partindo do princípio que essa malta não deixa o mar por nada, tens de pôr umas velinhas na basílica do convento de Mafra e rezar para que o mar esteja flat.

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Montagem por Wandson Lisboa


Daquilo que temos visto até agora, estas autárquicas têm sido o equivalente aos programas da manhã recheados de playback, coxa à mostra e personagens locais. Estas épocas são tão previsíveis que já sabemos de antemão que, para além de se pedincharem votos, também teremos tempos de antena e discussões acesas nos focos de opinião, seja no café mais frequentado do centro da cidade ou no post motivacional, no Facebook, de um sobrinho do vereador de qualquer coisa do executivo em mandato.



É sempre o máximo: bolas insufláveis para os mais novos, canetas que nunca escrevem bem, chapéus de cores berrantes para renovar o stock dos senhores da construção civil (cujos chapéus das eleições anteriores têm já os logótipos escondidos por trás da combinação de tinta, suor e sangue), comícios regados a vinho verde e todo o folclore a que já nos habituaram, ano após ano, em democracia. Mas de que valia todo este frenesim caleidoscópico sem a devida banda sonora? Vá lá, toda a gente sabe que as eleições (também) se ganham com aquela melodia que as pessoas vão a assobiar para casa.



Aqui o que me interessa é perceber qual deles teria o meu voto, baseando-me exclusivamente nos hinos de campanha. Apesar de já estar a analisar seriamente os candidatos do meu município (vocês deviam fazer o mesmo!), não, não é assim que costumo decidir em quem votar. Em honra das musas da criatividade eleitoral, estas malhas merecem uma atenção (neste caso, por escrito). Mas atenção que estes dois hinos não são os únicos que interessam. Há outros temas de brilho intenso noutras campanhas,

como as vozes gravadas por cima de uma música ao vivo dos Coldplay

, na campanha do candidato Francisco Barreiro a Famalicão, ou o

tema interpretado por Toy para a CDU

, em Setúbal. Estas pecam por não serem tão criativas, bem produzidas ou simplesmente tão cómicas como as que vos apresento seguidamente, mas também são um fartote.



Se o Guterres usou

aquela música de Vangelis

, que o fazia passar por Colombo a chegar às Américas em vez de um senhor que devia andar de calculadora atrás, hipnotizando leigos desdentados que nos fazem crer que somos, tudo muda de cenário nas autárquicas que se aproximam. Fiquei incrédulo quando ouvi os hinos de campanha dos candidatos Hélder Sousa da Silva, no município de Mafra, e Manuel Baptista, em Póvoa de Lanhoso. Isto é gente que está a levar música e eleições a um novo nível, deixando a concorrência a comer o seu pó. Isso ou os respectivos gabinetes de comunicação e imagem dos candidatos são equipas dignas de se inserir num grupo de trabalho com o nosso querido criativo/empresário/entertainer Miguel Gonçalves (o homem que usa dois relógios).



A iniciativa é popular e honesta (“o que interessa é animar a malta”) e não podia ser mais simbiótica, sobretudo se pensarmos que todas as características estéticas de uma campanha eleitoral municipal (sobretudo em municípios de pequena dimensão), estão lá. No entanto, não se confundam os temas. A abordagem de ambos os hinos, em termos musicais, é distinta e merecedora de uma análise mais profunda: estamos sem dúvida perante dois compositores de raízes musicais diferentes e com objectivos muito vincados acerca da mensagem a passar através da sua música, bem como do público-alvo.





MAFRA É BEM MAIS DO QUE UM PALÁCIO

“Mafra é terra de boa gente”, diz o refrão do candidato Hélder Sousa da Silva. Dantes, ou mais precisamente antes da construção do megalómano palácio-convento por D João V — o rei que curtia comer freiras e imitar Louis XVI, Mafra contava apenas com uns casarios e gente quase nem vê-la. Viradas as páginas da história, temos em Mafra uma vila digna de um hino eleitoral ao mais alto nível. A abordagem é conservadora mas enérgica: uma rockada by the book, com direito a intro instrumental com solo de guitarra clássico, com um jeito meio latino e maroto; acalmia, riff de guitarra e uma intérprete de voz doce. A ode que nos apresentam vai da geografia do concelho, a abrir com as ondas da Ericeira e o turismo de “sol e mar”, até aos pomares e vinhas do interior, com um piscar de olho aos agricultores que alimentam a nação.



O refrão é uma pérola de civismo: toda a gente faz parte desta corrida eleitoral. O ritmo é desenfreado e acreditamos ter vindo de um pop rock melódico (ainda que a melodia pareça atirada à sorte) que incita a viver o momento e não deixar passar esta oportunidade. Carpe diem eleitoral. Mas atenção, há ainda mais um refrão (ou pós-refrão, o que lhe quiserem chamar). Nessa passagem, ao bom estilo da “Total Eclipse of the Heart” da Bonnie Tyler, grita-se a pulmões cheios “vamos com Hélder Sousa Silva!”, numa explosão emocional que marca o momento em que se disse o nome completo de alguém, numa música, pela primeira vez na história. Bonito.



Seguem-se trocadilhos acerca de o palácio ser parte da tradição mas quem vai fazer com que a vila conquiste um lugar na história é o nobre candidato. Não adoram quando vos fazem sentir este “agora ou nunca”? Levar o povo às cordas emocionais, com socos musicais de um Mike Tyson, mas fazê-lo sentir que a seguir tudo estará melhor? Hélder é filho da terra, carai! Não importa se és velho ou novo, Mafra é de todos e o seu povo, para este candidato, é piuridade. Leram bem, piuridade. Eu ouvi cerca de 500 vezes esta obra e garanto-vos que a cicerone musical da campanha diz, com todas as letras (ou falta delas) piuridade. Podia ser pior, ao menos não é sopinha de massa.





O final é apoteótico, digno de hair rock a figurar num disco de Bon Jovi. Bem jogado Hélder, foi inteligente a inclusão do cardápio de piuridades e propostas eleitorais para levar Mafra avante. Agora só falta convencer o pessoal que anda bronzeado o ano todo e a cheirar a parafina e salitre de que este é o momento de largarem as ondas e irem surfar para uma mesa de voto qualquer. Partindo do princípio que essa malta não deixa o mar por nada, tens de pôr umas velinhas na basílica do convento de Mafra e rezar para que o mar esteja flat.





KUDURO TAMBÉM É PORTUGAL

A Póvoa de Lanhoso tem uma costela de kuduro que eu desconhecia. Eu, que pensava que no Minho só havia ranchos folclóricos, incesto e vinho verde, deparo-me agora com um candidato do PSD — Manuel Baptista — que, contra todas probabilidades e num rasgo de total inovação, escolhe como hino de campanha uma versão do já verdadeiramente louco tema “O Ritmo do Amor (Kuduro)”, interpretado originalmente pelo homem por quem as vossas mães molharam a cueca antes da chegada do Tony Carreira: Emanuel, o pimba.



O início deste hino é logo um arrebatamento, com um grito estilo spring break anunciando o nome da terra e perguntando aos ouvintes se sabem quem chegou: Baptista, o nosso presidente! Manuel Baptista é um homem de semblante sério, pelo que não consigo evitar imaginar o cenário que será ver este homem entrar em palco para falar à população ao som de um louco kuduro. Era o mesmo que ver o George W. Bush, enquanto presidente, a fazer uma conferência de imprensa vestido de palhaço, em vez de simplesmente parecer e agir como um. Há coisas que pensei que não fossem possíveis de acontecer e como esta utopia é um espectáculo digno de se testemunhar mantenham-se atentos à campanha eleitoral deste visionário.





A letra da música não tem o mesmo teor e substrato eleitoral do tema de Mafra. O que salta à vista é repetição da ideia de que o Baptista é o presidente, tem o apoio de toda e gente e só assim é que vamos lá. Caramba Baptista, até dizem que sentes amor por toda a gente e vais ficar na história. Há meia dúzia de plágios a cânticos futebolísticos, como “rumo contigo até à vitória” e sentir os corações enaltecidos por “ver o Baptista a vencer”, mas não faz mal puxar a costela do desportivismo nas corridas eleitorais. Quase acreditamos que o desportivismo está metido nisto e que ganhar ou perder é a mesma coisa.



A verdadeira comédia deste hino são as reacções à sua extravagância. Na página de Soundcloud, onde se ouve este tema, temos de tudo: quem se queira mudar para a Póvoa de Lanhoso para votar no Baptista, quem ache que a música mudou a sua vida, quem grite aos quatro ventos que o povo quer é pimba e o resto não interessa para nada e ainda quem arrisque dizer que isto vai ser hit de Verão, apesar de já só restarem umas escassas semanas para isso acontecer. Há também um jovem a reclamar autoria da música para a JSD da Póvoa de Lanhoso e a esclarecer que o refrão não diz “durmo contigo até à vitória”. Ainda bem que isso fica esclarecido, é que ainda falta algum tempo para as eleições e não me apetece nada dormir com o Baptista até lá.



VEREDICTO E MENÇÃO HONROSA

Antes de vos confessar por quem me deixei conquistar, tenho de partilhar com o mundo um tema que também me deixou de rastos. RUIFOGO assina o hino

“Luís Gonzaga Tem de Ganhar”

, um rework do muito badalado hit

“Feel so Close”

, de um gajo chamado Calvin Harris, que este ano já fez mais pasta que o David Guetta a passar som. A magia deste tema é o uso massivo de auto-tune. A sério, este auto-tune está mais abusado do que uma miúda atraente num autocarro indiano. É sem dúvida o tema mais arriscado de todos, quer pelo conteúdo da letra ser nulo, quer pelo uso de uma música extremamente comercial. Arriscar tudo face à possível acção em tribunal por roubo de propriedade intelectual é algo só ao alcance de um gajo com tomates, chamado Gonzaga. Por algum motivo este nome faz-me lembrar o Bonanza, que era um cowboy dos antigos, do tempo em que as crianças brincavam com piões e caricas e veneravam americanos que matavam índios e mexicanos. E do tempo do Django, quando ele era branco. Só por isso simpatizo com este candidato e é por um triz que só não voto nele.



E agora, (

drumroll

) o meu voto, cuja decisão me fez suar, perder a cabeça e viver como numa montage de um filme dos anos 80 nos momentos de tensão, vai, sem margem de dúvida, para o candidato Hélder Sousa Silva, de Mafra! Foi uma escolha difícil mas o critério final de decisão foi o conteúdo da música. O Hélder apresenta-nos propostas válidas e mostra-se um conhecedor do seu concelho e dos seus munícipes, preocupado em parecer idóneo para o cargo a que se candidata.



Estavam à espera de quê? Sou um gajo que faz escolhas responsáveis. O outro tema era

edgy

e refrescante, mas eu não quero engatar miúdas de 15 anos e beber Safari-Cola. Ainda assim, estou curioso para ver Manuel Baptista sair do palanque, depois de um discurso emocionado, ao som de “É Baptista, é Baptista, é Baptista!”, rodeado de malta galvanizada pelo seu kuduro eleitoral. Seja como for, o candidato Baptista devia reunir-se com o colega Hélder e pedir uns conselhos sobre como escrever uns temas mais profundos e representativos das suas propostas para o concelho. Póvoa de Lanhoso agradece.



Já agora, não se esqueçam de ir votar. Sejam pessoas responsáveis porque já têm idade para ter juízo.

KUDURO TAMBÉM É PORTUGAL

A Póvoa de Lanhoso tem uma costela de kuduro que eu desconhecia. Eu, que pensava que no Minho só havia ranchos folclóricos, incesto e vinho verde, deparo-me agora com um candidato do PSD — Manuel Baptista — que, contra todas probabilidades e num rasgo de total inovação, escolhe como hino de campanha uma versão do já verdadeiramente louco tema “O Ritmo do Amor (Kuduro)”, interpretado originalmente pelo homem por quem as vossas mães molharam a cueca antes da chegada do Tony Carreira: Emanuel, o pimba.

O início deste hino é logo um arrebatamento, com um grito estilo spring break anunciando o nome da terra e perguntando aos ouvintes se sabem quem chegou: Baptista, o nosso presidente! Manuel Baptista é um homem de semblante sério, pelo que não consigo evitar imaginar o cenário que será ver este homem entrar em palco para falar à população ao som de um louco kuduro. Era o mesmo que ver o George W. Bush, enquanto presidente, a fazer uma conferência de imprensa vestido de palhaço, em vez de simplesmente parecer e agir como um. Há coisas que pensei que não fossem possíveis de acontecer e como esta utopia é um espectáculo digno de se testemunhar mantenham-se atentos à campanha eleitoral deste visionário.

A letra da música não tem o mesmo teor e substrato eleitoral do tema de Mafra. O que salta à vista é repetição da ideia de que o Baptista é o presidente, tem o apoio de toda e gente e só assim é que vamos lá. Caramba Baptista, até dizem que sentes amor por toda a gente e vais ficar na história. Há meia dúzia de plágios a cânticos futebolísticos, como “rumo contigo até à vitória” e sentir os corações enaltecidos por “ver o Baptista a vencer”, mas não faz mal puxar a costela do desportivismo nas corridas eleitorais. Quase acreditamos que o desportivismo está metido nisto e que ganhar ou perder é a mesma coisa.

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A verdadeira comédia deste hino são as reacções à sua extravagância. Na página de Soundcloud, onde se ouve este tema, temos de tudo: quem se queira mudar para a Póvoa de Lanhoso para votar no Baptista, quem ache que a música mudou a sua vida, quem grite aos quatro ventos que o povo quer é pimba e o resto não interessa para nada e ainda quem arrisque dizer que isto vai ser hit de Verão, apesar de já só restarem umas escassas semanas para isso acontecer. Há também um jovem a reclamar autoria da música para a JSD da Póvoa de Lanhoso e a esclarecer que o refrão não diz “durmo contigo até à vitória”. Ainda bem que isso fica esclarecido, é que ainda falta algum tempo para as eleições e não me apetece nada dormir com o Baptista até lá.

VEREDICTO E MENÇÃO HONROSA

Antes de vos confessar por quem me deixei conquistar, tenho de partilhar com o mundo um tema que também me deixou de rastos. RUIFOGO assina o hino

“Luís Gonzaga Tem de Ganhar”

, um rework do muito badalado hit

“Feel so Close”

, de um gajo chamado Calvin Harris, que este ano já fez mais pasta que o David Guetta a passar som. A magia deste tema é o uso massivo de auto-tune. A sério, este auto-tune está mais abusado do que uma miúda atraente num autocarro indiano. É sem dúvida o tema mais arriscado de todos, quer pelo conteúdo da letra ser nulo, quer pelo uso de uma música extremamente comercial. Arriscar tudo face à possível acção em tribunal por roubo de propriedade intelectual é algo só ao alcance de um gajo com tomates, chamado Gonzaga. Por algum motivo este nome faz-me lembrar o Bonanza, que era um cowboy dos antigos, do tempo em que as crianças brincavam com piões e caricas e veneravam americanos que matavam índios e mexicanos. E do tempo do Django, quando ele era branco. Só por isso simpatizo com este candidato e é por um triz que só não voto nele.

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) o meu voto, cuja decisão me fez suar, perder a cabeça e viver como numa montage de um filme dos anos 80 nos momentos de tensão, vai, sem margem de dúvida, para o candidato Hélder Sousa Silva, de Mafra! Foi uma escolha difícil mas o critério final de decisão foi o conteúdo da música. O Hélder apresenta-nos propostas válidas e mostra-se um conhecedor do seu concelho e dos seus munícipes, preocupado em parecer idóneo para o cargo a que se candidata.

Estavam à espera de quê? Sou um gajo que faz escolhas responsáveis. O outro tema era

edgy

e refrescante, mas eu não quero engatar miúdas de 15 anos e beber Safari-Cola. Ainda assim, estou curioso para ver Manuel Baptista sair do palanque, depois de um discurso emocionado, ao som de “É Baptista, é Baptista, é Baptista!”, rodeado de malta galvanizada pelo seu kuduro eleitoral. Seja como for, o candidato Baptista devia reunir-se com o colega Hélder e pedir uns conselhos sobre como escrever uns temas mais profundos e representativos das suas propostas para o concelho. Póvoa de Lanhoso agradece.

Já agora, não se esqueçam de ir votar. Sejam pessoas responsáveis porque já têm idade para ter juízo.