Estivemos lá e vimos: Ratos do Porão

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Música

Estivemos lá e vimos: Ratos do Porão

João Gordo a incendiar o Hard Club.

Fui ver Ratos do Porão num dia quente. Mas não tão quente como estava a sala 1 do Hard Club, que escaldava (ou não fossem os Ratos do Porão os cabeças de cartaz). O hardcore luso dos Challenge abriu a noite para uma plateia ainda um pouco tímida, mas o Edgar — vocalista deste colectivo das Caldas — não se intimidou com a responsabilidade e liderou uma performance recheada de garra e energia. Os Mr. Miyagi também não desiludiram e conseguiram fazer com que o seu som "punkrockeiro" pusesse a multidão a mexer em tímidas (ainda) rodas nas quais Ciso San, o vocalista de pé descalço, foi o líder descendo do palco de microfone na mão e indo para o meio do pessoal continuando a cantar. E já com uma sala bem composta e bem acesa que os Simbiose subiram ao palco. Uma boa escolha para anteceder a RDP. Os Simbiose têm um estilo bastante parecido ao dos brasileiros, são competentes na sua performance e foram responsáveis em grande parte pela brutalidade que se instalou naquele espaço, onde até a grade que separava o publico do photopit abanava. Os seguranças estavam empenhados na tarefa (complicada) de retirar o pessoal que saltava para o palco para alguns stage dives ou que literalmente trepava para se aproximarem o mais possível. O clímax — sim porque este crescendo de emoções culminaria da melhor forma possível — chegaria com os veteranos e amigos de longa data: os Ratos do Porão que, 12 anos depois, regressavam à casa mãe da cena alternativa portuense trazendo consigo cânticos de inconformismo, crítica e revolução. Ah, as palavras dos RDP são tão pensadas e necessárias hoje em dia! Aliás, ao ver o caos alegre instalado naquela sala, onde até muletas e cadeiras de rodas andavam pelo ar imaginava a próxima manifestação nacional liderada por este colectivo brasileiro. Talvez seja isso que falta para o povo português acordar — a força e a energia da música de contestação, o sangue quente do povo brasileiro que tanto nos tem ensinado nestes últimos tempos. Profissionalismo, carisma, simpatia, são meras palavras para caracterizar estes veteranos, os quais passados 33 anos de comunhão musical continuam a ter a mesma garra e a mesma força de sempre e a elevar os espíritos daqueles que os escutam. João Gordo terminaria a noite cansado (notava-se na sua voz rouca de 49 anos), mas deixava para traz uma plateia feliz e suada que espera que o regresso não demore muito tempo.

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