Fomos conhecer o novo mundo de Sean Riley & The Slowriders
Foto cortesia Sony Music

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Música

Fomos conhecer o novo mundo de Sean Riley & The Slowriders

Com álbum acabado de sair e uma agenda de concertos bem preenchida para os próximos meses, Afonso Rodrigues, o Sean Riley dos Slowriders, sentou-se à conversa connosco.

O início do projecto Sean Riley & the Slowriders prestou-se a alguns equívocos hilariantes, como aquela malta que pensava que eles eram estrangeiros, alguém vindo lá das paisagens áridas dos States. O que, tendo sido eles formados em Coimbra, só se tivessem nascido na discoteca com esse nome abreviado do País. Os anos passaram, a trilogia dos discos mais devedores à americana também e eis que regressam, em 2016, com um disco de ambientes épicos e dramáticos. Maior, portanto.

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Há todo um ritual ligado à cena de comprar discos. Não interessa o formato. A malta pega na obra e vai descobrindo as suas idiossincrasias. Com este novo trabalho, em tons de preto e branco, saltam à vista duas coisas: a primeira é que tem um título homónimo, apenas com o nome da banda. Não que esteja escrito em algum lado que tem de ser assim, mas, geralmente, é algo acontece ao primeiro disco. A segunda é que a capa de apresentação (neste caso do CD) traz apenas uma fotografia - assinada "Kid 2016".

A capa de "Sean Riley & The Slow Riders", o disco, assinada por KID. Cortesia Sony Music.

Afonso Rodrigues, o frontman da banda, explica que "não foi uma mera opção estética". De facto, com o capítulo encerrado do trio de edições que ficaram para trás, há um outro ciclo que se inicia e é, efectivamente, um novo começo que justifica totalmente o título (ou a falta dele) no álbum. "Há outras razões, mas essa é talvez a principal", explica o músico à VICE. No alinhamento, há intro e outro, o que significa que é um só trabalho, sem ligação a um próximo, como aconteceu na trilogia. "O disco fica encerrado nele mesmo", clarifica.

Quanto ao artwork, a ideia foi fazer funcionar a foto de capa como um trabalho artístico, integrado dentro de outra obra criativa. "Queria que funcionasse como objecto de arte por si mesmo, sem estar contaminado com toda aquela informação normal dos discos, com os nomes das músicas, quem é que gravou, quem é que tocou ferrinhos, etc…", esclarece Afonso, numa demonstração clara de que o sentido da opção foi muito prático. E acrescenta: "Como já há tanta informação dentro das próprias músicas, foi decidido que a estética seria o mais clean possível".

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As razões da mudança para um novo rumo notam-se logo aos primeiros acordes. O tema de abertura, Flying Back, começa com a voz de Sean Riley num tom acima, algo que nunca se tinha ouvido. "A primeira vez que abordei essa canção, saiu-me cantada daquela forma. Foi uma coisa que nos agradou e que quisemos explorar. Achámos que, pelo tipo de canção que era, fazia sentido ter aquela voz, que na prática é um pouco mais etérea, mais vulnerável, mais frágil".

Dessa fragilidade parte-se para algo diferente e, na terceira canção, Dark Rooms, este escriba não se conteve e teve de confessar ao autor que acha aquela música áspera como o caraças, desconfortável - o que não tem de ser necessariamente mau. Mexe com os nervos de um gajo, com uma batida que interfere com os batimentos cardíacos e tal… e, de repente, já não estávamos a falar propriamente de música, mas de outra coisa: aquele jovem Sean Riley do início, de cabelo comprido à Kurt Cobain, de guitarra na sacola, fã dos Belle & Sebastian, cresceu.

Afonso comenta: "Há momentos para tudo e eu sou o tipo de pessoa que, quando tenho um álbum feito, não me apetece muito repetir, não me apetece muito aproximar daquilo que já fiz, quero sempre ir noutra direcção. E acho que todos os discos com os Slowriders são um bocadinho o espelho disso. Se ouvires o Farewell e voltares atrás no tempo e pensares que o primeiro single do segundo álbum - o Houses and Wifes - não tem nada a ver com nenhuma música que esteja no Farewell, ou que no nosso álbum anterior gravámos secções de cordas e sopros, de facto chega-se a uma música como o Dark Rooms, que tem um beat super tenso, nervoso e desconcertante, e acho que somos nós à procura de coisas que nos interessem, que nos satisfaçam e nos preencham".

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"Não acho que esse Sean Riley de que falas tenha desaparecido. Ele está lá, mas se calhar está mais representado em canções como o Today Forever, ou o Wherever You Go, que têm uma construção e uma estética mais próxima desse passado. Depois temos coisas novas, que nunca tínhamos explorado, ou abordado… Mas acho que sempre houve coisas novas em todos os discos. Esta, se calhar, é a vez em que o elemento novidade é mais diferente. Mas também, se estamos a apontar para um quarto disco, e se não se fizer nada de diferente, mais vale estar quieto. Honestamente".

Afonso Rodrigues (à direita), admite que o novo álbum "tem uma carga dramática bastante forte". Foto cortesia Sony Music.

E foi precisamente esse "ir à procura de algo de diferente", o que aconteceu com o tema número seis, Gipsy Eyes, numa toada daquelas de fazer abanar a anca… ou como dizia uma canção de não sei quem - o movimento sexy - num balanço bem gostoso, que resultou da experimentação dos músicos. Afonso chama a atenção para o facto de esta até ser uma canção "clássica" de Sean Riley & The Slowriders - a letra, a forma de cantar, a guitarra - porém, os arranjos foram por outros caminhos, que alteraram por completo o resultado final. Precisamente aquilo em que eles estavam interessados para este disco.

Um álbum que parece ter uma dimensão épica, quase como se só desse para se ouvir, não apenas de ouvidos bem abertos, mas também de olhos arregalados. Tem uma carga dramática bastante forte. Em relação a isso, Afonso Rodrigues diz que a sonoridade é fruto do sítio onde estavam naquele momento. O projecto, visto pelo próprio autor, carrega, de facto, uma certa tensão, um crescendo nas músicas e depois aquele estourar, mas é esse o universo da banda, e essa é, neste momento, a sua identidade.

Em 2009, olhava-se-para o futuro, com um disco chamado, Only Time Will Tell. E, agora que, provavelmente, chegámos a esse futuro, passados estes anos, o que é que o tempo tem dito a Afonso? Eis a resposta: "O tempo tem-me dito que é incrível poderes fazer o que gostas, com pessoas de quem gostas. E para quem tem a necessidade de fazer música, como é o nosso caso, sentimos que somos privilegiados por o podermos fazer. Estar ao lado de amigos em cima de palco é fantástico. É difícil de descrever para quem não tem essa necessidade, ou essa possibilidade. Só me resta agradecer tudo aquilo de bom que já tive até hoje e esperar que seja possível continuar a fazer isto durante mais tempo. Se, por alguma razão, não o puder continuar a fazer, o tempo diz-me que já foi muito bom e estou muito agradecido!".