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festa

A festa do Pinheiro não passa de um samba minhoto

Com álcool q.b. à mistura.

Hoje é aquele dia em que Guimarães se torna numa verdadeira cidade medieval. É daquelas histórias que podiam começar assim: estamos no dia 29 de Novembro, no ano 2012, depois de Cristo. Todo o Portugal está minimamente sóbrio… Todo? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis vimaranenses ainda resiste ao invasor. Se não és de Guimarães e ninguém te falou sobre este dia, prepara-te: é que Guimarães inicia, em todos os dias 29 de Novembro, as festas académicas mais antigas do País — as festas Nicolinas. Para participares no primeiro número das festividades (o Pinheiro), o kit a levar é simples: tens de levar tampões para os ouvidos, gaze para aconchegares as mãos e o teu cartão de utente do Serviço Nacional de Saúde, para fazeres o check-in de uma forma elegante — já vais perceber esta parte. E do que se trata o Pinheiro? Para ser justo, é uma versão minhota do Carnaval do Rio de Janeiro. É uma grande (enorme) bateria de samba, composta apenas por bombos e caixas, onde se toca o mesmo ritmo durante a noite toda. O percurso está pré-estabelecido como em qualquer bom sambódromo: vai do Castelo, até ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Consolação e Santos Passos, mais conhecida por Igreja de São Gualter. Não há mulheres seminuas — as máscaras mais usadas neste desfile são o lenço à tabaqueira e a mitra nicolina (uma espécie de gorro à campino que, usado nesta altura do ano, dá a toda a gente um aspecto de Pai Natal). Por falar em Natal, aqui existem bois como num presépio, a carregar um pinheiro de 20 metros decorado. Provavelmente, a maior árvore de Natal que já alguma vez viste. A forma de usufruir deste espectáculo é simples. Dirige-te a qualquer restaurante — se não tiveres marcado com antecedência, será difícil encontrar mesa — e pede Rojões à Minhota, com tudo a que tens direito: farinheira, castanhas, papas de sarrabulho… tudo! E vinho verde, tinto, muito. Vais precisar disso para aguentar a noite, acredita. Leva também uma garrafa de Maciera para andar no bolso, vai dar-te aquele ar de connaisseur e ajudar-te-á a suportar a noite fria, mais que não seja, por ser altamente inflamável. Esta malta vai todos os anos à festa do Pinheiro. Assim, depois de beberes um mínimo de sete quartilhos de vinho, sempre verde e tinto, sai à rua para sentir a atmosfera. Na falta de mitra nicolina, põe o teu gorro de Pai Natal que compraste na loja do chinês. Como precisas de uma baqueta para tocar no bombo de alguém, pede uma colher de pau emprestada no restaurante onde comeste e começa a amigar-te com a malta, pedindo para tocar. No final da noite, se não tiveres sítio para dormir, a cidade é hospitaleira. Confirma se trouxeste o tal cartão de utente do Serviço Nacional de Saúde como referido no kit, examina o teu estado alcoólico e, se estiver avançado, mesmo assim, bebe mais oito quartilhos de vinho, como prevenção, para entrares no hospital e dormires uma sesta em estado comatoso.