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Faz 10 anos que o Chorão foi no 'Ensaio' contar como ele socou o Marcelo Camelo

Em 16 de fevereiro de 2009, o eterno Choris foi ao programa da TV Cultura e explicou — de forma memorável — sua briga com o líder do Los Hermanos.
Chorão
Reprodução/TV Cultura

2019 marca o sexto ano que estamos sem uma das presenças mais marcantes da cultura pop brasileira nos últimos 20 anos. Alexandre Magno Abrão, nosso querido e estimado Chorão, foi encontrado morto em 6 de março de 2013 e a música brasileira tem sido consideravelmente mais chata desde então. Muitos momentos icônicos e preciosos marcaram a estadia de Chorão neste planeta, como quando ele puxou briga com o Badauí, do CPM22, ou quando ele fez um breve cover de Fugazi durante o Acústico MTV do Charlie Brown em 2003. Um desses célebres momentos foi, certamente, quando Choris explicou seu lado de sua notória briga com Marcelo Camelo, vocalista do Los Hermanos, há 10 anos.

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A história foi contada no dia 16 de fevereiro de 2009, quando o Charlie Brown Jr. compareceu ao programa Ensaio, comandado por Fernando Faro na TV Cultura, pra tocar alguns sons e falar sobre a trajetória da banda. Lá pela meia hora de programa (mais especificamente aos 29 minutos e 18 segundos, se você assistir no vídeo oficial no canal da TV Cultura), Chorão é perguntado sobre a tal briga (que ele chama, muito elegantemente, de um "incidente").

Até então, os eventos pareciam um pouco nebulosos na cabeça de nós, meros espectadores. A primeira vez em que ouvimos falar do desentendimento entre os dois tão queridos músicos foi bem quando Chorão deu uma cabeçada no nariz e um soco no olho de Camelo na sala de embarque de um aeroporto em Fortaleza. O motivo, deu uma reportagem do Fantástico no mesmo dia, teria sido uma entrevista à revista Oi em que Camelo criticava o comercial que o Charlie Brown havia feito para a Coca-Cola.

O Charlie Brown publicou uma nota de retratação pedindo desculpas pela agressão e a briga foi parar até na Justiça, fazendo Choris pagar uma indenização a Camelo num processo que tramitava pelo menos até 2015, como foi reportado pelo R7.

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Isso é o que temos de fatos. Mas os fatos, muito sinceramente, pouco importam na versão de Chorão no Ensaio, porque o que há de se apreciar é o storytelling. "Eu não tenho muito o que me explicar disso", ele começa, antes de prosseguir numa obra-prima narrativa pelos próximos oito minutos. Segundo Chorão, a declaração à revista Oi não tinha sido a primeira vez que Camelo tinha falado mal dele (ou "se pronunciado negativamente") ou do Charlie Brown: os comentários eram praticamente já uma constante para o Hermano. Ele cita um encontro na MTV em que já tinha pedido a Camelo para que ele parasse com as declarações. O músico se mostrou solícito e, com "grande falsidade", atribuiu a culpa dos incidentes a intrigas de jornalistas, dizendo que não aconteceria de novo.

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Pois bem. Um ou dois meses depois, Chorão recebe uma ligação de Camelo e, apesar do medo de que fosse um convite para tocarem juntos, teve uma surpresa quando ouviu que o vocalista queria se desculpar por ter falado sobre o Charlie Brown novamente. Nesse momento, Chorão já faz questão de se colocar como fundamentalmente oposto ao seu rival: se Camelo é do amor, do Chico Buarque, da poesia, Chorão não sabe fazer poesia mas quer que se foda, porque ele odeia gente chique e não usa sapato (guarde essa informação aqui). Cada um tem seu modo de viver, diz Chorão, portanto a perseguição já não fazia sentido.

A construção de personagem de Camelo também vai ficando mais complexa conforme a história corre: no começo um cara pseudo-bem-intencionado e que diz buscar o melhor pros outros, ele vai se transformando um vilão ardiloso e fingido. Vide ter abandonado o hardcore em favor da MPB, como explica Chorão.

É aí que o clímax da história começa, no tal do episódio do Aeroporto de Fortaleza, quatro meses depois. A discussão já começou no avião, quando Camelo não-solicitadamente encostou em Chorão e pediu pra que eles conversassem. Choris negou e disse que, se ele não se colocasse no seu lugar, descobriria logo que era só um ursinho de pelúcia do rock. Depois, ele narra o que aconteceu na saída do avião: "No saguão do aeroporto, a gente acabou se encontrando enquanto eu amarrava meu sapato. Meu sapato não, meu tênis. (!!!) Quando eu vi, estavam os quatro barbados ali. Me levantei e vieram todos em cima de mim. Eu só me defendi, mas numa briga quem não bate apanha."

O resto é história. Chorão se despede da melhor história oral contada nos últimos 10 anos mandando um beijo pro Camelo e, na sequência, toca "Papo Reto". Quando eu escuto a frase "Chorão Eterno", me lembro desse vídeo com uma clareza vívida que poucas peças audiovisuais me proporcionaram na vida.

Quem produz conteúdo neste nível realmente nunca vai morrer.

Descanse em paz, Choris.

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