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Tecnologia

Nossas Memórias Digitais Definham em CD-Rs Obsoletos

Investir em novas tecnologias de curta duração pode ser cilada.
​Crédito: Brian Teutsch/Flickr

​Há uma vantagem em ser o primeiro a utilizar novas tecnologias. Dá para se exibir para os amigos. Você se sente parte DO FUTURO. A longo prazo, contudo, você também se ferra. Nossas fotos digitais do início dos anos 2000 estão definhando no inferno da baixa resolução, em CD-Rs praticamente inúteis, em estágios variados de degradação.

O fim dos anos 90 e o começo dos anos 2000 foram épocas incríveis para sair e comprar câmeras digitais, claro. Dava para gastar centenas e centenas de dólares numa Sony DSC-F1, por exemplo, uma câmera monstruosa de alta tecnologia que oferecia uma resolução de 0,3 megapixel.

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No ano 2000, dava para comprar uma Olympus D-460, uma câ​mera de 1,3 megapixel com zoom ótico de 3x, ou uma D-490,a p​rimeira câmera compacta de 2 megapixels do mundo a menos de 500 dólares (custava 499 dólares). Milhões e milhões de pessoas compraram essas câmeras e câmera​s semelhantes.

As fotos que essas máquinas tiraram são e semp​re serão terríveis. E salvamos tudo nos nossos computadores monstruosos de mesa com processadores Pentium II, e queimamos CD-Rs que compramos em supermercados, em pacotes de 50 ou 100 unidades por cinco centavos cada. Ou recebemos os CD-Rs pelo correio, em promoção. Onde estávamos com a cabeça?

Recentemente, eu estava revirando quinquilharias e encontrei diversos CD-Rs danificados — alguns sequer tinham etiqueta e título escrito com canetinha, mas a maioria dizia coisas como "VIAGEM PARA NOVA YORK - FOTOS". O problema é que, diferente das fotos analógicas, de filme, que encontrei pelos cantos — do início dos anos 90, dos anos 80, álbuns dos meus pais ou até mais antigos —, não faço a menor ideia de como são essas imagens. Não tenho mais entradas para CD-R.

Dez anos atrás, isso soaria inacréditavel. Sem entrada para CD-ROM? Nem para DVD-ROM? O que diabos você usa para fazer backup? Meu eu de 16 anos de idade provavelmente teria feito essas perguntas em um tom sarcástico.

Enfim, cá estamos, em um mundo onde o progresso tecnológico facilitou o arquivamento e o backup das nossas memórias, e um mundo em que, poucos anos depois, o progresso tecnológico deixou esses materiais de arquivo anteriores completamente obsoletos, talvez até completamente inúteis. Imagino que o mesmo tenha acontecido com disquetes.

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Créditos: Daniel Oines/F​lickr

Embora eu não tenha checado os CD-Rs para ver se ainda contêm minhas fotos (imagino que a maioria contenha, apesar de vários estarem desbotados, bem riscados ou com outras imperfeições) As câmeras digitais que eu tinha na época se extinguiram em comparação — de uma perspectiva de qualidade de imagem — à máquina analógica mais baratinha, e eram risíveis perto das câmeras de smartphones atuais. Em outras palavras, nossas fotos da época eram — e sempre serão — borrões caóticos.

Estou certo disso, pois encontrei algumas fotos que eu havia imprimido. São terríveis. Foram reproduzidas em papel-padrão para impressão a jato. Me deixam tão triste.

A longevidade de discos CD​-R é um assunto surpreendentemente controverso. Há quem diga que CD-Rs baratos começam a expirar cerca de meio segundo​ depois da gravação terminar; outros dizem que duram 200 anos. Mas em 200 anos, céus, em cinco anos, que seja, quem será capaz de abrir os arquivos? Dá para fazer isso agora, mais ou menos, se você se der ao trabalho de encontrar alguém que ainda não investiu em um MacBook Air, um ultrabook ou um tablet.

Evidentemente, estou exagerando um pouco. Muitas pessoas tirarAm fotos digitais e analógicas, e salvaram cópias com responsabilidade. Nem todo mundo era um adolescente bobo que achava que poderia tacar qualquer coisinha num CD-R e depois guardar numa caixa de sapato.

Mas isso me faz parar para pensar — o que usamos hoje será obsoleto e chato de usar daqui a 10 anos? Acreditamos que nossas fotos estão seguras no Facebook até o fim dos tempos, mas será que estão mesmo? Será que nossas coisas permanecerão na nuvem, disponíveis para visualização quando bem entendermos? Será que vamos rir de cartões SD e HDs externos? Ou será que estamos numa era de excessos em armazenamento digital e enfrentamos o problema oposto? Onde há tanta coisa para ver, que nada tem valor e tudo é inútil.

Enfim, quero dizer que, OK, coisas novas são legais. Mas antes de pularmos no barco de uma nova tecnologia, vale a pena considerar o que estamos deixando para trás — e se a nova tecnologia terá o poder duradouro de reter nossas vidas digitais.

Tradução: Stephanie Fernandes