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Sangue Suor e Muppy: Demos um Rolê no Anime Friends 2014

Foi com o coração aberto e a cabeça livre de preconceitos que fui ao Anime Friends 2014 — a maior feira de cultura pop da América Latina (segundo os organizadores), que ocorre no Campo de Marte no bairro de Santana na zona norte de São Paulo.

Foi com o coração aberto e a cabeça livre de preconceitos que fui ao Anime Friends 2014 — a maior feira de cultura pop da América Latina (segundo os organizadores), que desde o ano passado ocorre no Campo de Marte no bairro de Santana na zona norte de São Paulo. Eu tinha uma vaga ideia do que encontrar por lá: estandes vendendo traquitanas para os fãs, alguns campeonatos mais humildes de vídeo game, galera cantando músicas tema de seus seriados de animação preferidos e muita gente praticando cosplay. Algo que esqueci, nesses muitos anos longe da comunidade anime, foi a faixa etária do pessoal, consideravelmente mais baixa do que eu me recordava, o que faz completo sentido, já que eu era um moleque mais ou menos da idade deles da ultima vez que fui num negócio desses.

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A impressão que tive ao entrar no Campo de Marte aquele dia foi de ter aumentado, ao menos um pouco, a média etária do público do Anime Friends. Os jovens estavam andando em grupos de duas a cinco pessoas, olhando uns para os outros e praticando o quebra-gelo preferido da garotada, a plaquinha de "Abraços Grátis". Um em cada três grupos de jovens estava empunhando uma plaquinha dessas, isso quando não estavam abertamente ofertando seus serviços em voz alta.

Logo na entrada, me chamou a atenção um espaço coberto com uma rede de proteção branca. Ao reconhecer o barulho de algo batendo em metal, vi que era uma máquina de jogar bolas de baseball para a galera rebater. A comunidade japonesa é um dos poucos grupos no Brasil que leva o baseball a sério e estava tentando conquistar mais adeptos através do Muppy.

Esse dinheiro de mentirinha me garantiu um espeto de coração esturricado num pão com vinagrete e um Muppy sabor maçã.

A bebida oficial do Otaku™.

Anime Friends 2014 é exatamente o que se espera de um evento de cultura pop em uma base aérea militar: uma grande quermesse. Alguns dias antes, eu tinha feito uma listinha de coisas que poderiam ser interessantes, curiosas ou no mínimo visualmente bizarras o bastante para me chamar a atenção, mas sabia que no final das contas nesses eventos o melhor mesmo é sair vagando e ver o que aparece na sua frente.

Fiquei com medo genuíno de perguntar para esse lobinho se ele era um Furry caso a resposta fosse afirmativa.

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Eu me recordo que, no começo da década de 2000, nos meus tenros anos de adolescência, fui a meu primeiro e (até agora) único evento de anime: o Animecon. Evento realizado em um lugar pouco usual para algo do tipo, o Palácio do Trabalhador, nas periferias do bairro da Liberdade em São Paulo. Nunca fui um grande fã de anime, mas eu sempre via alguma coisa aqui e ali. Vi a primeira série inteira do Evangelion e também possuo um trauma infantil de ter visto muito cedo a maravilhosa animação Akira. Como uma boa criança da minha geração, esperava com ansiedade todos os episódios de Cavaleiros do Zodíaco, mas nada muito longe disso. Nunca fui um verdadeiro Otaku como essa galera do Brasil inteiro que colou no Anime Friends.

Uma galera nervosa tava jogando o jogo de cartas do Yu-Gi-Oh! (até onde sei, um mangá e anime sobre um jogo de cartas).

Fora a crescente popularização do mangá e do anime, existe um bom motivo para o Anime Friends ter esse tamanho. As culturas de massa chamada nerd, não costumam se anular. Quando eu era jovem, ocasionalmente jogava RPG e ainda sou (com vários anos de hiato) um jogador amador de Magic: The Gathering. Também me recordo com nostalgia meio envergonhada dos lindos encontros de RPG em que já fui e da vez que peguei um ônibus do lado do metrô Liberdade para ir a um desses eventos, onde conheci outro entusiasta que fazia o mesmo caminho. Aquele colega de RPG foi a primeira pessoa a me abrir os olhos. "Cara", ele dizia, "você já reparou que no universo do Tolkien não existem negros?" e não, eu não tinha reparado, mas ele, como uma minoria dentro de outra minoria, um RPGista negro, tinha reparado e tentava mostrar essas questões para outros de sua espécie, como eu.

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Os encontros de RPG costumavam ocorrer anualmente em diferentes cantos periféricos da cidade, mas, com as culturas nerds cada vez mais populares, houve um aumento considerável do volume de pessoas que gastam seu tempo na frente de miniaturas de elfos jogando dados para acertar monstros com sua espada +2. Como os gostos não costumam se negar, a galera do RPG e do TCG (jogos de cartas colecionáveis) se juntou à galera do anime para formar um bonde sinistro. Junto com o Anime Friends, vários outros eventos estavam rolando, entre eles o Jedicon, grupo de fãs de Star Wars, parcela de tímida presença ao menos no dia em que visitamos o evento, um grupo dedicado à coleção de Playmobil e uma exposição meio capenga de conjuntos diferentes de Lego.

Além dos típicos estandes que vendiam uma quantidade assustadora de bottons, chapéus, gorros, luvas, camisetas e afins, outras partes da feira estavam voltadas para atividades adjacentes ao anime, como campeonatos de vídeo game, uma galera saudável da BWF (Brazilian Wrestling Federation), mostrando seus golpes acrobáticos e ensinando os nerdinhos a derrubar teatralmente um brutamontes com o dobro de sua massa, e uma galera em lugares diferentes da feira jogando/dançando Just Dance, como ilustrado na foto a seguir.

A dança, assim como o anime, junta a humanidade em uma só entidade.

Convenções de anime ainda são dos poucos lugares onde menores de idade podem mostrar suas barriguinhas sem medo de censura, ao mesmo tempo que não demonstram medo algum de fazer papel de ridículo.

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O pior da subliteratura do gênero fantasia, e isso vindo de uma pessoa que já leu um romance do Diablo II, mas só um.

Os otakus também amam.

No palco principal, montado para shows musicais, onde rolou o campeonato internacional de cosplay. Esse foi o mais próximo que a tigrada conseguia chegar dos cosplayers.

Escolhemos o dia 18 para visitar o Anime Friends com o objetivo específico de ver a final internacional do Yamato Cosplay Cup 2014, com cosplayers de vários lugares do mundo como Colombia, Argentina, França, Bélgica, etc. A surpresa não foi o show de fantasias e coreografias arrojadas que esperávamos, mas a impossibilidade de chegar perto para conseguir ver o espetáculo minimamente.

Finalmente, um cosplay que eu conheço! Fionna e Cake, personagens fictícios inventados dentro do universo do desenho Hora da Aventura. Devo ter visto uns três cosplays desses.

Contrariando a ordem comum, em que um ocidental se veste de um personagem oriental, esse cara foi com uma imponente armadura de cavaleiro. Não dá para ver na foto, mas na sacola tinha um monte de Muppy, um tema recorrente na feira.

Harry Plotter: cartazes, banners e adesivos.

Essa visita ao mundo dos animes, mangás e afins serviu para me lembrar de uma coisa. As inexoráveis e ocultas engrenagens do tempo nunca param de se mover e, depois de certo tempo, você inevitavelmente fica velho demais para frequentar certos lugares. Tenho certeza de que esse tipo de evento continuará existindo, com um público crescente disposto a pagar uma módica quantia para habitar temporariamente um espaço improvisado para este fim. Dando uma olhada na página de Facebook do evento a maior parte da galera que foi lá está postando fotos pedindo para mais gente mandar fotos deles fantasiados posando de seus personagens favoritos e, assim como uma grande quermesse de igreja no interior, o evento serve para fazer jovens mais ou menos parecidos interagirem entre si.

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