Militares israelenses auxiliam no resgate das vítimas do desastre ambiental em Brumadinho
Militares israelenses auxiliam no resgate das vítimas do desastre ambiental em Brumadinho. Foto: Israel Defense Forces/Divulgação/Agência Brasil

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Em Brumadinho, informações confirmadas e fake news se confundem

Cinco engenheiros que atestaram segurança de barragem foram presos na manhã desta terça (29). Até o momento, 65 mortos e 279 continuam desaparecidos.

Eram cerca de 18h45 quando cheguei à área onde os jornalistas se espremiam para disputar um espaço para seus microfones numa bancada — 15 minutos após a hora originalmente marcada para o início da coletiva de imprensa que tiraria as mais recentes dúvidas sobre os desaparecidos (e, principalmente, sobre os encontrados) na tragédia da barragem que se rompeu na última sexta (25), em Brumadinho, cidade de Minas Gerais.

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As dúvidas não eram poucas. Um casal que não quis se identificar chegou no mesmo horário que eu à área de imprensa organizada ao lado da Faculdade Asa de Brumadinho, centro das operações de resgate que acontecem em Casa Branca, onde a barragem se rompeu, mas preferiu não entrar em contato com os jornalistas. Conversaram com os bombeiros que faziam a guarda na frente da faculdade, onde eram permitidos apenas os militares e voluntários, e com alguns policiais civis que circulavam perto do local. Procuravam a sobrinha, funcionária da Vale que não dava notícias desde sexta-feira. Nessa busca, foram ao Instituto Médico Legal e tentaram acessar o local do acidente. Nenhuma das buscas tinha dado resultado.

Um boato, porém, deu esperança ao casal nesta segunda (28). Os dois disseram ter visto na televisão que três pessoas, incluindo uma mulher de nome Ana, foram encontradas com vida nos matagais próximos ao local do acidente. Notícias similares se espalharam pela internet ao longo dos dias. Após não conseguir confirmar as informações com os oficiais lá presentes, o casal resolveu aguardar a coletiva começar, se juntando à horda de curiosos que se amontoava ao redor da área de imprensa.

Fernando Teixeira, de 37 anos, era um deles. Ele havia tentado acessar a estrada que dava acesso à Casa Branca mais cedo naquele dia e me mostrou as fotos que havia tirado da lama que cobriu o asfalto e derrubou a mata próxima. Natural de Belo Horizonte, visitava a cidade só por curiosidade e aproveitou para me contar o boato que tinha lido sobre a tragédia: "Estão dizendo que não se pode descartar a hipótese de terrorismo…"

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Às 19h40, a coletiva de imprensa começou e as dúvidas da população e dos jornalistas foram sanadas pelo tenente Godinho, coordenador adjunto de Defesa Civil de Minas Gerais, que atualizou os números oficiais das operações de resgate. Até então, haviam sido 386 pessoas localizadas — entre estes, funcionários da Vale, funcionários terceirizados e moradores da região –, 279 desaparecidas e 65 óbitos confirmados — 31 deles com corpos já identificados pelo IML. O número de pessoas resgatadas com vida permanecia o mesmo divulgado no sábado de manhã: 192.

Segundo o tenente Pedro Ayhara, do Corpo de Bombeiros de MG, que também falou na coletiva, as buscas desta segunda se concentraram nas áreas do ônibus soterrado e onde foram encontradas vítimas que estavam no refeitório da Vale quando o acidente aconteceu, graças ao reconhecimento de mobílias que faziam parte do local. O tenente relata que as operações também foram prejudicadas com a veiculação de informações falsas. "Havia chegado a notícia de que algumas pessoas estariam perdidas em áreas de mata, e inclusive teriam passado coordenadas para os familiares. Deslocamos equipes dessas duas áreas que estavam sendo atendidas e, chegando lá, nada foi constatado. Essa situação ocorreu mais de três vezes, mas não localizamos nenhuma pessoa com vida."

Ayhara destacou que as buscas nas matas ao redor do lamaçal foram encerradas no sábado, e que era importante que as operações, agora, se concentrassem nas áreas cobertas pela lama. As equipes de busca, auxiliadas também por oficiais de outros estados e militares israelenses — que segundo o tenente-coronel dos bombeiros estão tendo dificuldades em utilizar os seus equipamentos no resgate, mas o embaixador de Israel no Brasil diz que a afirmação é "fake news" —, foram retiradas às 22h de ontem e voltaram ao trabalho às 4h.

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A população, no entanto, não se deu por satisfeita com as informações fornecidas pelos oficiais. Islene Maria Henrique Pinto, engenheira ambiental de 49 anos, postava-se ao lado dos jornalistas durante a coletiva de imprensa e mostrava às câmeras um celular com uma foto do primo desaparecido, Ramon Pinto Junior, funcionário do setor administrativo da Vale. Ao final da fala do tenente Ayhara, Islene continuou querendo mais informações sobre as buscas, clamando que os moradores da região de Casa Branca está divulgando que algumas vítimas podem estar perdidas nas florestas ao redor do lamaçal.

"Os corpos podem ter sido lançados na mata. Como eu sou engenheira ambiental e já fiz visita técnica em florestas, sei que é muito difícil sair se você não tem coordenadas do local. Eles podem estar perdidos", fala, e completa opinando que os oficiais deveriam escutar mais a população de Brumadinho. "Eu acho que eles deveriam procurar a mata toda. Se, depois que finalizar, não houverem mais sobreviventes, aí a gente fica mais tranquilo."

Prisões

Na manhã desta terça (29), cinco engenheiros foram presos temporariamente. Dois funcionários da empresa TÜV SÜD, que presta serviços à Vale, foram detidos em São Paulo. André Yassuda e Makoto Namba atestaram a segurança da barragem número 1 da Mina do Feijão. Outros três funcionários da Vale foram presos na região metropolitana de Belo Horizonte: Cesar Augusto Pauluni Grandchamp, Ricardo de Oliveira e Rodrigo Artur Gomes de Melo estão diretamente envolvidos no licenciamento do empreendimento minerário onde fica a barragem. Ministério Público e polícia apuram se laudos e outros documentos que comprovavam a segurança da represa foram fraudados.

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