Foto: Matias Maxx
Algumas horas depois de publicar uma matéria sobre o espião da Guarda Municipal carioca plantado na casa da Dona Penha, recebi a notícia de que o recurso contra a demolição de mais duas casas da Vila Autódromo fora derrubado. Vinte minutos depois da decisão judicial, por volta das 17h30, os guardas chegaram com uma equipe de demolição na casa de Dona Heloísa, aquela que costumava ser um terreiro de Candomblé.A próxima da lista seria a casa de Dona Penha, que herdou o status de associação de moradores após a derrubada da sua sede no dia anterior. Por conta do horário, a derrubada da casa da Dona Penha ficou para o dia seguinte.Ciente de que a demolição poderia acontecer no primeiro minuto da manhã seguinte, cheguei à vila às 6h da matina, e ela já estava cheia de toda sorte de equipes jornalísticas, desde os caras de emissora e agência de notícias até umas duas ou três equipes de documentaristas, além de outros sujeitos que uns colegas meus apelidaram de "mídia-extrativistas".Durante toda a manhã, rolava um entra-e-sai de caminhões de frete e picapes. Moradores e membros do Grupo de Apoio à Vila Autódromo estavam lá ajudando na mudança, separando os móveis e pertences que estavam sendo levadas a outras casas e o material que poderia ser vendido, como peças de madeira, alumínio e vidro.Conversei com uma ativista que havia acompanhado um dos moradores da casa de Dona Penha à delegacia no episódio do Guarda Municipal invasor. Ela disse que a ocorrência mobilizou a delegacia inteira, que enrolou até a delegada chegar; ainda assim, não quiseram colher seu testemunho, limitando-se a ouvir os testemunhos apenas das partes envolvidas.Segundo a fofoca que rola na comunidade, a tal delegada da 42ª, seria prima da Marli Peçanha, da Secretaria Municipal de Habitação, aquela que marca com SMH as casas que serão removidas. "Focinho de uma, cara de outra" segundo eles.Uma caixa de som tocava músicas do Cazuza, da Legião Urbana e do Raul Seixas, mas nem isso conseguia deixar o clima mais deprê, graças à iluminação e ao alto astral mantidos pela Dona Penha.Antes de ir embora, troquei uma ideia com ela, que falou que estava espalhando seus pertences entre casas de outros moradores e a igreja da comunidade, onde ela pretende passar as próximas noites. "Estou saindo da casa, mas não estou saindo da comunidade. E estou saindo de cabeça erguida. Nosso país se diz democrático, mas ele é mais capitalista que democrático: o cidadão brasileiro não tem direito à sua cidade. Toda vez que tem um megaevento, alguém é expulso; na verdade, a gente está sendo expulso desde que expulsaram os índios para fundar a cidade."Até o fechamento desta matéria, às 15h20, a casa de Dona Penha continuava de pé.
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