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Exame do Toque de Recolher: Bordas de Osasco e Carapicuíba

Resolvemos pedir pra moradores das áreas além do Centro Expandido de SP nos dessem as suas versões dos acontecimentos.

Você, ó leitor, provavelmente está inteirado que a situação anda bem tensa nas periferias de São Paulo. O número de assassinatos é acachapante, os boatos são inúmeros — toques de recolher, novo ataque do PCC, o tal “Motoqueiro Fantasma”, uma guerra interna de facções de policiais pelo controle do tráfico de drogas, acertos de contas etc. As respostas do poder público estadual, até agora, são pífias (pique “não tá acontecendo nada de extraordinário”). Se você não leu nada a respeito ainda, sugerimos começar por estes quatro links

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Resolvemos pedir pra moradores das áreas além do Centro Expandido da cidade que nos dessem as suas versões dos acontecimentos. Hoje começamos a publicar esta série, esperamos que seja de seu interesse. A matéria de estreia é do Ader Gotardo.

Toque de recolher significa coisas diferentes pra pessoas em territórios diferentes. Pra família que mora nos Jardins, quer dizer que a polícia precisa estar mais presente ali, no cruzamento entre a Cidade Jardim e a Faria Lima. Significa acompanhar os números de baixas, torcendo pra que a polícia esteja ganhando na contagem de corpos. Pra quem mora nas regiões periféricas, principalmente os mais jovens, quer dizer tomar mais geral da polícia, mais tempo em casa e mais medo de ser pego num fogo cruzado. Encontrei um grupo de amigos adolescentes que resolveu matar o tempo na segurança dos seus condomínios tipo classe C, perto de um lugar que teve chacinas neste ano. Eles preferiram não se identificar.

"Ninguém sabe quem espalha os boatos", diz um deles. "Também não sabemos se é verdade que tem toque de recolher e tudo mais, mas ninguém vai ficar na rua pra pagar pra ver", completa. "A gente fica sabendo do toque de recolher pela TV, nesses programas policiais". Um gordinho de boné diz sua bronca com o Marcelo Rezende, apresentador de TV: "O cara apavora minha mãe… Nesses dias eu evito sair de casa pra não matar ela de preocupação." Mesmo entre esses garotos, que têm suas rotinas modificadas por ameaças vindas de qualquer lugar, há aqueles que acreditam que pouco têm a temer. "A verdade é que essa coisa toda não atinge a gente… Só quem é bandido tem que ficar esperto."

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Em contradição, eles mesmos admitem que muitas tretas são resolvidas nessas horas, aproveitando o momento que qualquer coisa é culpa do PCC ou da polícia. "Eu preferiria estar no pagode agora, não tenho nada a temer, porque não sou bandido, mas vai que lá mesmo tem alguma treta errada e eu ou minha namorada leva um tiro de bobeira?", reflete um garoto depois de comer sua esfiha. "A gente fica aqui mesmo, melhor que ficar dentro de casa." Ficar na rua de moto também é um risco… A maioria dos ataques recentes são feitos usando motos. Geralmente passam em alta velocidade, com um passageiro na garupa disparando sua semiautomática. "Andar de moto depois das 22h é certeza de ser parado pela polícia, se estiver levando alguém então…"

De um jeito ou de outro, os garotos viram reféns desse cenário que não é confirmado ou negado por ambos os lados. "Qualquer um pode fazer merda e jogar a culpa no PCC ou dizer que foi um grupo de policiais em busca de vingança." Um deles é categórico: "Além da polícia e dos bandidos, a gente também é manipulado pela TV, que se aproveita da situação… Outro dia mostraram aqui a quebrada, dizendo que tinha toque de recolher, mas na TV filmavam só uma rua, duas portas de comércio fechadas, dizendo que a região toda estava deserta, mas na verdade estava todo mundo na rua, só queriam fazer sensacionalismo mesmo."

O mais "engraçado" dessa situação é descobrir que a maioria das aventuras desses garotos acontece muito longe de onde moram suas mães preocupadas. "Normalmente a gente vai lá pra Vila Madalena beber e fumar ‘unzinho’, mas nesses últimos dias temos ficado por aqui mesmo."

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Siga o Ader no Twitter: @AderGotardo

Tem toque de recolher na sua área? Quer contar pra todo mundo o que tá acontecendo aí? Mande seu e-mail pro nosso Twitter que entraremos em contato.

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