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Politică

‘Jean Wyllys sai do Brasil como herói’, diz suplente David Miranda

Vereador carioca do PSOL vai substituir deputado que declarou auto-exílio do Brasil nesta quinta-feira.
david miranda
David Miranda. Reprodução Facebook. 

Nesta quinta-feira (24) aconteceu a maior baixa democrática até o momento do governo Bolsonaro. Além da notícia do decreto que diminui a transparência governamental, o deputado reeleito do PSOL pelo rio de Janeir Jean Wyllys anunciou em entrevista à Folha de S. Paulo que vai abrir mão do novo mandato e que não volta ao Brasil. Wyllys atribui o exílio às constantes ameaças que vem recebendo (e que se intensificaram durante as eleições) e à incapacidade do governo, cada vez mais claramente envolto com o crime organizado, de dar uma resposta adequada à elas.

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Mas se o clã Bolsonaro e seus seguidores comemoraram a triste opção de Wyllys, a festa pode não durar muito. Quem assume a cadeira do primeiro deputado federal assumidamente LGBT é o primeiro vereador do Rio de Janeiro também assumidamente LGBT, David Miranda, também do PSOL.

Em entrevista à VICE, David conta que ficou sabendo do exílio de Jean pela internet, como todo mundo. “Eu sabia da carga difícil que ele enfrentava em Brasília. Ele sai daqui como um herói”, afirma o agora deputado federal. Colega da vereadora executada em março de 2018 Marielle Franco, Miranda sabe do vespeiro em que está se metendo. “Eu sou cria do Jacarezinho, preto e LGBT, sempre lutei pelos direitos humanos no país que mais mata defensores dos direitos humanos, que mais mata LGBTs, que tem um genocídio da juventude negra. Era para eu estar morto há muito tempo. Mas apesar disso, eu vou transformar esse medo que eu carrego no peito em coragem.”

A notícia virou a vida de David de cabeça para baixo – agora tem que preparar uma mudança repentina para Brasília, mas mesmo assim diz estar à altura do desafio. “Vai ser difícil para a família, mas desde o momento que mataram nossa companheira, não demos um passo atrás. Elegemos 10 deputados federais, elegemos três deputadas estaduais negras que eram do gabinete da Marielle”, pondera.

Assim como Wyllys, Miranda já teve que enfrentar episódios de homofobia na Câmara do Rio de Janeiro, e diz que, por isso, está pronto para enfrentar os conservadores do Congresso: “Esses lugares de poder sempre foram ocupados por homens brancos, héteros, cis, conservadores e agora protofascistas. Muitos desses caras são personagens, e eu sou o contrário deles. Eu quero é dialogar com a população. Sei enfrentar, responder, mas não vou cair nesses jogos. Eu sou o vereador que mais passou leis nessa legislatura no Rio – passei uma lei que dá prioridade ao pagamento dos servidores, pensionistas e aposentados no orçamento do Município. Se foi possível passar isso no governo Crivella, com uma Câmara tão conservadora, é possível fazer mais ainda na Câmara dos Deputados”.

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Para Miranda, que respondeu às troças do presidente no Twitter, Bolsonaro não deveria comemorar, e sim ficar preocupado. “Esse ‘líder de estado’ que a gente tem é uma piada de mau gosto. Mas é uma piada que a população vai entender o que tá acontecendo. Ele não consegue responder às acusações sobre o filho (Flavio Bolsonaro, envolvido no escânda Queiroz e ligações com milícias do Rio0, mas tem tempo pra comemorar a saída de um parlamentar por causa de ameaças graves, ou de uma parlamentar morta na cidade dele. Ele é um LGBTfóbico, está feliz agora mas devria estar arrependido. Quem tá indo pra lá não tem medo dele e não tem medo da família dele.”

O novo deputado se diz otimista com a incompetência do campo conservador, que conseguiu uma bancada impressionante na Câmara, mas ainda inexperiente. Essa onda Bolsonaro não se mantem muito forte, são muitos deputados que são de primeira viagem. Não sabem como são os tramites, como funcionam as comissões. Do outro lado temos ainda os corruptos, fazendo aquela política do toma lá da cá. Se você olhar esse primeiro mês de governo, os escândalos não deixam ele se manter. Ele vai ter dificuldade de dialogar com a população, fazer as reformas da burguesia.”

David ainda acredita que o diálogo do campo progressista com a população só tende a crescer: “Olha para o movimento #EleNão. Ele mostrou que sabemos conversar como o povo e fazer pressão, e não tem nada que político desse porte tenha mais medo do que a população voltada contra eles”. Por fim, o psolista investiu contra as novas regras de aplicação da Lei de Acesso à Informação: “Eu coloco um alerta para todos os jornalista do país para falarem desses assunto, porque os governos e todos aqueles que trabalham com a maquina publica tem que prestar contas do seu trabalho”, avisa, já fazendo sua primeira promessa de mandato. “A gente como parlamentar pode passar leis que acabam com esse decreto. Com certeza vou ter projetos para ter mais transparência no executivo e todos os poderes.”

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