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Tecnologia

Análise de DNA Indica que a Esquizofrenia Não É Só Um, Mas Sim Oito Transtornos

Ou seja, existem esquizofrenias – no plural.
Imagem do filme Uma Mente Brilhante

É muito raro uma notícia sobre saúde mental virar um dos textos "populares" do Facebook — ou qualquer outra informação relevante, na verdade — mas os compartilhadores da internet ficaram muito interessados em esquizofrenia durante a última semana. O motivo? Um novo estudo sobre as raízes genéticas do transtorno revelou que a esquizofrenia está relacionada a oito aglomerados de genes diferentes. As diferentes combinações possíveis dentro desses aglomerado criam as "harmonias" da psicopatologia; essas harmonias geram o que chamamos de esquizofrenia.

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O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade Washington, em St. Louis, e publicado no The American Journal of Psychiatry, analisou as possíveis origens genéticas da doença em 4 mil pacientes, averiguando mais de 70 mil sequências genéticas em busca de alterações em partes específicas do DNA, fenômeno conhecido como "polimorfismo de nucleotídeo único". Essa alterações individuais não preveem a existência da doença, mas o estudo afirma que esses genes podem se unir em aglomerados específicos, que podem indicar a chance (entre 70% e 100%) do paciente desenvolver a esquizofrenia. Para algumas pessoas, a doença é uma certeza.

UM TIPO PARTICULArMENTE BRUTAL DA DOENÇA DEIXA OS PACIENTES EM ESTADO CATATÔNICO, PRESOS EM SEUS PRÓPRIOS CORPOS.

O fato de a esquizofrenia ser o resultado de vários fatores insignificantes não é muito surpreendente. Ela sempre foi considerada uma "meta-doença". O denominativo comum dos casos de esquizofrenia, e a sua característica mais geral, é o que chamamos de pensamento desordenado, um zumbido assustador de raiz psicológica. No entanto, esse não é um dos sintomas da doença, e é aí que a coisa complica.

Os sintomas da esquizofrenia vêm em grupos: alguns tem delírios e paranóia e outros se isolam e perdem interesse no mundo externo, já outros apresentam ansiedade extrema e despersonalização. Um tipo particularmente brutal da doença deixa os pacientes em estado catatônico, presos em seus próprios corpos.

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Esses grupos de sintomas não podem ser ligados aos diferentes níveis de gravidade da esquizofrenia (apesar de eles serem um fator importante). Parece que alguns tipos de esquizofrenia são diferentes de outros; o que existem são esquizofrenias, no plural.

Os pesquisadores descobriram que isso está ligado à base genética. Ao separar os pacientes por sintomas, ficou claro que alguns agrupamentos de genes estavam ligados à grupos de sintomas específicos. Um exemplo: um conjunto específico de características genéticas indicava ilusões e alucinações, enquanto outro se associava a problemas comportamentais e de fala. "Essas redes genotípicas desajustadas foram associadas a produtos genéticos específicos e síndrome clínicas, por exemplo, as várias esquizofrenias, variando em sintomas e gravidade", afirma o estudo.

O que significa que existem oito tipos diferentes da doença — ou oito pares de agrupamentos genéticos alterados e oito pares de sintomas diferentes. Isso não quer dizer, de forma alguma, que a esquizofrenia não existe; não mais do que a existência de tipos radicalmente diferentes de câncer indicam que o câncer não exista, ou que diferentes tipos de gripe sugerem que o vírus é imaginário. Isso significa que demos um importante passo em direção à criação de tratamentos novos e mais especializados.

Imagine se só existissem um ou dois tipos de remédios para câncer. Esses remédios podem ser um bom tratamento para alguns tipos de câncer, funcionar perfeitamente para outros, e não causa muito efeito em terceiros. É isso que acontece nos atuais tratamentos de esquizofrenia. Alguns sintomas, como delírios e alucinações, podem ser tratados com muita eficiência. Mas muitos sintomas não são tratáveis, considerados como casos perdidos.

Na categoria dos não-tratáveis, temos os que chamamos de sintomas negativos. Essa classe é caracterizada basicamente por um desinteresse profundo pelo mundo: emoções rasas e falta de motivação, perda da habilidade de se expressar e de sentir prazer. Diferenciar os tipos de esquizofrenia e compreender as interações entre os agrupamentos de genes implica em diagnósticos melhores e em tratamentos mais específicos.

"No passado, os cientistas procuravam por ligações entre genes individuais e a esquizofrenia", explicou Dragan Svrakic, co-autor do estudo e professor de psiquiatria na Universidade de Washington, em um comunicado. "Quando um estudo encontrava alguma ligação entre os dois, ninguém tinha o conhecimento necessário para refutá-lo. O que faltava era a ideia de que esses genes não agem independentemente. Eles agem em conjunto para perturbar a estrutura e o funcionamento do cérebro, e isso resulta na doença."

A importância dessas pesquisas é astronômica. A esquizofrenia é uma das doenças mais debilitantes existentes. Um terço dos pacientes diagnosticados irá tentar se suicidar, de acordo com o CDC, e 10% desses terão sucesso. Estima-se que a taxa de desemprego de esquizofrênicos chega aos 80%. Esses fatos têm tudo a ver com os ciclos de tratamentos mal-aplicados e recaídas. A resposta existe, e parece que ela está em nossos genes.

Tradução: Ananda Pieratti