Os Moonspell são "lobos vorazes" que estão a gostar muito de envelhecer
Foto principal por Paulo F. Mendes

FYI.

This story is over 5 years old.

Entrevista

Os Moonspell são "lobos vorazes" que estão a gostar muito de envelhecer

Envelhecer não é o mesmo que ficar velho. E, num ano de comemorações, a banda não descansa à sombra das efemérides. Há um álbum em português a caminho e uma inquietude que promete mais novidades. Fernando Ribeiro conta-nos coisas.

A determinada altura de uma longa conversa, Fernando Ribeiro diz algo do género, "cá em Portugal não há público, ou pelo menos não me parece que haja, para, num festival, os Black Sabbath serem cabeças de cartaz. Porque, por exemplo, há um outro público, indie, a que eu chamo mais moralista - e que está lá pelos Arcade Fire -, que não tem essa cultura musical mais alargada". Não é novidade nenhuma e o Fernando tem toda a razão, mas, já se sabe, desde a história com os Buraka (na verdade até antes, mas a memória hoje é mais curta que a duração de um snap), cada tomada de posição do vocalista dos Moonspell é passível de assumir contornos de guerra aberta em menos de três posts.

Publicidade

Há 20 anos, quando os Moonspell começaram efectivamente a sua caminhada para a glória metaleira global - depois dos primeiros cinco anos a trabalharem e a ganharem tomates "para se lançarem à aventura", conforme diz o próprio Ribeiro -, pelo menos por cá era muito mais "normal" ver um fã dos Pixies, ou dos Sonic Youth, até dos Stone Roses, interessado pelo género, pelas suas raízes e, no mínimo, pelos seus nomes de referência. Por música, vá. Olhando agora para trás, eram tempos de maior sede de conhecimento.


Vê também: "Toxic Holocaust: a banda thrash de um só homem"


Não é nostalgia, não é desdém pelo agora, pela juventude, pela nova vaga de música feita em Portugal e cantada em português, que Ribeiro diz apreciar e apoiar, apesar de "lhe soar tudo um bocado ao mesmo". É só uma constatação óbvia: o metal, depois de uma voltinha milionária pelo mainstream, quis voltar ao underground. Quis resguardar-se, proteger-se. Criou o seu próprio circuito, de festivais, de concertos, de fãs, de edições, de imprensa. A dimensão, a variedade de géneros, era e é suficiente para isso.

E os Moonspell estiveram no centro desse turbilhão. Nasceram há 25 anos e passaram os últimos 20 na estrada, nos estúdios, a criar coisas melhores ou piores, conforme os gostos de quem os segue, a perder fãs e a ganhar fãs. Como acontece a todas as bandas que, a dada altura percebem que são mesmo uma banda, que são músicos e que a vida deles é aquela e não outra. Que têm de sair de casa dos pais e tentar, porque sabem que vão conseguir.

Publicidade

"São lobos. Quarentões com filhos e vidas familiares, mas que não se deixaram cair no facilitismo do 'mais do mesmo' atrás de 'mais do mesmo'".

É por isso que os Moonspell, seja-se ou não fã, goste-se mais ou menos do que diz Fernando Ribeiro, siga-se ou não o trabalho da banda, são o que são: uma instituição do metal a nível internacional. Só que, em vez de serem uma instituição de efemérides, de comemorações, celebrações, aniversários e afins, escolheram outro caminho. E isso irrita muita gente. Escolheram não parar, arriscar sempre e continuar em frente. E pode parecer estranho dizer isto na altura em que se preparam para ir ao Campo Pequeno tocar três discos de enfiada, dois deles com 20 anos, e gravar um DVD. Mas não é. Estes gajos estão-se a marimbar para o que gajos como eu (ou tu, vá, porque eu ainda assim ouvi muito metal na vida e estive em muito concerto de pedal duplo a rebentar os tímpanos) pensam.

São lobos. Com fome. Quarentões com filhos e vidas familiares, mas que não se deixaram cair no facilitismo do "mais do mesmo" atrás de "mais do mesmo". Ribeiro garante, no entanto, que não se sentem putos outra vez de cada vez que se entusiasmam por alguma coisa nova. Pelo contrário, sentem-se homens feitos, prontos a embarcar na aventura, mas conscientes dos tomates que foram ganhando com os anos.

Fernando Ribeiro, na VICE Portugal. Foto pelo autor

Fernando Ribeiro muda de tom quando falamos do futuro do seu filho, Fausto, pondera mais as palavras, ou quando explica porque é que esse futuro foi um dos motivos para se ter mudado de armas e bagagens para a terra da sua mulher [Sónia Tavares, dos Gift], Alcobaça. Porque é que um futuro de fascismo à vista, populismos exacerbados e Trump o assusta, mas não o verga. Muda de tom, mas não muda de atitude e garante que a constituição de famílias "só fortaleceu ainda mais a família Moonspell". Se calhar, foi até o que os salvou. Os putos têm é todos de ouvir metal, desde cedo. Isso é certinho.

Publicidade

Foi uma conversa longa, que nunca chegou a ser bem uma entrevista, porque começou por se falar de música e, quando as pessoas que gostam de música começam a falar de música, normalmente é complicado conseguir enrolar uma meada de onde sacar um fio. Ficam umas pontas soltas.

VICE: Um quarto de século de Moonspell, milhares de concertos, discos, sucesso internacional sem precedentes para uma banda portuguesa, particularmente num género de quase nicho (embora isso seja discutível e já lá vamos)… em que momento destes 25 anos percebeste que os Moonspell não eram apenas uma banda de Liceu com os amigos e que tinham uma carreira à vossa frente?

Fernando Ribeiro: Lá para 97/98. Foram anos muito intensos para nós. Formámo-nos em 92, não acontecia nada, entretanto, a partir de 95, gravámos o Wolfheart e aconteceu tudo. Nunca mais parámos de andar em digressão, desde aí, há 22 anos.

Mas não fazíamos a mínima ideia do que esperar. N ão tínhamos uma referência em Portugal, alguém a quem perguntar como é que se fazia, como é que vamos tocar a Inglaterra, ou onde quer que seja. Não havia. Fomos à aventura e correu bem. Também correu mal, de vez em quando, mas correu bem. Promovemos a nossa música, que era o mais importante para nós, mesmo sem o sabermos na altura. Queríamos era tocar, mesmo que não houvesse muita gente na sala. Depois cada vez começaram a aparecer mais.

Depois do Irreligious, fomos tocar a Dortmund, na Alemanha, e foi alguma imprensa especializada portuguesa connosco - foi um momento inédito na história de uma banda portuguesa e muito engraçado na altura. Esgotámos uma sala para cerca de mil e 500 pessoas, a Soundgarden. Tínhamos posters na rua, era a cidade da nossa editora e aquilo estava num nível que nos meteu a olhar de fora e a pensar nas questões de incerteza que tínhamos. Mas, essa questões foram respondidas quando chegámos a casa - ainda vivíamos com os nossos pais - e eu fiz a pergunta: "Então, mas nós metemos mil e 500 pessoas numa sala na Alemanha e ainda estamos a pensar se avançamos, ou não avançamos?".

Publicidade

"Éramos miúdos, não tínhamos qualquer experiência para lidar com eles, mas conseguimos muitas coisas, porque viram que estávamos a sério naquilo, que éramos trabalhadores e que dávamos tudo pela nossa música".

Tivemos exactamente esta conversa com a editora, éramos miúdos, não tínhamos qualquer experiência para lidar com eles, mas conseguimos muitas coisas, porque viram que estávamos a sério naquilo, que éramos trabalhadores e que dávamos tudo pela nossa música. E aí começámos a ver algum retorno daqueles três ou quatro anos em que andámos a tocar e a tocar, a ver a banda a crescer, mas que, no fundo, não tínhamos nada para contar.

Acho que nenhum de nós se levantou uma manhã e disse: "vou ser músico". Talvez o nosso guitarrista, o Ricardo, tivesse mais essa inclinação. Aconteceu um bocadinho, por acaso, mas também não caímos de pára-quedas. Gostávamos da música, da estética, estávamos envolvidos no universo underground das fanzines e sentíamos que, para nós, isso era insuficiente e o que acontecia era insuficiente. Queríamos mostrar lá fora uma banda mais contemporânea, que abordasse mais temáticas e ideias, para além do thrash, ou do death. E foi por isso que fundámos os Morbid God primeiro e depois Moonspell.

Como tal, só conseguimos chegar a essa consciência de que "somos mesmo músicos, vivemos disto e somos uma banda 'profissional'", lá para 97/98. Porque só fazíamos música, não fazíamos mais nada. E foi isso que dissemos à editora. Se estávamos a ser reconhecidos como uma banda importante, se o disco vendia tanto, também era altura de assumirmos isso. E eles perceberam. Podiam não ter percebido.

Publicidade

De qualquer forma, em determinada altura da última metade dos anos 90 para a frente, o metal arrastava multidões, mesmo em Portugal. Depois, de repente, parece que as coisas voltaram um bocadinho ao underground. Concordas? Tens explicação para isso? Eram tempos assim tão diferentes? Por exemplo no que diz respeito à venda de discos, aos concertos. Parece-me que, no vosso caso, os discos ainda são um assunto importante. Os vossos fãs ainda compram discos.

Nestas indústrias do entretenimento, da cultura, da música, da informação… há muita gente, até pessoas mais novas, que já apanharam as transformações tecnológicas em curso, ainda assim estão interessadas nos meios mais tradicionais de difusão.

A rádio, por exemplo. Eu estou-me a cagar se a nossa música passa na rádio, até porque, para isso acontecer, se calhar precisava de um contexto que não existe em Portugal, mas depois, o que é curioso é que até tivemos uma música que chegou ao top dos ouvintes da Antena 3. Ou seja, um gajo começa a pensar, se isto é a vontade do público, se os meios tradicionais ainda são importantes para muita gente, porque é que tem de haver um abandono desses meios?


Vê também: "Na Flórida, a alimentar gatinhos com os Obituary"


Eu não meto os ovos todos no digital. Nem pensar. A cena dos vinis é muito interessante. Agora tenho uma editora [Alma Mater Records] e acho que o vinil é uma espécie de win-win. As pessoas gostam… também sei perfeitamente que há muita gente que, porque quer seguir as tendências, ou o que quer que seja, compra o vinil e não o ouve. Mas, entendo que haja quem queira, simplesmente, ter o objecto físico e não sinta necessidade de o ouvir, que queira apoiar a banda, por exemplo… depois ouve noutras plataformas.

Publicidade

Eu próprio, enquanto utilizador, curto muito o Spotify, já enquanto músico, é patético, ainda mais tendo em conta a evolução da empresa e do negócio que gera. Normalmente, as empresas que têm este tipo de sucesso, partilham com os seus accionistas e, neste caso, considero que os accionistas somos nós, os músicos… mas enfim, não sei se será uma coisa que tenha solução.

"Eu, por exemplo, nunca achei que os Metallica, por serem milionários, fossem uns chorões quando entraram naquele conflito com o Napster".

Isto para dizer que, para nós, Moonspell, o mercado físico é muito importante e continuamos a vender surpreendentemente bem. No mercado digital, por outro lado, não temos praticamente expressão. Quer dizer, temos um bom número de seguidores no Spotify - o que não significa que todos eles sejam utilizadores a pagar. Mas, a música já é uma coisa completamente imaterial, intangível, para fazer uma indústria foi o cabo dos trabalhos, como o foi para calcular royalties, por exemplo. Quando isso estava num esquema que, definitivamente, favorecia os intermediários, rapidamente se mudou tudo, mas para o seu contrário e o músico foi apanhado neste fogo cruzado. Houve muitas bandas que sofreram e muito com isto.

Por exemplo?

Eu, por exemplo, nunca achei que os Metallica, por serem milionários, fossem uns chorões quando entraram naquele conflito com o Napster. Pelo contrário, sempre os defendi e também fui atacado na altura, por causa dessa defesa. As pessoas tendem a olhar para o problema só de uma maneira, ou seja, "os Metallica são milionários, portanto nós podemos ter a música deles de borla". Se pensássemos assim em relação a tudo, era a anarquia. Se calhar era fixe, mas era a anarquia. Eu ia ali ao [restaurante do] Sá Pessoa, não tenho dinheiro, mas dizia que queria comer, comia e ia-me embora…

Publicidade

Já nem vou falar de direitos de autor, que nós nem os direitos do Homem parece que compreendemos, quanto mais os direitos de autor. Para mim o mais pernicioso da questão é que, na altura, víamos os donos do Napster a engordarem, o dono do Megaupload a comprar um jacto e eu perguntava-me, "mas isso não faz impressão às pessoas?". Os Metallica tiveram de lutar à séria para conquistarem o que conquistaram, com problemas, com sacrifícios tremendos, com o condão de se manterem vivos e unidos e depois o gajo do Megaupload é visto como uma espécie de Robin Hood, de herói…

O "desaparecimento" do metal teve a ver com isso?

O Heavy Metal é um estilo a que já se encomendou a mortalha muitas vezes, principalmente na altura do grunge, por exemplo. A um certo tipo de metal, digamos antes assim, porque o metal é muito vasto e essa abrangência sempre lhe permitiu, mesmo nos tempos mais críticos, sobreviver através do underground.

Acho que esse "desaparecimento" foi voluntário. O metal fartou-se de estar subjugado às regras editoriais, às mentalidades do meio… então cá em Portugal, era extremamente complicado falar com editoras, não falávamos a mesma linguagem, conhecerem Metallica não era suficiente para promoverem os Moonspell, mesmo que estivéssemos na mesma editora, na altura a Universal. E o metal foi sempre considerado por cá como um nicho, mas o nicho inchou, cresceu e, hoje em dia, acho que está mais vivo do que nunca.

Publicidade

É dos poucos géneros que ainda continua a encher estádios - ainda agora os Black Sabbath tocaram para 50 mil pessoas na Argentina -, os maiores festivais de metal esgotam… houve uma altura em que os festivais ditos alternativos, tinham bandas de metal no cartaz - os Moonspell tocaram em Roskilde, no Pukkelpop e noutros, por exemplo - e de repente começaram a deixar de ter. E o que é que o Metal fez? Começou a criar as suas próprias estruturas.

"Sei perfeitamente que, ir em digressão com uma banda que faça a diferença e, se calhar, ir em digressão com os Moonspell fazia a diferença para muitas bandas, passa não só pelo querer, ou por estar à espera".

A única coisa que ainda não existe é um reconhecimento verdadeiro do mainstream em relação ao Metal. Esse reconhecimento durou enquanto durou a febre do Black Album, mas, como os metaleiros têm sempre um bocado um sentimento de culpa, porque viemos do underground, trocávamos cassetes e essas coisas todas e depois tivemos sucesso. O Heavy Metal é um género precioso e apesar de, como eu, muita gente gostar de divulgar e de mostrar as coisas, há sempre esta espécie de medo de "estragar"…

Mas, apesar de o Heavy Metal estar forte, nem todos os dias sai um álbum como o último dos Metallica… a criatividade tem-se perdido um bocado e essa coisa de as bandas fazerem todas o mesmo é uma questão que a mim me preocupa mais. A nós até já nos disseram que por cá a culpa era nossa, que secámos um bocadinho a cena.

Publicidade

Achas que sim?

Acho que não. Acho que estávamos todos em pé de igualdade. Tínhamos ideias diferentes, posições diferentes e, o que aconteceu é que, pelos vistos, a nossa posição resultou melhor. E houve outras bandas que conseguiram "meter o pé na porta" connosco. Agora, o Metal em Portugal na altura - e ainda agora - também era um bocadinho subsidiodependente e muita gente ficou à espera que fôssemos nós a dar esse "subsídio". Mas eu, se for tocar com os Metallica, não posso estar à espera que vão ser eles a pagar-me os bilhetes de avião, a alimentação, o transporte, o backline.


Vê também: "Uma conversa sobre política com os Slayer na Comic Con"


Eu sei perfeitamente que, ir em digressão com uma banda que faça a diferença e, se calhar, ir em digressão com os Moonspell fazia a diferença para muitas bandas, passa não só pelo querer, ou por estar à espera. Passa pelo investimento, pela estrutura, pelo risco. Nós não tínhamos nada quando nos metemos numa carrinha e fomos e arriscámos… Só nunca levámos uma banda portuguesa em digressão, porque nunca tivemos uma proposta séria para o fazer. Naquela altura, há 20 anos atrás, estávamos demasiadamente ocupados - e podem chamar-nos egoístas, mas acho que qualquer um faria o mesmo - em tentar perceber o que nos estava a acontecer.

E, mesmo assim, tentámos divulgar bandas portuguesas e assinar bandas portuguesas, mas as editoras não quiseram, não acharam que havia continuidade. E isso também pode ter a ver com aquela cena do "portuguese metal", que é sempre muito death, trash e há milhentas bandas assim. Há poucas bandas de Gothic Metal, de Black Metal, de Folk Metal. Portugal ficou preso a uma cena que não funciona.

Publicidade

Mas será uma questão de tempo. Não sou aquele veterano que diz que isto não vai a lado nenhum, pode sempre acontecer. Os More Than A Thousand também tiveram uma boa repercussão lá fora. Não fomos só nós. Não se pode é andar sempre com aquela coisa muito portuguesa do dizer mal quando as coisas correm bem. Quando assinámos pela Century Media, houve muita gente que ficou chateada. E nós super felizes. Claro que depois não tínhamos vontade nenhuma de levar as maquetas dessas pessoas para a editora ouvir. Não somos franciscanos, não é?

Foto por Paulo F. Mendes

Porque é que decidiram tocar três discos na íntegra nestes concertos especiais de comemoração? É uma tarefa hercúlea…

Essa foi exactamente a questão que a banda me colocou, porque foi uma ideia minha [risos]. Mas tenho as minhas razões e, felizmente, estou numa banda que as apoia. Os Moonspell são uma espécie de puzzle que se encaixa muito bem e isso contribuiu muito ao longo dos anos para a nossa longevidade e para a nossa união.

Depois de ganharmos o prémio da SPA, que foi completamente inesperado, fomos convidados para fazer um concerto especial no Multiusos de Guimarães e entendemos que, devido à dimensão do espaço e ao que isso implica, precisávamos de pensar em algo muito único. Como o Irreligious fazia 20 anos, pensámos em tocá-lo na íntegra, os 20 do Wolfheart tinham sido em 2015 e não tínhamos tido muitas oportunidades de celebrar a data convenientemente e de o tocar todo, pelo que pensei, "vamos juntá-los".

Publicidade

"Os três ambientes e os três repertórios. É longo, é uma prova de fogo para os fãs, mas, em Guimarães, ninguém arredou pé até à última nota do Extinct".

Por outro lado, também não queríamos passar a ideia de que os Moonspell são uma banda só de passado e era importante tocarmos o Extinct, porque foi o álbum que preferimos lançar, em vez de andarmos a comemorar os 20 anos do Wolfheart. Eu sempre disse que nós não somos uma banda de efemérides e não íamos cair num ciclo vicioso… para o ano faz o Sin 20 anos, depois há mais não sei quê para assinalar… podes andar o resto da vida nessa coisa.

Nisto apareceu-nos a proposta e o projecto de gravarmos o DVD em Lisboa [concerto de 4 de Fevereiro, no Campo Pequeno] e avançámos para o espectáculo triplo. Os três ambientes e os três repertórios. É longo, é uma prova de fogo para os fãs, mas, em Guimarães, ninguém arredou pé até à última nota do Extinct, que é um álbum que correu muito bem e que nos trouxe novos fãs, mas também recuperou muitos fãs antigos, mais ligados àquela nossa vertente fantasista, se calhar.

O conjunto até acabou por funcionar melhor do que estavas à espera?

Funcionou. Claro que sim. É a mesma banda e temos a consciência de que há um fio condutor, mas há rupturas também. E depois não é só chegar e tocar os três discos de enfiada. A ideia é remeter as pessoas para cada contexto.

O que é que aí vem depois destas comemorações?

Encaixa ainda tudo um bocadinho no concerto do Campo Pequeno e na gravação do DVD. A nossa editora [Napalm Records] tinha-nos pedido um pequeno bónus para o DVD. Eu tinha duas ou três músicas escritas em português sobre o Terramoto de Lisboa. Trabalhámos nelas, fizemos um EP, mas depois, olhámos para aquilo e pensámos que tinha de ser um álbum.

Ou seja, ainda este ano, vamos regressar a Portugal com uma coisa completamente diferente que é o primeiro álbum de Moonspell totalmente em português. E, é claro que estamos entusiasmados com os concertos, com o DVD, com os concertos que faremos entretanto na América Latina, com tudo, mas, para nós, é extremamente importante termos este equilíbrio que atingimos este ano. Não somos o tipo de banda que consiga estar a dar ao público a mesma coisa durante muito tempo. E, por isso, esta ruptura e este disco, que deverá sair em Novembro e que vai ser muito mais metaleiro. Vai ser, quase literalmente, um terramoto e uma espécie de renascer.

Mudaste alguma coisa na tua maneira de escrever, por o estares a fazer em português?

De certa maneira sim, mas já o tinha feito antes, embora noutros contextos e projectos de outra dimensão. O projecto Orfeu Rebelde, por exemplo, é uma boa referência, apesar de serem coisas muito diferentes.

De vez em quando temos de perceber que a música é uma coisa visceral e simples e deixar que as coisas aconteçam. Aproveitar aqueles momentos de fome que temos por estar sempre a fazer coisas novas e canalizá-los para isto.