50 anos depois, o Magma continua a desafiar os padrões da música

FYI.

This story is over 5 years old.

Noisey

50 anos depois, o Magma continua a desafiar os padrões da música

Criada em 1969, banda francesa de rock progressivo toca pela primeira vez no Brasil em 26 de novembro.

Na ativa desde 1969, o Magma é conhecido principalmente por tocar um som muito próprio e difícil de definir, uma mistura de rock progressivo com jazz, chamada muitas vezes de Zeuhl, uma palavra retirada do idioma Kobaïan, criado pelo próprio grupo francês para escrever suas letras.

Após quase 50 anos na ativa, a banda fundada pelo baterista Christian Vander, único membro original na formação atual, finalmente fará a sua estreia nos palcos brasileiros com um show em São Paulo no dia 26 de novembro no Carioca Club.

Publicidade

Mais recentemente, o trabalho dos franceses passou a receber um maior reconhecimento com o Magma sendo citado como influência pelos mais variados artistas, incluindo desde Steven Wilson e seu Porcupine Tree até nomes importante do metal como Opeth, Baroness e Sunn O))).

Na entrevista abaixo, feita por e-mail, Vander fala sobre as suas expectativas para esse primeiro show no Brasil, como foi criar uma língua própria para a banda, a importância de John Coltrane na sua vida, a amizade da sua mãe com nomes como Billie Holiday e a recepção recente pela comunidade metal, com direito a shows em festivais como Roadburn e Hellfest nos últimos anos, entre outras coisas.

Noisey: Você está prestes a tocar com o Magma pela primeira vez no Brasil. Quais as suas expectativas para o show e para a viagem?
Christian: Estamos muito ansiosos para tocar no Brasil. Só estivemos no Chile na América do Sul até agora, em 2013. Sabemos pelas redes sociais e tudo mais que temos um verdadeiro grupo de fãs no Brasil. Mas além deles, também esperamos ver no show as pessoas em busca de um tipo de música diferente do que escutam no dia-a-dia nas principais rádios.

Aliás, você conhece alguma banda ou artista brasileiro de samba ou bossa nova? Sei que você é muito influenciado por jazz, mas em alguns momentos também consigo ouvir um pouco desses estilos na sua música.
Não conheço realmente nenhuma banda ou artista atual do Brasil. Mas é claro que conheço e adoro artistas como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Gilberto Gil, João Gilberto, Caetano Veloso, Baden Powell e muitos outros.

Publicidade

Você literamente criou um idioma para o Magma, o Kobaïan. Como ele te influencia na hora de escrever as músicas da banda? O que vem primeiro, a ideia para a música ou o tema principal das letras?
O francês não era expressivo o suficiente para o som da música que eu tinha na minha cabeça. O Kobaïan é um idioma que está em constante evolução e os sons/palavras vêm de maneira orgânica quando estou compondo. Quando trabalho em um material novo, novas palavras também aparecem. Porque a música exige isso; eu não decido.

Você possui algum tipo de livro e/ou dicionário Kobaïan em que fica adicionando novas palavras e significados?
Possuo um caderno de anotações desde o início onde adiciono novas palavras. Mas o significado de cada termo não vem de maneira de imediata, eu preciso de algum tempo antes para descobrir o que elas significam. Sei que um fã montou um dicionário online com muitas palavras (do idioma).

Nos últimos anos, o Magma foi meio que abraçado pela comunidade metal, tocando em festivais com o Roadburn e Hellfest, tendo discos lançados pela Southern Lord e com alguns artistas da cena, como Opeth e Baroness, falando sobre a importância e a influência da banda em seus trabalho. Por isso, quero saber algumas coisas relacionadas a esse assunto. Em primeiro lugar, como foi tocar para um público tão diferente e com bandas tão diversas em festivais como o Roadburn (em que estiveram duas vezes) e o Hellfest?
Foi muito gratificante. Descobrimos que o público era muito mais atencioso e respeitoso do que imaginávamos. E muito cabeça aberta também. Foi uma surpresa muito legal.

Publicidade

Ainda sobre essa relação com o metal. Como é saber que a sua música impactou essa música mais pesada e às vezes até extrema? Enxerga alguma semelhança na abordagem musical do Magma e das bandas de metal?
Penso que a intensidade que colocamos em cada nota é a ligação entre a música do Magma e a maneira como as bandas de metal tocam. Para muitos músicos jovens pelo mundo, o Magma é o máximo em termos de habilidades musicais e também na maneira como um músico precisa dedicar sua vida à música.

Você curte alguma banda de metal? Caso sim, quais as suas favoritas?
Não conheço realmente nenhuma banda de metal, com exceção dos nomes das bandas que nos convidaram para tocar: Opeth, Baroness. E também o Sunn O))), mas isso é outro tipo de coisa, mesmo que eles também toquem em festivais de metal.

Por favor, me diga três discos que mudaram a sua vida e por que eles fizeram isso.
Eles não “mudaram a minha vida”, mas foram os mais importantes. São três discos do John Coltrane: A Love Supreme (1965); At the Village Vanguard Again (1966), porque ninguém tinha escutado algo assim antes! e Expression (1967). Ele tinha um pé aqui, mas já estava com o outro pé em outro mundo. Era a música mais bonita que eu já tinha escutado. Ao mesmo tempo, sentia que era o último álbum dele ( Nota do repórter: Realmente foi o último álbum do músico) e isso me deixou triste. Senti algo que nunca tinha sentido antes.

Quando você começou a tocar bateria e quem eram os seus heróis na época?
Ouvia muito jazz com a minha mãe, que por acaso era muito amiga da Billie Holiday, do Elvin Jones, do Bobby Jaspar, etc. Ela costumava me levar aos clubes de jazz quando eu tinha 5, 6 anos de idade. Lá eu tive a chance de ficar perto de bateristas incríveis e fiquei fascinado pelo som de chimbal deles. Minha maior influência é o Elvin Jones, ele é o maior.

Quando você começou a banda, em 1969, esperava que estariam juntos tanto tempo depois? E qual o significado da banda na sua vida?
A música é o significado da minha vida. Sempre quis viver na música, de música. Para mim, isso não é uma profissão. A música é a minha vida. Só estou feliz quando toco.

O Magma se apresenta em São Paulo neste domingo, 26 de novembro, no Carioca Club em Pinheiros. Maiores informações e ingressos aqui.