Como os festivais regionais impulsionam a nova música brasileira
Mental Abstrato no Dia da Música 2017, Palco do Conselho/SP. Fotos por: Pedro Margherito/Divulgação

FYI.

This story is over 5 years old.

Noisey

Como os festivais regionais impulsionam a nova música brasileira

Organizadores dos festivais Timbre (MG), Porão do Rock (DF), Dia da Música (BR), Música de Rua (RS) e Se Rasgum (PA) dão um panorama dos desafios e resultados positivos em diferentes regiões do país.

Este conteúdo é um oferecimento Natura Musical.

Na coluna Estudando a Cena, discutimos a atual cena musical do Brasil e como as drásticas mudanças na indústria fonográfica dos últimos anos reverberaram na base da pirâmide sócio-cultural do país.

Os festivais de música sempre desempenharam um papel muito importante na renovação da cena musical brasileira. Desde pelo menos a chamada Era dos Festivais, aquele período dos eventos da TV Record entre 1960-72, que revelou nomes como Elis Regina, Nara Leão, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Mutantes e vários outros. Em meados dos anos 70, tivemos o Festival de Águas Claras, conhecido como o “Woodstock Brasileiro”, que durou quatro edições pelo interior de São Paulo – 74, 81, 83 e 84 – e exibiu shows clássicos de Raul Seixas, Itamar Assumpção, Tetê Spindola, Fagner e tantos mais que fizeram história.

Publicidade

Daí em 85 o Rock in Rio iniciou a tradição dos festivais de arena no país que segue até hoje, na figura dele próprio e de outros como o atual Lollapalooza. Ainda que haja certo espaço na programação dos eventos mainstream para as novas caras da cena e artistas já estabelecidos no meio alternativo, porém com capacidade de atrair público na casa das centenas, no background dos grandes esquemas quem atua mesmo na manutenção do ciclo vital da nossa música são os festivais independentes regionais. É para eles, no fim das contas, que as marcas e caçadores de talentos miram seus olhares quando querem sentir o pulso das tendências.

Pensando nisso, chegamos junto com alguns experientes organizadores de festivais em diferentes estados do Brasil para entender como funciona na prática a responsa de refletir a efervescência da música brasileira nos palcos e sua capacidade de reverberar.

Se liga no que Gabriel Bibi (Festival Timbre), Gustavo Sá (Porão do Rock), Katia Abreu (Dia da Música), Luciano Balen (Música de Rua) e Marcelo Damaso (Se Rasgum) contaram pra gente.

Gabriel Bibi

Festival Timbre (Uberlândia, MG)

Noisey: Conte sobre o seu envolvimento com a cena musical da cidade.
O Festival Timbre foi idealizado por mim em 2012. Naquela ocasião eu já tinha um grande envolvimento com a música independente trabalhando como produtor cultural, já fazia parte da produção de projetos importantes na cidade de Uberlândia, projetos esses que já possuíam visibilidade nacional como Arte na Praça e Festival Jambolada. Sempre tive o cuidado de estar ligado e incentivado a cena musical regional, buscando criar espaços para circulação desses artistas na cidade independente do festival.

Publicidade

O que motivou a criação do festival?
A proposta aconteceu naturalmente. Eu já estava envolvido com a cena, já recebia muitas demandas de circulação de artistas nacionais e regionais na cidade e o festival surgiu de uma oportunidade através do meu trabalho com produtor artístico do Projeto Arte na Praça. Os primeiros passos foram bem simples, já tinha a demanda dos artistas foi somente criar o espaço para se apresentarem.

Os desafios do começo ainda permanecem os mesmos?
Sim, a cada edição temos que lutar muito para garantir recursos e cada vez mais convencer o público. Os artistas independentes ainda são conhecidos por um público determinado, com a internet mais pessoas passaram a ter acesso, mas ainda se restringe bastante, temos muito que fazer o trabalho de apresentar esses artistas para a galera. Para convencer o incentivador é ainda mais complicado, um festival como esse que muitas das vezes aposta em uma curadoria artística mais experimental ainda depende muito de incentivos fiscais para ser realizados.

Qual é o básico de equipe e estrutura necessário para fazer rolar um festival como este?
No Festival Timbre hoje somos três sócios, cada um cuida de uma parte e tem uma equipe que trabalha junto. Eu cuido hoje da programação artística. Esse ano só no atendimento aos artistas tínhamos mais de 20 pessoas trabalhando. O Guilherme Maniglia cuida da produção e do financeiro e o Lucas Cordeiro cuida mais da divulgação, mas nos bastidores tem sempre um exército de pessoas trabalhando. Já é a segunda edição que formamos uma equipe de Embaixadores Culturais, esse ano foram mais de 40 espalhados por diversas cidades da região. Eles ajudam a divulgar o festival e são estimulados a realizarem ações com a chancela do festival.

Publicidade

Que tipo de som vocês buscam retratar no festival?
O Festival Timbre desde a primeira edição mistura sons. Isso é uma característica do público de Uberlândia — no mesmo dia tem metal e música brasileira contemporânea, sempre estamos atentos a música independente brasileira. Buscamos mesclar nomes mais conhecidos com revelações da música brasileira, sempre atentos as demandas do público. Isso é algo que tem dado bastante certo nas últimas edições. Dentre as bandas indicadas pelo público sempre contemplamos as que temos condições, nunca abrindo mão de apresentar novos artistas para a cidade.

A banda carioca Baleia no Festival Timbre. Foto: Divulgação

Comente alguns shows históricos que já rolaram nas edições do evento.
Na primeira edição podemos destacar o show do Vanguart um dia depois de terem recebido o Prêmio do VMB de 2012; o show da Nação Zumbi na segunda edição foi o primeiro no estado de Minas Gerais depois da volta da banda em 2014, além disso essa edição teve o show da turnê do primeiro disco do Emicida, que entrou como encerramento do documentário da turnê do artista; na terceira edição podemos destacar os shows de Anavitória no mês de lançamento do seu disco que se tornou um dos grandes lançamentos do ano, nessa edição também podemos destacar o show do Criolo na turnê “Ainda Há Tempo”, no momento político que o país vivia em 2016 com o impeachment da Presidenta Dilma; e na quarta edição esse ano de 2017 podemos destacar o encontro de Rael, Emicida e Tulipa Ruiz que ainda era inédito como show e o encerramento do festival com o show da Banda Uó anunciando como sua última turnê.

Publicidade

Os festivais de qualquer porte são um bom negócio no Brasil?
Os festivais bem gestados, com planejamento e, principalmente, pensados anualmente, podem ser um bom negócio. O Timbre realiza a quinta edição no próximo ano, e investimos muito para ele chegar onde está. Ainda não conquistamos a independência financeira, mas nas ultimas duas edições ele fechou a conta sem prejuízos. Acreditamos muito que estamos nesse caminho. Mas tudo depende de muitos fatores, acredito que o principal é o planejamento para que se torne um bom negócio.

Gustavo Sá

Porão do Rock (Brasília, DF)

Noisey: Você está no rock de Brasília desde o começo, né?
Eu moro em Brasília desde 1977, e nos anos 80 várias pessoas do meu círculo de amizade foram das bandas precursoras daqui, galera do Escola de Escândalo, Arte no Escuro, Plebe Rude… Conhecia o Bi dos Paralamas, o Pedro, irmão dele, que trabalha na equipe deles, galera do Capital, enfim… Isso me influenciou muito, eu me envolvi bastante com isso. Minha família sempre foi muito ligada à música, minha avó tocava piano clássico, meus pais adoravam, sempre ouvi muita música desde moleque. Aí em 89 eu comecei a fazer eventos por hobby mesmo, pra juntar amigos, a gente tinha uma chácara perto de um bairro chamado Lago Sul, em Brasília, onde inclusive fazíamos uma festa junina chamada Forróck. Os Raimundos se apresentaram lá quanto não tinham nem baterista. Era bateria eletrônica, aí deu pau na bateria, atrapalhou o show. Aí o Rumbora se apresentou, Câmbio Negro, Maskavo Roots. Já tinha feito um evento bem grande em 97, de esportes radicais e música, e em 98 surgiu o Porão. O Porão eram 14 bandas que ensaiavam num determinado local onde havia vários estúdios de ensaio, na 207 Norte, e o pessoal estava insatisfeito porque não tinha cena, nem lugar pra tocar. Me chamaram pra conversar, a gente sentou lá com as bandas, uma delas fazia umas produções pequenas, e idealizamos o Porão.

Publicidade

Como foi a primeira edição?
A primeira edição foi na Concha Acústica, um super sucesso. No segundo ano a coisa deu uma mega crescida. Entrei em contato com a galera da Plebe, e conseguimos fazer a volta da banda depois de dez anos parada. O André até falou no documentário da Plebe que foi o melhor show da vida dele. Desde então não paramos mais, e agora fizemos a vigésima edição do festival. Nunca me imaginei com 51 anos fazendo um festival de rock.

Emicida no Porão do Rock em 2016. Foto: Gerdan Wesley/Divulgação

Daí pode se dizer que surgiu uma cena em torno do Porão do Rock?
O sonho de toda banda de rock em Brasília é tocar no Porão. Tem bandas que são criadas pra tocar, que continuam pela vontade de tocar. O festival é uma referência. De todo o circuito independente nacional nós ainda somos o maior. Se você for ver, quem são os grandes? São o Lollapalooza, Rock in Rio… tudo isso não tem nada de independente. Na raça eu quero ver quem faz durante vinte anos.

Dá pra acompanhar tudo o que está rolando de importante?
A gente acompanha muito a cena, não só eu, como a ONG Porão do Rock, que é a dona dessa marca, a galera que trampa comigo, tem uma curadoria e tal. E somos associados à FBA (Festivais Brasileiros Associados), com mais de 20 festivais interagindo entre si. Festivais como Abril Pro Rock, Goiânia Noise, MADÁ… Todo mundo se fala, comenta o que está rolando.

Como é a estrutura da sua equipe?
Trampando no dia do festival, somando toda minha equipe de produção, fornecedores e artistas, são mil pessoas. E aí tem que ter uma equipe massa, que dá o sangue, que entende e gosta do negócio, porque é difícil, mas é bem prazeroso.

Publicidade

Quais são os desafios atuais?
O Brasil sofreu bem mais do que Europa e Estados Unidos com a aparição da internet e o desmonte da indústria fonográfica, porque a nossa cena mainstream acabou. Não tem renovação. Diz aí uma grande banda de rock brasileira que tenha cinco anos. Talvez o último artista grande de rock tenha sido a Pitty. De lá pra cá, não teve mais ninguém. E a gente sofre bastante com isso, porque somos um festival de grande porte e precisamos de artistas que atraiam esse público. Chegamos num momento em que todo mundo já tocou, e alguns tocaram algumas vezes, então estamos tendo que obrigatoriamente procurar coisas que não são necessariamente do rock, mas que têm uma atitude similar e agrade o público. Por exemplo, este ano trouxemos o Baiana System, que não é rock, mas é um baita show. Trouxemos o Black Alien, que é um cara do rap. No palco pesado tivemos Sepultura e Krisiun, mas o cenário brasileiro tem poucas bandas grandes. Mas de bandas médias tem dezenas e dezenas de bandas maravilhosas.

Algum show foi especialmente marcante pra você?
O show da volta da Plebe na época teve uma repercussão grande no Brasil inteiro. Foi capa do Globo, super destaque. Em 2008 trouxemos o Muse, foi monstro, incrível. O show do Suicidal Tendencies também, no mesmo ano. Em 2009 fizemos a primeira volta da Legião Urbana. Eu liguei pro Dado e pro Bonfá, conversamos com o empresário deles na época, alinhamos tudo e fizemos o show com a dupla e alguns amigos deles, músicos uruguaios, com participações do Felipe Seabra, Herbert Vianna, Tony Platão, PJ do Jota Quest. Foi um show surpresa que fizemos de graça na Esplanada e foi catarse total, porque ninguém esperava. Também houve outros incríveis, com Jon Spencer Blues Explosion, Helmet, que foi iradíssimo, muita coisa louca.

Publicidade

E em 2017, quem representou?
Este ano, o show da Elza Soares foi emocionante, do Ego Kill Talent, do Alf Sá, Dona Cislene, Toro também foi muito maneiro, o Black Pantera que é uma banda nova, do interior de Minas Gerais, Uberlândia, foi destruidor. O Eminence fez um show muito forte, assim como o FingerFingerrr… Gostei muito e acho que a galera curtiu bastante.

Katia Abreu

Dia da Música (Nacional)

Noisey: Como foi o começo nessa área pra você?
Comecei a ir a shows e acompanhar a movimentação da música independente na época de faculdade. Cursava jornalismo, fazia um zine (o Quadradinho) com alguns amigos e era meio que a “setorista” de banda nova brasileira. Depois de formada tive outro zine (a B*Scene) e continuei atuando como jornalista cultural, colaborando com outros zines, revistas, portais etc. Em 2004, o Sérgio Ugeda me convenceu a me arriscar como produtora e booker no selo que ele estava montando na época (a Amplitude). Fizemos uma turnê maluca, com pexbaA e SOL (duas bandas bem legais e experimentais que hoje não tão mais em atividade, mas procurem conhecer) e a partir daí tomei gosto e comecei a trabalhar com outros artistas: Stela Campos, Supercordas, Cadão Volpato, Telepatas… tive um selo (a Trombador Discos), fui sócia de uma agência de artistas (a Alavanca, que segue até hoje sob comando da Pamela Leme). Durante quase dez anos trabalhei do lado de artistas, cuidando de agenda, divulgação, tudo… até que em um dado momento decidi me focar mais na área de conteúdo. Mas a música sempre continuou por perto e nesses últimos três anos voltei pra perto dos artistas, só que de outro lado: produzindo festivais (também faço, com o Mancha, o Fora da Casinha, além de assinar a direção artística e de conteúdo do Dia da Música).

Publicidade

E quais foram os primeiros passos do Dia da Música?
Quando o Gustavo Steinberg (diretor geral do Dia da Música) me procurou ele tinha firmado uma parceria com o Féte de la Musique (evento que nasceu em Paris e se espalhou pra mais de 700 cidades em todo o mundo) e pensamos juntos numa forma de trazê-lo com algum diferencial para cá. Optamos por fazer um festival focado em nova música autoral e no circuito que ela tem para se difundir. Fomos aprimorando o modelo: na estreia, o circuito era off, a maior parte dos palcos foi produzida pela gente; a partir de 2016, esse circuito passou a ser o coração do projeto, a ter um fundo de apoio. Esse formato veio de um desejo de mostrar que a cena é feita também pelos palcos, não só pelos artistas. É um mapeamento muito interessante da produção de diversas regiões a partir do olhar de quem está lá, vivendo a cena no dia a dia.

Vocês sentem que estão evoluindo a cada ano?
Todo ano a gente aprende um pouco mais e sempre quer melhorar para o ano seguinte. Nos dois primeiros anos, o grande desafio era fazer funcionar um festival em rede, com tudo rolando no mesmo dia. Agora acho que o formato novo já está assimilado e estamos fritando em qual vai ser a novidade para 2018. A gente tenta sempre conversar com a galera envolvida na rede do festival (produtores, artistas, donos de palcos) para entender como podemos fazer o evento mais bacana a cada edição.

Publicidade

Poderia falar de alguns shows históricos que já rolaram no evento?
Acho muito doido lembrar que Rico Dalasam, em 2015, fez um dos últimos shows “pequenos” dele num dos palcos que fizemos na Avenida Paulista, no meio da Virada Cultural. No ano seguinte, chamamos As Bahias e A Cozinha Mineira pra tocar no Largo da Batata em junho e no fim do mesmo ano elas estavam em tudo quanto é lugar, TV e tal, numa crescente que não para… Gosto de lembrar disso, porque acho que é um papel fundamental dos festivais buscar artistas novos e ser plataforma para que possam voar cada vez mais alto. Mas são muitos shows espalhados no Brasil todo, não consigo ver nem um décimo do que rola só aqui em São Paulo. Não pude ver a Linn da Quebrada no Rio esse ano, por exemplo, mas quem viu disse que foi histórico.

Tem sido recompensador trabalhar com shows e festivais?
A gente vive um momento em que é muito difícil reter a atenção das pessoas e a música ainda é capaz disso e vai além: ainda é capaz de mobilizar as pessoas para o convívio. Quando tem show daquela banda que você ouve em casa sempre, você sabe que a experiência vai ser diferente. Acredito muito no potencial revolucionário da música não só como agente transformador, mas por nos trazer conforto, nos apaziguar um pouco. Acho que essa catarse é melhor percebida — e rentabilizada — nos megaeventos, mas ela acontece em escalas (e orçamentos) variados e pode sim ser um excelente negócio.

Publicidade

Edição do Festival Brasileiro de Música de Rua em Caxias do Sul, 2017. Foto: Breno Dallas/Divulgação

Luciano Balen

Festival Brasileiro de Música de Rua (Caxias do Sul e Serra Gaúcha, RS)

Noisey: De onde veio a ideia de criar o festival?
Em 2005, fundei o Projeto CCOMA, duo instrumental e eletrônico, bastante inovador na época. Com este grupo produzimos um documentário chamado Profissão: Músico, em 2011. Quando concluímos a produção do documentário, percebi que precisávamos fazer o nosso dever de casa: trabalhar a formação de público em nossa cidade e região. Em 2012, com diversos parceiros, criamos o Festival Brasileiro de Música de Rua na cidade de Caxias do Sul. Nasceu pequeno, somente com artistas do RS. O palco era um tapete no chão. O discurso era: colocar a melhor música possível na cara das pessoas. Nos 3 primeiros anos, tínhamos somente pequenos palcos e espaços na rua, sem grandes estruturas. Já do quarto ano em diante já tínhamos a etapa de rua (praças, pontos de ônibus), mas também levávamos músicos nas escolas públicas trabalhando formação de plateia, somado a isso, um grande evento de final de semana, com estrutura de som, luz, banheiros. No quarto ano, além de sermos finalmente reconhecidos pela cidade como um grande festival, também realizamos pequenas etapas em cidades próximas. Tivemos um público total de 25 mil.

Como vocês descobrem os artistas que vão atrair público?
A gente não trabalha muito aquilo que o público quer ver. Já temos a garantia de que o público espera aquilo que vamos mostrar. Já temos na Serra Gaúcha uma legião de pessoas que declaram seu amor pela música, seja ela de qualquer lugar ou dos gêneros mais diversos da música com um viés mais artístico.

Publicidade

Como funciona a mecânica do festival?
Trabalhamos o ano inteiro com uma equipe fixa de oito pessoas. Além de Caxias do Sul, realizamos etapas em Gramado, Bento Gonçalves, Garibaldi e outras cidades próximas. Importante dizer que este festival se desdobra em três frentes: Música na Rua, Etapa de formação de público visitando escolas, e grande evento de final de semana, aí sim, com estrutura de som, luz, palco, coberturas (aqui sempre tem o risco de chover).

Que tipo de som tem vez na programação?
O Rio Grande do Sul tem algumas particularidades em contraponto à região centro-norte do Brasil. E a Serra Gaúcha tem algumas em relação à conhecida cena do rock gaúcho da capital do estado. Aqui, procuramos apresentar um festival brasileiro, que apresente desde artistas do Norte e do Nordeste, ao lado de nomes do Uruguai, Argentina, Chile e Colômbia. Somos uma espécie de antítese ao movimento que quer separar o RS do Brasil. Queremos cada vez mais Brasil aqui!

Vocês recorrem a quais estratégias na hora de divulgar o evento?
Guerrilha! Por 6 anos usamos estratégias de guerrilha pra divulgar. Munimos a assessoria de imprensa com matérias relevantes, entrevistas… Também temos parcerias com jornalistas e radialistas daqui da Serra Gaúcha. Nas redes sociais, também somos fortes, com bons vídeos e fotos antes, durante e depois do evento. Vale lembrar que nosso festival é totalmente grátis e que a região toda tem dois milhões de habitantes. Comunicação não é uma dificuldade por aqui.

Andro Baudelaire na Seletivas Se Rasgum 2017. Foto: Liliane Moreira/Divulgação

Marcelo Damaso

Se Rasgum (Belém, PA)

Noisey: Conte sobre o a sua trajetória nesse meio.
Sempre tive banda e toco desde os anos 90, mas fiquei de 99 a 2003 em Santos, fazendo faculdade de jornalismo. Os últimos anos de lá eu comecei a me envolver na organização de festas com bandas autorais com meus amigos de lá. Voltando pra Belém passei a trabalhar como repórter de um caderno de cultura do jornal. Comecei a me aproximar mais dessa cena e meu envolvimento começou a ficar mais forte com essa cena musical que estava nascendo ali. Começamos de forma muito natural a organizar festas para nós sermos os DJs e colocar as bandas autorais acabou sendo um processo natural. Nessa brincadeira, usamos o nome de Dançum Se Rasgum Produciones, em 2003?

O que inspirou o surgimento do festival?
Certa vez, eu e um amigo do Se Rasgum, Gustavo, fomos ao 10º Goiânia Noise, daí ficamos fascinados com o formato do festival e com aquelas bandas todas, a cena brasileira em si. Daí o Marcel Arede e Renée nos ajudaram formatar um projeto para o 1º Festival Se Rasgum no Rock. Foi aprovado, captamos e fizemos nossa primeira edição. Desde então, não paramos e, atualmente, eu e Renée somos os sócios-diretores da Se Rasgum Produções.

O que é preciso para não deixar nada dar errado?
Ter um bom receptivo com transporte e hotel, boa comunicação (publicitária, jornalística e de mídias sociais), ter bons profissionais para pré-produção e desprodução. Fazer com o melhor som, luz e estrutura de palco da cidade. Nossa equipe é de, no mínimo, 160 pessoas, incluindo segurança, equipe de bar, receptivo, coordenadores e produtores.

Que tipo de som vocês buscam retratar no festival?
A diversidade musical é nossa pauta, mas longe de ser "eclético". Estamos de ouvidos e olhos abertos para artistas que achamos importantes, viscerais e representativos da nova música brasileira. A curadoria passa primeiramente por nós. Viajamos pra outros festivais, ouvimos música diariamente, recebemos material de bandas e acompanhamos a cena musical da nossa cidade. E, claro, ficamos ligados no que algumas pessoas pedem.

Leia mais no Noisey, o canal de música da VICE.
Siga o Noisey no Facebook e Twitter.
Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.