O Zimbabwe tem apenas uns 160 euros no banco

O governo do Zimbabwe anunciou na semana passada que, depois de pagar os funcionários públicos, o seu saldo bancário é de 160 euros. Sim, leram bem: CENTO E SESSENTA EUROS (217 dólares americanos ou 138 libras esterlinas). Uma vez, num dia de sorte, encontrei 200 libras no chão de uma estação de metro. Sem saber, estava mais rico do que um país inteiro, mas gastei o dinheiro todo para pagar multas de trânsito. Seja como for, a revelação veio do ministro das finanças, Tendai Biti, talvez o político mais honesto da história do país. Biti é o secretário-geral do MDC, o partido rival do ZANU-PF de Mugabe. Em 2008, o então líder do MNC, Morgan Tsvangirai, fez um pacto (do diabo) para partilhar o poder com Mugabe. Aposto que agora gostavam de ainda ter os famosos dólares nacionais, entretanto extintos — sempre dava, à conta de uma série de zeros insignificantes, para fingirem que tinham mais dinheiro do que aquele que um adolescente ocidental tem na carteira num dia normal de semana. A taxa de inflação monstruosa e as notas de um bilião de dólares tornaram o país numa anedota internacional. E isto só vem piorar as coisas: antes o país era uma piada, agora nem tem dinheiro para pagar um jantar de grupo aqui à malta. Mas como é que isto aconteceu? Como é que foi possível chegar a esta situação? Bem, aqui ficam algumas explicações: DIAMANTES DE SANGUE
Aqui há uns anos, foram descobertos diamantes na região de Marange e começou alta corrida ao filão, com direito a escravos e torturas e tudo. O comércio destas pedras preciosas rendeu, só no ano passado, mais de 680 milhões de dólares, mesmo com todos os embargos internacionais, mas nem 40 milhões entraram de facto nos cofres do estado. O resto? Ninguém sabe. O PRESIDENTE TRATA-SE BEM
O povo está a morrer à fome, claro, mas o presidente vive como o Jay Gatsby. Mugabe não sai à rua sem o seu séquito de motas, ambulâncias, carros da polícia e veículos militares, já para não falar nos comandos norte-coreanos contratados. E tem, claro, uma limusina preta à prova de fogo, de bala e de tudo. E livrem-se de querer partilhar a estrada com este exército de ostentação: vão-se dar mal. ACABARAM COM A AGRICULTURA
A primeira coisa que Mugabe fez na sua transição de "rebelde revolucionário" para "maior filho da puta do continente" foi expulsar todos os agricultores das suas terras. A ideia era livrar-se dos agricultores brancos (ingleses) e distribuir os terrenos pelos camponeses. E por "camponeses" leia-se amigos e familiares do regime, claro. Só o presidente tem 39 quintas. Conclusão: a malta com terras boas não percebe grande coisa do assunto e o país deixou de produzir milho, tabaco e gado, como antigamente. O país já não produz o que consome e está longe de conseguir exportar seja o que for. SAI CARO BATER EM TODA A GENTE
O Zimbabwe devia ter eleições no final de Março, mas o país não tem dinheiro para as organizar. Ironicamente, está a pedir cerca de 192 milhões de dólares à comunidade internacional para o efeito. Mugabe odeia os brancos colonialistas, mas para lhes pedir dinheiro é na boa. As pessoas estão desesperadas por eleições e sangram, literalmente, na tentativa de tirar o presidente do poleiro. Já mencionei o facto de Mugabe ter emendado a constituição para seu proveito? Ou seja, é provável que volte a ganhar (lá experiência tem ele) e que se mantenha no poder por mais dez anos, na boa. Vai ter muito tempo para gastar estes 160 euros.