Fotos de dois artistas que abordam retratos de jeitos muito diferentes

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Fotos de dois artistas que abordam retratos de jeitos muito diferentes

Uma entrevista de Elliot Jerome Brown Jr. com seu ídolo escolhido, Carrie Mae Weems, e uma explicação do trabalho de cada um.

Para nossa edição de fotos deste ano , falamos com 16 fotógrafos em ascensão e perguntamos que fotógrafos os inspiraram a entrar para o meio. Depois abordamos seus "ídolos" para saber se eles estavam interessados em publicar trabalho na nossa edição. O que nos deram, achamos, cria um diálogo único sobre a linha de influência entre jovens artistas e fotógrafos com uma carreira mais estabelecida. Esta matéria apresenta uma entrevista de Elliot Jerome Brown Jr. com seu ídolo escolhido, Carrie Mae Weems, e uma explicação do corpo de trabalho de cada um.

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Elliot Jerome Brown Jr. entrou para a fotografia através do autorretrato, usando isso como um meio de entender e confrontar cruzamentos de sua identidade. "A câmera me deu um meio de idealizar e celebrar versões diferentes de mim mesmo", ele explicou. Brown recebeu seu bacharelado em Belas Artes pela NYU no começo do ano, e atualmente é parte do programa de residência da Skowhegan School of Painting and Sculpture.

Foto por Elliott Jerome Brown Jr.

Foto cortesia de Carrie Mae Weems e Jack Shainman Gallery.

Seu ídolo para a Edição de Fotos 2017, Carrie Mae Weems, é uma fotógrafa vencedora da MacArtthur Foundation Genius Grant de Portland, Oregon, que atualmente mora e trabalha em Nova York. Seu trabalho, que combina vídeo, texto e fotografia, comenta e critica as experiências de pessoas não-brancas, particularmente mulheres, nos EUA, abordando as limitações sociopolíticas que os afro-americanos continuam a encarar hoje. O trabalho de Weems já foi exibido em mais de 50 galerias e museus dos EUA e exterior, e continua a influenciar uma geração de jovens artistas e ativistas.

Carrie Mae Weems Slow Fade to Black, Set I (Ethel Waters), 2009–10 Inkjet on paper Series of 14 images each: 11 3/4 x 8 3/4 inches image size 12 3/4 x 9 3/4 inches framed © Carrie Mae Weems. Courtesy of the artist and Jack Shainman Gallery, New York

Foto cortesia de Carrie Mae Weems e Jack Shainman Gallery.

Foto por Elliott Jerome Brown Jr.

Elliott Jerome Brown Jr: No que você vem trabalhando em seu estúdio agora?
Carrie Mae Weems: Estou preparando uma performance que vai para o Kennedy Center. Ela se chama Grace Notes. Estou tentando arrumar o roteiro e trabalhar na música. Estou em contato com mais gente agora do que a lei permite [ risos]. Tipo, caramba, sabe? Equilibrar músicos, cantores, produtores, tipo, é muita coisa. Mas está saindo. Então estou contente com isso. Mas ainda falta tanta coisa! Também estou trabalhando em algumas exposições em vários lugares, tentando deixar todas prontas. Sempre fico impressionada como por mais que você trabalhe, ainda tem coisas pra fazer no dia seguinte. Mas acho que essa é a condição humana. Você nunca pode desistir – tem sempre algo que você deseja, para que você está trabalhando, algo que você está tentando resolver, trabalho que está tentando imaginar, e tentando entender como você pode fazer acontecer. Como as coisas devem parecer.

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Às vezes baseio meu trabalho – sou principalmente fotógrafo – em imagens. Penso muito em visibilidade e invisibilidade, e trabalho com indivíduos cujos corpos não me pertencem, mas estão próximos de mim. Compartilhando partes deles com o mundo, por outro lado penso muito em privacidade. Uma coisa que me atrai no seu trabalho é como você desloca sua narrativa individual em favor de algo mais geral, mas ainda mantendo essa especificidade. E assim você acaba compartilhando muito de si mesma e de suas experiências com o espectador. A principal questão que tenho aqui é se você pensa em privacidade e quando você acha que é poderoso não ser visto.
Não penso tanto assim em privacidade. Isso simplesmente não me preocupa muito. Penso assim: se estou trabalhando num projeto, coloco tudo que acho que preciso colocar nele, e depois você apenas deixa as coisas se encaixarem onde devem. Acho que é muito importante simplesmente estar o mais aberto possível ao que o trabalho está te pedindo, e sair do caminho quando o trabalho precisa que você faça isso. Geralmente o trabalho é muito maior que você. Muito maior que o olho. Se você diz que está tentando expor o invisível, então você já está falando de algo muito maior que você. Então não há privacidade. Muito tempo atrás, aprendi que a coisa mais importante é colocar na mesa o que você acha que é preciso colocar. Aí você pode tomar essas decisões editoriais sobre o que você quer compartilhar com todo mundo. Porque as pessoas precisam saber o que você está pensando, mas precisam saber a parte crítica. E nessa questão, você precisa conhecer essas partes críticas e o que pertence a você como seu próprio processo, imaginação e capacidade. O que acho tão incrível nesse trabalho é que normalmente os melhores, mais criativos e importantes artistas são aqueles que vão além de seu próprio fato e condição para falar sobre a condição. E falando em condição, você fala sobre você, certo? Porque você não é diferente da condição, ou das pessoas nessa condição, situação, história ou narrativa. Você é o tema – você é sempre o tema. Você frequentemente é a entidade observadora participante. O casamento dessas duas coisas é maravilhoso, excitante e necessário. Mas a ideia de ir além de seu próprio fato, se abrir para o fato e como você o entende da maneira mais profunda possível, é a coisa mais desafiadora e assustadora que você pode fazer como artista.

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E assim você me leva à próxima pergunta. Pensando mais nas ferramentas que você emprega no seu trabalho – graça é uma das mais importantes. Fico curioso sobre por que você acha que graça é uma abordagem útil para o seu trabalho.
Bom, isso é muito interessante. Graça e fé são evidências de coisas não vistas. É como a ascensão da coisa de sua invisibilidade. Expor o potencial, a possibilidade, o olhar, expor o gesto. Expor algo que é complexo, profundo e amplo. Algo extraordinário e marcante sobre quem somos como temas humanos e pelo que lutamos. Então estou interessada pelo que lutamos e como lutamos pela nossa humanidade em todos os casos. Estamos todos engatinhando para a essência mais profunda de nós mesmos, e nosso entendimento de quem somos neste momento do planeta. E assim, o que acho mais marcante é como os negros historicamente se conduziram para abraçar não só sua humanidade, mas a benção extraordinária de estender essa humanidade – mesmo para os perpetradores da violência e pessoas que vêm agindo consistentemente contra eles. Em parte, é isso que você está dizendo no seu trabalho. "Estou aqui. Esse é o sopro da minha humanidade em exibição. Para te mostrar, até certo ponto, quem sou. E por extensão, quem você é." E acho isso incrível e marcante. Uma qualidade extraordinária. Mas quando você tem as circunstâncias da nossa vida, que nos despiu até os ossos de quem somos, é uma benção e uma maldição estarmos diante de nós mesmos e do mundo, nus de um jeito que muitos grupos nunca tiveram que se mostrar. Isso é nosso dom e nossa tribulação.

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Eu queria elaborar sobre essa nudez um pouco mais: que histórias estão disponíveis e quem as pessoas precisam conhecer para coordenar suas próprias vidas. Se estamos contextualizando sobre como negros se movem pelo mundo, tem algo em seus altos e baixos que as pessoas precisam ter consciência para identificar com suas próprias ações no mundo. E isso me lembra de algo que eu estava assistindo outro dia – uma conversa liderada por Ryby Sales. Ela estava dizendo como se interessa por uma teologia branca libertadora. Há muita linguagem ao redor de libertação e como isso se relaciona a pessoas negras, e há um tipo de sensualidade nisso que atrai, mesmo quem não é negro, para essa linguagem e investigação de como podemos ajudar pessoas negras. Ela estava interessada em como podemos ajudar os brancos a libertarem a si mesmos. Ela não vê isso como uma conversa popular, porque ela não vem com a sensualidade que o trauma negro contém. Estou curioso se essa nudez de que você fala se liga a isso.
Acho que sim de certa maneira. Porque os negros estão nus; os brancos estão muito fechados. E vestidos. E isso é meio que a essência da coisa toda. Está tudo enterrado ainda nas armadilhas da suposta humanidade. Mas eles não foram testados neste país da mesma maneira que nós fomos – em grande parte. Isso não é 100% verdade para tudo, mas é a condição geral. E acho que isso tem um grande potencial. Quando você está nu e foi despido até a essência do seu "eu", isso te dá uma grande sensação de liberdade para agir e ser. Mesmo sob todo o olhar do racismo que aponta para nós, ainda somos capazes de lidar com a humanidade em nós porque essa é nossa condição. E por extensão, acho que aqueles que estão olhando para isso, confrontando isso abertamente, acabam tendo que lidar com alguns aspectos de si mesmos. Por isso estamos à frente da discussão sobre raça. Porque negociamos isso todo dia.

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O que você acha que seu trabalho ainda precisa fazer? O que ainda não está completo?
Não sei. Venho para o meu estúdio todo dia pensando. Constantemente tentando entender como tornar o invisível visível. E há pontos diferentes de entrada. A questão essencial de negociar o alcance, amplitude e profundidade da minha humanidade é a base de todo trabalho que não mudou. E a única coisa que estou tentando fazer agora é descobrir como fazer isso melhor. Todo dia. Entendendo como sair do trabalho, e como não bloqueá-lo. Aceitamos muitos bloqueios para nós mesmos, individual e diariamente. Às vezes as questões que fazemos a nós mesmos são tão complexas e assustadoras que não queremos encará-las. Então bloqueamos, ficando na frente do trabalho, e como resultado fazemos algo que não tem ressonância. O mais importante é o que estou tentando fazer agora – sair do caminho. Deixar o trabalho ser o que realmente pode ser, o melhor e mais profundo que pode ser. Me doar e permitir a mim mesma tempo para fazer o trabalho do jeito certo. Estou com 60 e poucos anos agora, e o tempo está acelerando. Está passando mais rápido. Essa questão de ser produtiva, aberta, limpa e honesta – tentando chegar mais perto dos ossos do tema, da essência, o máximo que eu puder, continua meu maior desafio. Então em alguns dias sinto que só estou começando, e em outros chego ao meu estúdio, vejo um livro que fiz 40 anos atrás e penso: "Uau, você está nesse caminho há muito tempo, irmã".

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Foto cortesia de Carrie Mae Weems e Jack Shainman Gallery.

Foto por Elliott Jerome Brown Jr.

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