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Opinião

Aqua? Céline Dion? Vengaboys? Não, obrigado!

A febre à volta do evento "Revenge of the 90's" é compreensível. Não contem é comigo para reviver a foleirada da época.
"Boom, Boom, Boom, Boom!!" é a faixa mais popular deste quarteto holandês. (Foto via FB da banda)

O conceito Revenge of the 90's, que na primeira vez reuniu quinhentas pessoas (Lisboa, Fevereiro de 2017 - ver vídeo abaixo), já vai em mais de vinte edições e ganhou uma dimensão macro. Não sou contra espectáculos de grande montra, mas este é daqueles onde evito comparecer.

Ok, já estou a ver algum fã do mesmo a criticar com os habituais "se nunca foste, não podes falar", ou "só indo, podes saber o quão louco é o ambiente". Simplesmente, há coisas que dispenso, ainda para mais tendo vivido intensamente, para o bem e para o mal, muitos dos êxitos pirosos dessa altura. Centremo-nos então nisso.

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Timeline: de 1992 a 1997. Como qualquer adolescente a cumprir os últimos anos do liceu e a posterior fase universitária, não havia fim-de-semana em que falhasse uma ida à discoteca local (informação relevante: nem todos nascem em Lisboa ou no Porto e, orgulhosamente, muitos cresceram nas dezenas de "vilotas" onde havia só um ou dois espaços para ir às duas da manhã). Eram as hormonas a pedir carinho, o corpo a desejar ginástica na pista de dança e a sede da idade a exagerar em nome do álcool.

E, depois, havia o factor M. Não, não estou a falar de Mamas, nem de Moca ou de ter Mota - se bem que os três eram a gosto dos boémios com meia dúzia de borbulhas. Falo da Música, aquele factor que dava um toque diferente ao divertimento, aos engates de ocasião ou que levava a consumir mais uma cervejola. Para contentamento de muitas "alminhas" que conviviam nesse espaço, o DJ (Passador de Discos, como eu o preferia denominar) tinha a decência de não "tocar" exclusivamente os hits "apimbalhados" e apostava, durante algumas fases da madrugada, em canções com selo de qualidade - neste ponto, estou a ver os arautos da verdade a pôr em causa o que é isso de "qualidade" e a dizer que estou armado em "intelectual"…

Atente-se a estas duas equipas. A X alinha com Los del Mar (os tais da "Macarena"), Santa Maria (tu sabes quem…), Whigfield a homenagear o sábado, Mr. President (e a "Coco Jambo"), Aqua (com "Barbie Girl" - ver teledisco abaixo), Pet Shop Boys (grande banda com o pior dos seus pecados, "Go West"), Netinho (a pedir "Milla"), Ice MC (via "Think about the way"), Vengaboys e os seus "booms", Rednex (de "Cotton Eye Joe") e Scatman com o código "ski-ba-bop".

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Na Z entram Nirvana, Beck, Pulp (ver "Common People" abaixo), The Breeders, Prince, Underground Sound of Lisbon, Rage Against The Machine, Jamiroquai, Björk, House of Pain e Blur. Em termos pessoais, o Team X significava descansar o "capacete" e (às vezes) dar umas passas numa ganza; o Z servia para curtir o melhor que ia marcando a Indústria musical com… fibra.

"Jardins Proibidos" !? Menos, por favor

Ao ouvir relatos de que a táctica do Revenge of the 90's não dispensa alguns trunfos da primeira squadra, fui afastando a possibilidade de pôr lá os pés - nem mesmo por carolice. Visto de outro prisma, compreendo o sucesso da marca. É, antes de mais, um excelente negócio para quem organiza (André Henriques, Hugo Castanheira, Miguel Castanheira, Miguel Galão e Paulo Silver); uma "passagem de ano" antecipada por todos que pretendam reviver a época, ou uma novidade cheia de confettis para quem nunca a "respirou" in loco; além de vestuário e material alusivo à década, há surpresas inesperadas como aquela em que trouxeram um carro semelhante ao da série Justiceiro (o "amigo" Kit); os locais onde se realiza são secretos até à última hora (tendo já passado por várias zonas do país - a 4 de Agosto será a vez de Portimão); e, por fim, inclui actuações de gente famosa, como aconteceu com os Anjos, (os supracitados) Vengaboys, Ana Malhoa ou Lou Bega.

Como se não bastassem os últimos quatro nomes, sabes o que me fez dizer não de vez a esta "vingança" passadista? Ler que a canção que "bate mais" é o "karaoke da Jardins Proibidos", de Paulo Gonzo e, numa reportagem da SIC Radical, no Rock in Rio (por onde a Revenge passou), ter escutado segundos de Céline Dion na banda sonora de um filme em que o personagem de Di Caprio grita, "I'm the king of the world!".

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Em tempos, quando era um jovem adulto, fui ao cinema e vezes sem conta tive de voltar para trás. Durante semanas intermináveis, no sítio onde residi, Titanic era o único filme em cartaz. Sinceramente, não pretendo afundar-me em memórias gélidas, pois, desta vez, nem uns charros de erva me salvariam do esperado tédio musical.

Nota final - É verdade que gostos não se discutem e que não se deve levar a vida demasiado a sério. Contudo, até na parolice sonora há limites.


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