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Abaixo Putin! Liberdade Para Pussy Riot!

Fomos até a embaixada russa em Londres para conferir o humor daqueles que tinham aparecido para protestar pelas devotchkas que estavam prestes a perder sua liberdade.

A Rússia trocou o título de Nação de Caras Durões pelo Uma Nação de Bundões com a condenação de três membros da banda punk Pussy Riot por cantarem uma música safadinha sobre o presidente Putin na Catedral da Igreja Ortodoxa Russa.

Mesmo se você ignorar o contexto obviamente justo do que a banda fez e fingir que foi apenas uma barulheira aleatória sem sentido numa igreja, a reação correta não seria fazer com que elas se retirassem e, sei lá, fossem bani-las da igreja? Criticar severamente as moças no boletim paroquial?

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Mas não, Nadezhda Tolokonnikova, Maria Alyokhina e Yekaterina Samutsevic foram consideradas culpadas de vandalismo e vão passar os próximos dois anos fazendo seja lá o que as pessoas fazem quando estão numa cadeia russa — escrevendo tratados políticos ou tentando evitar encrencas, acho.

Na sexta-feira fomos até a embaixada russa em Londres para conferir o humor daqueles que tinham aparecido para protestar pelas devotchkas que estavam prestes a perder sua liberdade.

A multidão era bem variada.

Indo do meio sinistro…

…até o totalmente fofo.

E um cara com uma máscara de lutador mexicano e um vestido de noiva. Mas talvez ele se vista assim sempre. Manko, artista, 30 anos.  VICE: Oi, Manko. O que você está achando do protesto de hoje?
Manko: É legal ver tanta gente assim. Nas últimas duas manifestações estávamos em 15, 20 pessoas.

Então você acha que protestos como esse fazem diferença?
Bom, não tem mais volta agora. Somos todos Pussy Riot. Não importa qual seja o veredito. Eu não curtia muito política até o caso Pussy Riot, acho que esse caso é uma causa célebre que inspirou o mundo.

Então o fato de você estar aqui não é para afetar o veredito?
Poxa, qual é? Não acho que esses caras aí da embaixada ou o Putin dão a mínima. O Putin vai libertar as Pussy Riot porque a Madonna pediu? Qual é? Não é essa a questão. Isso é só um ponto de encontro.

O que você acha que esse caso vai significar para a Rússia, no futuro?
Não tem como ganhar na Rússia porque mesmo se eles libertarem as Pussy Riot, o país ainda está cheia de prisioneiros políticos. De qualquer maneira, os russos estão fodidos e as Pussy Riot venceram.

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Depois de ter entrevistado Manko, ficamos irritados com o barulho do helicóptero da polícia. Sério, essas coisas custam uma fortuna a cada voo, e o protesto era assim:

Tendo ponderado sobre o lado totalitário da própria Inglaterra, ou simplesmente sobre o desperdício de dinheiro, voltamos para a aglomeração e acabamos falando com “Tommy Anarchic”, que parecia mais interessado em falar da sua banda do que mostrar solidariedade às Pussy Riot. Tommy Anarchic, “oficialmente 26 anos”, DJ de electro punk.  Por que você está aqui, Tommy?
Tommy: Meu projeto, Without My Medicine, faz muito material político. É uma atrocidade que alguém tenha que enfrentar uma sentença de prisão por tentar criar um evento de arte ou expor sua visão política.

Você acha que as autoridades russas exageraram?
Se eles não tivessem reagido, não teriam chamado atenção para si mesmos. Temos o melhor sistema neste país onde podemos falar o que quisermos e ninguém liga. O que provavelmente não é o melhor sistema porque ninguém liga. Você me diz, liberdade de expressão, é realmente livre? Quem vai saber?

Sábias palavras. Você é homem, mas estou vendo que vocês está de saia. O que você acha da política de gênero da Pussy Riot?
Acho que o fato de se ter mulheres lutando pela liberdade de expressão é uma coisa linda. Mas você não acha que ajuda muito a vocalista ser tão bonitinha?

Anônima, anônima, Helen McCookerybook, música, 55 anos (centro) e Caroline Coon, artista, 67 anos (direita). Oi. O que trouxe vocês aqui para demonstrar apoio às Pussy Riot?
Caroline: Fui feminista minha vida inteira e acho que é importante que a democracia tenha o direito de ser ofensiva. Alguns comentaristas russos estão dizendo que as Pussy Riot são ultrajantes. A menos que você esteja preparada para ofender alguém, você pode nunca ter democracia, liberdade ou libertação.

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E você, Helen?
Helen: Bom, eu tocava baixo numa banda 30 anos atrás. Ver uma banda punk defendendo ideais políticos em outro país e vê-las na prisão por isso me fez pensar nas manifestações do passado.

Qual você acha que será o veredito?
Elas serão presas, mas isso vai colocar em destaque o comportamento de Putin e seus companheiros, que era o que as Pussy Riot queriam fazer em primeiro lugar.

Caroline: E também, falando de Putin, aquela masculinidade patriarcal está mais morta que um dinossauro. Prender as garotas do Pussy Riot indica quão frágil é essa masculinidade.

Então você acha que o tratamento dado às garotas do Pussy Riot prova o ponto delas em primeiro lugar?
Ambas: Sim!
Helen: Apesar do Putin ser um ditador, ele na verdade está sendo manipulado, o que é muito engraçado.

Sim, é como domesticar o Pu.

Oliver, 30 anos, trabalha para uma organização de direitos humanos chamado Article 19 que faz campanha pela liberdade de expressão. Como ativistas dos direitos humanos, o que você acha que deveria ter acontecido com as Pussy Riot?
Oliver: Mesmo se elas estivessem causando uma perturbação na igreja, o pior coisa que elas deviam ter enfrentado era uma multa administrativa, como uma multa de trânsito por ter estacionado em local proibido, isso é esse tipo de ofensa.

Então você acha que a reação foi exagerada?
Por Deus, com certeza!

Isso indica uma erosão da democracia na Rússia numa sentido mais amplo?
Bom, nossa posição é que a mídia na Rússia não é mais livre, o direito de reunião foi completamente minado e a liberdade de expressão está sendo derrubada rapidamente.

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Nesse ponto, o número de manifestantes estava inchando e os gritos estavam ficando bem rancorosos. Isso fez esse homem espiar o movimento da janela da Embaixada da Guiana e pensar como é chato trabalhar do outro lado da rua da embaixada de um pária internacional. Ou talvez ele tenha notado que os Anonymous tinham chegado, com aquele visual ameaçador de sempre e cagando no dress code tão bem observado até aquele momento com suas malditas máscaras.

Lá pelo meio dia, a notícia que começou a se infiltrar era que o inevitável tinha acontecido: as Pussy Riot tinham sido condenadas. Procuramos pela reação de um dos estadistas punks mais velhos, Bruno Wizard do The Homosexuals.

Bruno Wizard do The Homosexuals.

Oi, Bruno. Somos da impressa, podemos falar com você?
Bruno: Vocês são agentes russos? Tem algum material radiativo aí com vocês? Então tudo bem.

O veredito de culpadas acabou de sair.
Não tinha ouvido isso ainda, é um ultraje. É um ultraje desde o começo quando elas foram presas. Se isso tivesse acontecido no Reino Unido ou nos EUA, elas até seriam detidas, mas logo estariam livres sob fiança e tocando em festas em ocupações.

O que você acha das ações das Pussy Riot?
Eu estava lá no chamado nascimento do punk na Grã Bretanha e aquilo não foi punk. Punk é ser um outsider, estar preparado para morrer pelo que você acredita e essas garotas do Pussy Riot humilharam os movimentos punk do Reino Unido e dos EUA. Me mostra uma única pessoa no Reino Unido ou nos EUA que tenha feito algo equivalente ao que essas garotas têm feito. O Putin está, de certa maneira, fazendo uma favor ao mundo se mostrando como um tirano, para ser atacado por todas as pessoas amantes da liberdade do mundo.

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Dorothy, 20 anos, estudante (direita). E elas foram consideradas culpadas. Algumas pessoas estão vendo isso como uma vitória  as Pussy Riot provaram seu ponto sobre liberdade de expressão. O que você acha disso?
Dorothy: Elas não ganharam a liberdade. Duas delas têm filhos. A curto prazo vai ser uma merda para elas. É ótimo que isso tenha se tornado um protesto internacional, mas não é exatamente glorioso elas terem que ir para a cadeia. Mas acho que isso vai incentivar a coletividade.

O protesto começou a minguar e era hora de ir para casa. Espero que a última previsão da Dorothy esteja correta e que o Pussy Riot continue a aparecer nas manchetes com apresentações ainda mais ousadas na cara da junta putinista — nem que seja só para gente desfrutar do desconforto dos âncoras de telejornal tentando dizer “Pussy Riot” no seu tom sério e perfeitamente nítido sem demonstrar vergonha.

Talvez a gente possa mandar o James Bond (ou seu equivalente da vida real) para contrabandear as minas para a Embaixada Britânica em Moscou e garantir asilo político para elas. Porque, no final das contas, elas só tocaram uma música punk numa igreja — não é como se elas tivessem exposto as maquinações da política internacional para o público ou algo parecido, né?

Anteriormente:

As Pussy Riot Foram Condenadas
Conheça o Pussy Riot

Free Pussy Riot!

Fomos a um Show de Protesto Contra a Prisão do Pussy Riot