O Animal Collective fala sua própria língua
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O Animal Collective fala sua própria língua

Antes de tocar o álbum 'Sung Tongs' na íntegra em São Paulo e no Rio, o co-fundador do grupo Avey Tare falou sobre como a banda desenvolveu sua própria linguagem para testar os limites da música pop.

O Animal Collective vem de um longo caminho cavando sua própria raia no pop-indie-experimental. Desde 2000, a dupla dinâmica David Portner e Noah Lennox — ou, como bem os conhecemos, Avey Tare e Panda Bear — se empenham em criar algumas das músicas mais doces, psicodélicas e esquisitas que o underground dos Estados Unidos foi capaz de fabricar nas duas últimas décadas.

Esse empenho teve seu pico no álbum Merriweather Post Pavilion, de 2009, em que as explorações eletrônicas da banda calharam de acontecer bem em meio à moderninha new rave, o que produziu alguns dos hits mais conhecidos da banda, como "My Girls" e "Brother Sport". Mas a atenção gerada pela banda começou no acústico Sung Tongs, de 2004, e é ele que a banda vem tocar na íntegra em quatro capitais brasileiras ainda essa semana.

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Já há alguns anos, a atenção em volta do Animal Collective diminuiu consideravelmente: os dois álbuns seguintes ao Merriweather, Centipede Hz (2012) e Painting With (2016), assim como os tantos trabalhos solo de Panda Bear e Avey Tare, falharam em atingir os picos de sucesso que eles conseguiram ao fim da década passada. Mas a especialidade da banda continua presente em todos os seus lançamentos: canções carismáticas que se escondem por trás de camadas de vocais, ruído e instrumentação da mais melódica à mais estridente.

“Pessoalmente, eu gosto de tentar fazer algo que soe tanto familiar quanto estranho”, me contou Avey Tare durante uma entrevista por e-mail. “Se você está falando uma língua que ninguém entende, você vai terminar gritando pro nada.” O que o Animal Collective fez, então, foi criar sua própria língua — que tantos tentaram copiar e acabou de fato só sendo falada por eles, mas entendida por todos.

Leia o restante da entrevista abaixo. O Animal Collective se apresenta tocando o Sung Tongs na íntegra no dia 23 de agosto (quinta) no Fabrique Club em São Paulo, 25 (sábado) no Queremos! Festival no Rio de Janeiro, 26 (domingo) no Music Hall em Belo Horizonte e 28 (terça) no Bar Opinião em Porto Alegre. Ingressos aqui.

Noisey: De todos os discos do Animal Collective, por que vocês decidiram fazer uma nova turnê do Sung Tongs?
Avey Tare: A Pitchfork nos pediu para tocar um disco antigo em um evento de comemoração de um aniversário deles em Nova York em dezembro do ano passado, e o Sung Tongs era o mais fácil pra gente fazer, logisticamente falando. Poderíamos montar uma versão ao vivo do álbum muito rapidamente (acho que tivemos cerca de dois ou três meses). É meio complicado pra gente porque moramos em cidades diferentes (e, no meu caso, em um país diferente).

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Quão diferente é tocar essas músicas agora comparando a quando o álbum foi lançado, há 14 anos? Elas soam diferentes para vocês?
Nós gravamos essas músicas ao final de uma turnê de um ano ou dois em que já as tocávamos ao vivo, e elas assumiram uma forma ligeiramente diferente depois de gravadas. Então, de algum jeito, as músicas que estamos tocando agora nunca foram tocadas ao vivo antes — e algumas das faixas (“Whaddit I Done”, por exemplo) nunca nem ganharam um formato ao vivo antes deste ano. Nas turnês há 14 anos, as músicas eram meio surradas, agressivas e tinham a sonoridade um tanto quebrada.

O que vocês tiveram que mudar nas músicas para tocá-las ao vivo agora?
Porque estamos fazendo a turnê em apenas duas pessoas, tem alguns overdubs que não faremos, mas acredito que as músicas não vão sofrer tanto por isso. Adicionamos algumas coisas aqui e ali e tocamos algumas músicas que foram escritas naquela época mas não entraram no Sung Tongs.

A banda passou por muitos ciclos de hype, mas parece que isso cessou de uns anos pra cá. Qual é o status atual do Animal Collective em termos de público?
Tivemos um público nebuloso ao longo dos anos — as pessoas vêm e vão, mas acho isso normal. E eu devo dizer que tem muita gente que se manteve junto com a gente ao longo dos anos. E sou muito grato por todos eles. Surpreendentemente (talvez, pelo menos é pra mim), o público dos nossos shows hoje é muito novo. Acredito que a maioria da galera tenha uns 20 anos mais ou menos.

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O termo “pop experimental” é meio um paradoxo. Qual a fórmula do Animal Collective para fazer música pop que também esteja a frente de seu tempo?
Acho que eu diria que gostamos de fazer um som que reflete uma ampla gama de interesses e experiências. Pessoalmente, eu gosto de tentar fazer algo que soe tanto familiar quanto estranho. A maior parte das músicas que ressoam comigo seguem essa linha. Se você está falando uma língua que ninguém entende, você vai terminar gritando pro nada.

Como as mudanças no mercado e indústria da música afetaram o Animal Collective ao longo dos anos?
Não experienciamos muitas das mudanças da indústria da música porque estabelecemos nosso próprio jeito de trabalhar logo antes de tudo mudar. Esse ciclo está chegando ao fim pra nós então é um período interessante e empolgante. Eu sinto que podemos escolher muitos caminhos a partir daqui.

Você também fez muito trabalho solo. Qual a diferença entre compôr para o Animal Collective e para seus próprios trabalhos solo?
A maior parte é sobre notar que coisas permitem que outras pessoas contribuam. Normalmente, eu sei pra que direção estou apontando (banda ou solo) antes de eu começar uma música ou ideia. Eu acho menos confuso fazer dessa forma. As duas coisas são bem diferentes e eu acho que ficar vacilando entre uma e outra mantém as coisas frescas.

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