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Música

Maradona no corpo de uma banda rock

Sangue e suor rock'n'roll.

Existe uma explicação científica para a incrível resistência dos Black Lips, fruto da nossa VICE Records: a elevada humidade de Atlanta, Geórgia, forma os seus próprios campeões. Terá sido o calor subtropical que os espicaçou para a impaciência técnica demonstradas neste rock gloriosamente cretino. Heróis falíveis, como Maradona, perto da cocaína, provaram ser capazes de resistir a uma década de digressões. Com o último 200 Million Thousand, abandonaram a etapa pop de Good Bad Not Evil rumo ao desbarato lo-fi dos primeiros discos. A 11 de Novembro tocam na Caixa Económica Operária, Lisboa, com os Sticks. Ligámos a Cole Alexander, voz e guitarra. VICE: Já começaram a gravar o próximo álbum?
Cole Alexander: Ainda não, mas temos ensaiado e escrito novo material. É provável que comecemos nesta semana ou na próxima. Temos, por esta altura, sete temas por desenvolver. O último álbum parece ser feito de homenagens, ao pugilista Jack Johnson e ao vosso amigo Bobby Ubangi. Essa admiração estende-se a mais alguém?
“Body Combat” contém um sample de Edouard-Leon Scott, de Martinville, na França. Foi ele que, em meados do século XVIII, fez a primeira gravação de voz humana, numa peça intitulada “Au Clair de la Lune”. O sample surge na introdução, quando escutas [Cole reproduz o som]. Foi a nossa ode a Edouard-Leon Scott. Sei que o Jared cresceu rodeado pelo gospel. Qual é a tua relação com o gospel?
Não sou particularmente religioso. A minha família é católica, e, na América, os católicos não se deixam ir na euforia do gospel. Chega a ser entediante. A minha mãe obrigava-me a ir à Igreja, ainda que ela também não fosse muito crente. O meu primeiro contacto com o gospel surgiu mais tarde, quando escutei “Shout”, no filme Animal House. Acabei por comprar umas compilações em cassete e comecei a notar que o enquadramento do gospel era quase pré-punk. É uma semelhança irónica, porque são estilos que parecem opostos. Até tenho participado na produção de um disco de gospel, de um tipo chamado Johnny L. Jones, para a Dust-to-Digital. Tenho reparado que não aparecem em alguns vídeos mais recentes, como “Drugs” e “Let It Grow”. Acreditas que os vídeos absorvem demasiado tempo ou preferes os conceitos psicadélicos em vez da banda a tocar?
Fazemos os possíveis por aparecer nos vídeos. Aqueles em que surgimos acabam por ser os melhores, mas não há tempo para tudo. Mesmo assim, o vídeo que fizemos para “O Katrina!” é um bocado chato, prefiro a canção. Gosto muito dos vídeos de “I’ll Be With You” e “Veni Vidi Vici”. Rejeitámos o conceito inicial de “Let It Grow”, quando nos foi apresentado por uns tipos, mas, ainda assim, eles decidiram levá-lo avante. Mais tarde, vimos a versão completa e achámo-lo porreiro, mas a minha ideia era incluir imagens de cogumelos em crescimento. Propus, então, que acrescentasse, uns cogumelos para que chegássemos a um acordo, e assim foi. Depois dos sarilhos em que se meteram na Índia, ainda pretendem tocar em países tão conservadores como o Iraque ou a Indonésia?
Adoraríamos tocar nesses países. É interessante levar o punk-rock a zonas remotas. Já nos ofereceram alguma ajuda no Iraque, mas nada de concreto. O Iraque é um país decididamente perigoso. O pai de um contacto nosso é iraquiano e costuma infiltrar pessoas no país. A nossa entrada aconteceria num estilo de guerrilha e de forma muito rápida. Há novidades quanto ao feudo entre o tipo dos Wavves e o Jared? Estão decididos a partir-lhe a boca, quando for a Atlanta?
Nem sabia dos pormenores dessa rixa, mas parece-me desproporcional as atenções que atraiu. Trata-se de um episódio clássico de porrada entre bêbados. Estamos habituados a esse tipo de coisas; é frequente levarmos com garrafas e outras merdas. Acontece que o Nathan também é músico, um facto que tornou o acontecimento mais “publicitado”… [risos]. Quando tocaram pela última vez no Porto, sei que não fizeram só amigos…
Pois não. Uns tipos meteram-se connosco, e o Jared e o Joe acabaram por dar um murro num gajo. Temos recebido ameaças de morte que nos garantem que, quando voltarmos a Portugal, estaremos fodidos. Vamos andar atentos quando estivermos por aí.