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Música

Estivemos lá e vimos: Mono

O nosso momento rabeta.

Hard Club
Porto
9/10 Primeiro, há a lembrança. E é o cliché que define a memória — até porque música é memória colectiva, é herança cultural, é (e deve ser acima de tudo) sensação. Não há nada como o cliché que nos acompanha, tal e qual aqueles parágrafos que Álvaro de Campos escreveu, “no tempo em que festejavam o dia dos meus anos.” As datas voam, as datas passam. Aqui entra a “Nostalgia” que os Mono nos trazem, mesmo que não a tenham tocado. Tic, tac, tic, tac. Memória dactilografada, carinhosa e lentamente, em crescendo, a passo de uma máquina de escrever que os japoneses usam para abrir, desenvolver e encerrar capítulos. Depois, há o mar. A inevitável ligação ao azul maior, de ondulação feita com o trágico toque no piano. Sempre pensei em terminar os meus dias em pó no meio da espuma de um sítio especial. No mar. Muito antes de isso acontecer (espero), é aí que "Burial At The Sea" me leva. “Mãe, não quero ficar sozinh[a]”, cantou uma voz sábia. Os Mono não cantam. Aliás, nem precisam, que nunca o façam, por favor. Tudo é dito no silêncio ruidoso de uma orquestra cerebral. Como se eles acenassem com a cabeça e um público lhes respondesse, sorridente: “Nós sabemos que estão a dizer.” Tal como uma amizade, uma relação: a celebração de uma comunhão. No meio da espuma de acordes, parece que toda a existência se apaga. Deixamos de ser unificados, somos um todo: porque a magia dos Mono tem esse condão, a de hipnotizar e, ao retirar a individualidade, salientar o tal colectivo. Debaixo de uma emoção entregue a ferros, houve “Ashes In The Snow”. Sentir a tragédia tão iminente, tão redonda como a lua cheia de 23 de Fevereiro, e encará-la beneficamente. Libertariamente. No final, vai-se fechando o ciclo, de dentes à mostra, a ver a vida a passar-nos como se fosse uma película: é “Legend”, legendária. Porque, tal como os GY!BE, os Mono lembram-nos de que há e haverá sempre HOPE.