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Música

O diário de Paredes de Coura - parte 4

Uns concertos com a frescura de uma poça de mijo e outros que nem tanto.

Cuide de Vila Verde, 16 de Agosto de 2012
03h17 Em quase tudo na vida, se tudo correr bem, tudo acaba mal. Em Paredes de Coura, parece passar-se o contrário. Depois de dois dias se assemelhavam a um sádico ritual iniciático para os festivaleiros, quarta-feira amanheceu com um sol tímido na vila minhota. Para trás ficou um dia com muita chuva e com muita gente a abrigar-se no único palco a funcionar. Na terça, Japandroids foi um estoiro contido, tUnE-YArDs deu vontade de esquecer a chuva, despir a roupa e correr pelo recinto em saltinhos de cópula tribal e Stephen Malkmus voltou a provar que pertence à galeria de entradotes do rock que mantêm uma invejável cara de putos, um espaço de que também fazem parte Thurston Moore e Beck. Quase a fechar a noite, consta que Friends foi morninho e que a Samantha trazia um top com a inscrição “PUSSY RIOT”. Bonito. O dia do meio do festival já foi mais à séria: quatro palcos abertos, mais gente e sobretudo mais gente seca… A coisa começou bem com Kitty, Daisy & Lewis, um trio de irmãos cheios de swing que até puseram o Adolfo Luxúria Canibal a dançar na fila da frente. Mas tudo descarrilou a seguir. Primeiro com os Midlake, uns barbudos amigos das árvores, que tinham um tipo a tocar flauta transversal que me fez recordar com nostalgia um violento crush por uma miúda do 8.º ano. Depois, com os Temper Trap — ambos no palco principal e ambos aborrecidos como uma foda fria. A garota da foto, por exemplo, estava mais preocupada com o resultado do amigável entre Portugal e o Panamá (2-0 para a equipa das quinas) do que com o concerto dos australianos. Compreensivelmente, diga-se. Se era para aquilo, até eu prefiro ver vídeos dos U2 nos 80’s enquanto sou chicoteado. Além do mais, os Temper Trap têm um baixista terrível que faz lembrar os piores tiques do hair-metal. Enfim, demasiada testosterona para tão fraco desempenho. E por falar em concertos com a frescura de uma poça de mijo, a área destinada a descarregar as fezes também melhorou com as abertas deste dia. Menos confusão, menos lama e uma excelente oportunidade para quem mija de pé: experimentar os urinóis a céu aberto. Aliviar-me ali foi tão prático que até deu para atender uma chamada com a mão que não segurava a pila. O melhor de tudo até agora foi Sleigh Bells. Sem surpresas para quem já os tinha visto, um estalo de concerto para todos. Uma cena para ver de pau feito, fosse pela erecção do mijo, fosse pela vontade de ocupar os calçõezinhos da Alexis Krauss. Sentia-se, sobretudo nos lugares da frente, um libidinoso inquilino a tomar conta de nós e, por sua vez, a desejar tomar conta daquelas águas furtadas de ancas, por inveja do selvático figurino de Alexis ou por predação sexual pura e simples. Um SpongeBob em forma de balão com as suas quadradas pantalonas, ali no enfiamento do palco, acabou por ser o improvável empata-fodas daquele bordel de rock. Venham mais dois dias disto.