“Belo Horizonte é uma cidade em perfeita harmonia com o skate”, orgulha-se o diretor Daniel Ferreira. “Tem asfalto de qualidade, muitos picos, ladeiras maravilhosas e uma extensão que possibilita usar o carrinho como transporte do dia a dia tranquilamente. Dá pra atravessar a cidade toda remando sem o trânsito caótico de Sampa ou Rio.” Entrelinhas, seu novo vídeo de skate, leva adiante o conceito de Entre Prédios, a estreia nesta modalidade.
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Se no título anterior ele partiu de um retrato da interação do skate com o Centro de Belo Horizonte, o conceito agora é o trânsito livre entre as ruas da capital mineira. “Ando de skate há 17 anos, mas não tinha costume de fazer vídeos, só assistia muito, como todo skatista”, conta ele, que se mudou de Itapira, interior de São Paulo, para estudar em Belo Horizonte.“Eu estava estudando cinema, lidando com teorias da imagem, do documentário, e percebi que os vídeos de skate eram pouco estudados e tinha algo ali muito interessante sobre o formato e circuito de imagens. Então fiz um documentário sobre vídeos de skate [O Skate com a Câmera], e a partir disso também quis começar a produzir e propor algo dentro do formato já estabelecido”, diz.
Fumaça, Gabriel Loureiro e João Gabriel na Avenida Brasil (Frame do vídeo).
Segundo o diretor, a ideia vai além de explorar os meandros de um bairro a outro. Mais que isso, busca traçar linhas de conexão dentro do mapa sobre um skate. “O skate acaba gerando diversas conexões e jeitos próprios de experimentar a cidade. Tentei chegar um pouco mais próximo dos rolés e das relações, algumas das entrelinhas na prática do skate”, observa ele.A produção começou com cenas do Gabriel Loureiro, aka Pitoco, na gaveta desde 2015. Depos foram acrescidas de sessões captadas de uma galera próxima do diretor, os skatistas Cizinho, João Gabriel, Fumaça, Rodrigo Nascimento, Zezé Luiz, Raíssa, Luizin Black, Raphael Alves, e os demais da G7 Crew. “Quando coloquei esse material junto, o vídeo já apareceu”, comenta Daniel. “Então fizemos algumas filmagens ainda, pra ligar tudo e criar uma linha de fluxo no vídeo. Os áudios são originais, coletados no WhatsApp.”
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A trilha sonora original foi desenvolvida com produções do Raphael Bravin, o Fumaça, que além de skatista de milianos, produz beats. “Ele acompanhou de perto a montagem do filme. Fomos construindo a coisa com beats que ele já tinha e gravações que foram feitas especialmente para o vídeo, com a participação do Pedro Fonseca e do Abu, que é MC e assina a poesia recitada”, detalha.
Gabriel Loureiro mandando um wallie na rodoviária (Frame do vídeo).
Diferentemente de outros vídeos de skate, Entrelinhas foca menos na técnica ou na coleção de manobras do que na circulação espontânea pela cidade. Mesmo assim, vale destacar cenas como a parte do João Gabriel na pirâmide da pista nova no Viaduto Santa Tereza e as dropadas do Pitoco na rampa do mesmo pico. “Mas pra mim a melhor é a sequência final do Pitoco descendo da Afonso Pena, a ladeira mais tradicional da cidade", diz Daniel. "Foi a mais embaçada, tivemos que filmar de carro pra estabilizar melhor a lente e foi feita em um take único.”É realmente classe o jeito como o vídeo encerra, uma sacada simples, mas que, realizada em harmonia com a cena e a trilha, expõe a veia documentarista do Daniel. Tal qual o lance da brincadeira com o preto-e-branco quebrado por um colorido ou outro, a narrativa construída pelos áudios de WhatsApp e os recortes inusitados de certas paisagens – tipo quando o enquadramento repousa num transeunte, que passa carregando uma sacola e uma caixa de papelão, para, e olha para baixo da ponte, de costas, no que o skatista surge de figurante, pela direita da câmera. São qualidades de um olhar aguçado, próprio da intimidade com o ambiente urbano.Dá o play:Leia mais sobre skate e outros esportes no canal VICE Sports.Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.