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Música

Uma entrevista que se lê da frente para trás e de trás para a frente

Estamos a falar da Capicua, claro.

A nossa amiga Capicua (que, no ano passado, marcou toda a gente por confirmar que é uma "Maria Capaz") tem uma nova mixtape. Capicua Goes West é a sua segunda investida nestas lides: seis temas inéditos, novas letras, com instrumentais de Kanye West. A partir de amanhã, dia 31, Capicua Goes West (e os seus discos e mixtapes anteriores) ficarão disponíveis no novo site desta rapper portuguense. Dia 22 de Fevereiro e a 1 de Março há apresentação deste trabalho na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, e no Plano B do Porto, respectivamente. Mas, como o que importa é saber o que a autora tem a dizer, fui fazer-lhe umas perguntas, para ficar a saber mais sobre o que podemos esperar de Ana Matos. Fotografia por Ana Limão VICE: Achei curiosa a escolha dos excertos incluídos nesta mixtape. Desde Zeca Afonso até ao Ricardo Araújo Pereira… Uma espécie de olhar para o passado e presente de Portugal. Foi intencional?
Ana Matos: É óbvio que os excertos espelham e louvam algumas referências do meu/nosso património cultural, passado e actual, mas servem também para apimentar os temas, enriquecendo-os com recortes de outras vozes e, no plano geral, compondo uma espécie de colagem de coisas que me inspiraram. A selecção dos recortes foi acontecendo de forma variável, uns eram uma certeza desde o início, outros foram fruto de uma busca mais ou menos esforçada. Depende. Porquê Capicua Goes West? Achas que, apesar de a tua música já ter sido super bem recebida, esta mixtape vai ajudar a passar a palavra da Maria Capaz?
Porque eu gosto de fazer música e, portanto, sinto a necessidade de ir criando coisas novas para partilhar com as pessoas. Além disso, esta mixtape é a segunda parte de uma trilogia que comecei em 2008 (com Capicua Goes Preemo) e o público que me segue há mais tempo já me andava a cobrar a continuação da “saga”! Divirto-me muito com as mixtapes, são despretensiosas, intuitivas e como são mais rápidas de fazer do que os álbuns, reduzem muito o hiato temporal que existe entre o estúdio e o público. Numa entrevista, disseste que fazes as coisas à tua “imagem”. Ou seja, é tudo muito pessoal. O que é mais pessoal nesta mixtape, para ti?
Tudo! A motivação e a energia que está na sua origem, as letras, os detalhes, as escolhas, a estética, o conceito. É a minha música, aquilo que mais gosto de fazer e aquilo que melhor expressa o que quero dizer, o que sinto, a minha perspectiva do mundo, etc. Parece-me que te interessa a cena rap dos Estados Unidos, da época dos 90’s (com Ludacris, Nas), mas ao mesmo tempo utilizas Kanye West… Explica-me melhor o porquê disto.
É muito simples, não tem a ver com estilos, correntes ou épocas. Tenho uma relação completamente utilitária com beats e escolho os beats que me servem, em cada momento, para um determinado tema, um ambiente, um feeling, um objectivo. No caso desta trilogia de mixtapes, espaçadas no tempo, vou escolhendo o produtor cujo trabalho, por alguma razão, constitui um desafio em cada fase da minha evolução enquanto Mc. No caso da primeira mixtape (em que escolhi o espólio do DJ Premier), queria explorar a simplicidade do Boom Bap clássico e construir músicas livres de tema, trabalhadas linha a linha, jogando com o impacto da palavra, muito exposta pelo minimalismo do beat. Neste caso, escolho o Kanye West pela sua versatilidade, já que queria experimentar ambientes muito diferentes e conseguir marcar em todos eles o meu cunho pessoal. Era esse o “exercício do momento”. Capicua, o disco, era muito autobiográfico. Esta mixtape também o pretende ser?
Não foi um objectivo consciente, como no caso do álbum, mas acabou por ter dois temas marcadamente pessoais: o “Amigos Imaginários” e o “Vinho Velho”. Acho que acaba por ser inevitável usarmos a nossa vida para alimentar as nossas letras, já que usamos a escrita também como uma forma de catarse. Esta tem de ser: para quando um novo disco?
Espero que para o Outono! Quero fazer um disco quase acústico, com viola, beatbox, scratch e algum sampling. A ideia é usar esse formato para fazer versões de algumas músicas do álbum e das mixtapes e juntar alguns inéditos, trabalhando com o Mistah Isaac e com o meu companheiro de sempre: o D-One! Queria que fosse um disco intimista e delicado, para tocar pertinho das pessoas.