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BD

Fui ao Iberanime nadar numa poça de suor

Quê, agora não posso querer um bara só para mim?

No passado fim-de-semana de 10 e 11 de Maio estive em mais uma edição do Iberanime na capital do império. Enquanto muitos ressacavam da última festa da Thug Unicorn no Musicbox, eu e a Francisca Marques acordámos cedinho e fomos dar um "olá" aos japanófilos do costume.

“Este mano queria ir até ao Barroselas mas enganou-se no autocarro.”

Eram umas 10 da manhã de Sábado e já havia uma fila enorme que ia desde a entrada do Pavilhão Tejo do MEO Arena até quase à entrada do centro comercial Vasco da Gama. Quer dizer, boatos dizem que isso aconteceu. Nós não conseguimos comprovar porque chegámos mais tarde. Entrámos no recinto e deparámo-nos logo com o caos. Confusão e imensa gente. Nem há cinco minutos tínhamos entrado e já estávamos com suor a escorrer por todo o lado. Pairava pelo ar um cheiro que posso descrever como uma mistura entre ramen instantâneo, suor e hormonas.

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Queríamos ir tirando umas fotos aos stands antes de começar a lixar o juízo a cosplayers e afins, mas a confusão era tal, que acabámos por ver as coisas assim mesmo rápido e viemos cá fora apanhar ar. Entretanto a Francisca viu um puppy a fazer cosplay e isso era mais importante que a nossa reportagem.

“Que delícia de puppy.”

Enquanto apanhávamos um pouco de sol e matávamos a sede, acabámos por encontrar o

Afonso Ferreira

, o

André Pereira

 e a

Vee

. Para quem não sabe, é a minha maltinha que faz banda-desenhada. Uns cromos, portanto. Fomos com eles para o recinto, só para ver se estava a acontecer alguma coisa nova. Infelizmente, as correntes deste oceano de suor separou-nos do resto da equipa mas levou-nos ao encontro do Diogo Vasconcelos (da

Nerd Monkeys

!). Ele levou-nos ao andar dos Trading Card Games e enquanto conversávamos sobre projectos, acabámos por partilhar as fotos que já tínhamos tirado. Um rapaz ao passar por nós perguntou que jogo de cartas era aquele.

“Shooby dooby doo shooby dooby doo, dooooooo~”

Entretanto ao vasculhar um cesto de t-shirts que ninguém quer, a Francisca encontrou uma t-shirt da WWE com o BATISTA!! Sendo eu um ávido fã de conteúdos homoeróticos cheios de testosterona, esteróides, músculo e peitos depilados, claro que comprei e vesti esta delícia imediatamente. E ainda bem porque uma miúda até veio perguntar onde a comprei. Claramente a minha t-shirt de Marvel VS Capcom não estava a ter efeito algum. Acabámos por ficar a conversar um pouco com ela e pelos vistos eu já estava a ser muito chato, então ela acabou por se ir embora.

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“Desculpa se fui muito chato, Mafalda.”

Mas nada nos preparou para a nossa visita ao stand de coleccionismo de Dragon Ball. Neste havia todo o tipo de parafernália com o Son Goku e companhia. Desde mangas, artbooks, merchandise… e fan fictions. Estamos a falar de um vasto leque de pequenas brochuras A5 fotocopiadas com pouco mais de 12 páginas. Com títulos como: Deuses e Diamantes, Confissões, Caprichos e Lembranças, Sabor a Morango, entre outros. Ficámos cheios de curiosidade de conhecer melhor o seu único autor: um tal de André Tornado que, pelo que percebi, tem idade para ser pai de grande parte de vocês. O mais delicioso destas fan fictions é que eram gratuitas.

“Esta é a Sandra. Ela andou comigo na escola.”

Como precisávamos de comprar mais rolos, e o cansaço já estava a bater, apanhámos mais um bocadinho de sol com o Afonso, o André e a Vee. Pelos vistos o Afonso não curtiu o evento. No entanto, ele até estava bem-disposto e ainda conseguiu gozar comigo. Entre conversas de cromo da banda-desenhada ainda deu para ouvir um “Aposto que o Rudolfo não curte essa cena porque nos anos 60 um gajo japonês fez um manga obscuro cujo enredo é bastante similar mas muito mais avant-garde e bem elaborado.” Amuei e fui-me embora.

Adormecemos no segundo dia. Ainda por cima era o grande dia do Hironobu Kageyama! Cantor de lendários temas de anime e tokusatsus! "WE GOTTA POWER!!!", ouvimos o Kageyama gritar mal chegámos ao recinto. E ya, meu, temos mesmo. Tanto que assim que acabou essa última música, gamei a setlist do palco para oferecer ao meu grande amigo Daniel (o lendário Relíquias ok?). Ele foi do Porto até Lisboa para estar ali nas grades todo louco. Ainda bem que isto é o Iberanime e não Paredes de Coura… Sobre o concerto, só tenho a dizer que eu curtia ter ouvido o tema de abertura de Garo. Não estou a falar da revista de manga underground onde nasceram vários subgéneros da banda-desenhada japonesa, mas sim da série de Tokusatsu mais cheesy e brava de todo o sempre. Cantou foi uma carrada de músicas de Dragon Ball Z — que é aquilo que a malta curte. 'Tá-se.

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Pegámos no Daniel, e levamos o miúdo aos camarins. Tínhamos de tirar foto com o Hironobu Kageyama, e claro, ele tinha de assinar a setlist. Tanto ele como o agente ficaram bué admirados com a cena e riram-se. Acho que consegui ouvir um “baka gaijin”. Ou então foi a minha imaginação a falar alto de mais. Não interessa.

“Que fofinhos.”

Cerca de 15 minutos depois houve uma sessão de autógrafos mas longe daquelas almas todas imaginarem que o melhor daquele evento já estava em nossa posse. Um rapaz que estava a passar por ali estava com umas crises existenciais gravíssimas: “Inscrevi-me no Karaoke de temas da Disney e estou com medo que me chamem para cantar enquanto espero pelo autógrafo”, disse. Acho que era o mesmo rapaz que nos perguntou que cartas eram aquelas que tínhamos.

Lembrei-me de ir ver os preços das daikimuras. Aliás, pedi à Francisca para ver isso enquanto eu estava a fazer já não sei o quê… Pelos vistos no stand onde ela perguntou os valores, o rapaz disse-lhe “Também temos daikimuras com homens”. Ela ficou cheia de vergonha e como não queria que pensassem que é uma tarada, pediu-me para eu ir falar com o rapaz e dizer que queria ver o material. Fiquei muito desiludido com a qualidade das daikimuras masculinas porque os homens vêm todos vestidinhos e não há pilinhas ao léu. Que tristeza. Ainda ouvi um “mas para que queres um homem com carne ao léu quando podes ter uma daikimura com uma miúda nua?” Quê, agora não posso querer um bara só para mim?

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Pouco depois, chegou-nos aos ouvidos que tinha havido um concerto de chiptune algures naquele evento e que não constava do horário. Pelos vistos o

Azureflux

 deu um workshop de Vocaloid (ao qual não fomos porque nos atrasámos) e logo depois sacou dos seus dois Game Boys e esteve ali a bombar uns sonoros. O mais engraçado é que nós andamos com uns projectos ultra-secretos mas nem sabíamos que ambos íamos estar naquele evento. Foi uma agradável surpresa.

"Eu e o Azureflux encostados a uma parede."

Dois dedos de conversa e uma selfie de Game Boy Camera depois, já eram horas de apanhar o comboio para casa. A Francisca bazou e eu fiquei a vaguear pelo começo da decadência final do evento com promoções a dar com pau, lixo por todo o lado, e um pavilhão às moscas… Até que me dizem que malta sem pulseira azul de vendedor/press/etc tem de começar a sair e tive de ir embora. O mais engraçado é que o Azureflux também teve de bazar comigo pelo mesmo problema. E ele deu um workshop e um concerto. Agora pensem.

“Toca a arrumar, meu. Já ganhaste dinheiro suficiente a vender hentai.”

No regresso a casa, ainda vi imensos japanófilos no intercidades. Entretanto adormeci a ouvir o Meshi Kuuna!, o álbum da banda de post-punk japonesa, INU. Ao lembrar-me que o título do álbum é “Não comas!” lembrei-me de que todo este entusiasmo me fez passar o dia sem comer quase nada. E aí a minha falta de sobriedade fez sentido. Tanto que adormeci. Acho que sonhei com o próximo Iberanime. Mal posso esperar por voltar a tomar um banho no meu próprio suor! Sparking!!!

Fotografia por Francisca Marques