FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Exclusivo! No quarto de GEE-AITCH a electrónica é lo-fi e intensa

José Gentil-Homem é do Porto e esteve 12 anos numa espécie de hiato musical. Com o disco "Left-hand page" estreia-se a solo e abre-nos as portas para o seu universo mais íntimo.

Lo-fi, electrónica, experimentalismo. Há uma aura de mistério a rodear GEE-AITCH, projecto do músico portuense José Gentil-Homem e, nos dias que correm, só isso deveria bastar para captar a atenção de melómanos mais exigentes. Ouvimos demasiadas coisas que nem chegamos a ouvir na realidade, porque ainda vamos a meio da primeira música e já parece que estamos a ficar para trás. Não deixamos as canções respirar. Tudo a mil. Tudo em excesso.

Publicidade

José Gentil-Homem vem de outro tempo. De um tempo em que a partilha musical não era um "share", mas um contacto humano, de mão em mão, do underground para o underground. Dos amigos, para os amigos. Não era melhor, nem pior, era o que era. O que se tinha. Esteve uma vida envolvido em projectos musicais, da folk ao rock mais alternativo, da pop à electrónica. Até parar. Parou numa altura em que este futuro que vivemos hoje mal se adivinhava. Foram 12 anos de hiato até ao projecto GENTLE, com Ricardo Silva Veloso (Neutrino, Zurich Dada) que resultou no EP “I.A.N.D.”, de 2016.

Em 2017, tomou, diz, "a difícil, mas consciente decisão de tentar uma carreira musical profissional" e lançou-se à escrita e produção do primeiro álbum a solo. O resultado é Left-hand page, assinado como GEE-AITCH. Um mergulho de cabeça, denso, assente num universo electrónico caseiro, obscuro, quase claustrofóbico, de recursos mínimos, mas resultados brilhantes.

Basta ouvir este "Shells" (e ver o vídeo editado por Daniel Knox), para percebermos que Gentil-Homem se entregou de alma e coração. Entregou os seus fantasmas à música que queria criar, sem concessões ao que quer que seja. Entrar em "Shells" é entrar na cabeça do músico portuense, num período de dedicação absoluta. "Left-hand page é um álbum conceptual, gravado em casa durante um período de grande introspecção pessoal. A sua sonoridade carrega o momento da criação, num ambiente Lo-fi, com tudo a ser gravado numa perspectiva de 'primeiro take'", explica GEE-AITCH.

E, apesar do imediatismo subjacente a esse "take único", de imediato não há nada nesta electrónica pintada a folk negra, de múltiplas camadas e mil caminhos possíveis. A única coisa que a obra do músico do Porto te exige é tempo e disponibilidade. Deixa-o entrar, gentilmente.


Segue a VICE Portugal no Facebook, no Twitter e no Instagram.

Vê mais vídeos, documentários e reportagens em VICE VÍDEO.