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Música

As Festas Caseiras do Redinho São um Guia de Diversão para o Novo Milênio

O garoto londrino membro do coletivo hedonista Numbers fala sobre seu novo disco e conta como as pessoas caem num laguinho durante festas na sua casa.

Créditos da foto: Mads Perch

Apesar da reputação de clube de garotos para bufões do punk, o selo Numbers, de Glasgow, leva muito a sério a tarefa de mergulhar a música eletrônica de cabeça. Da feitçaria prog-digital do Rustie à música trap neo-Luger do Hud Mo, poucos selos têm papéis tão importantes na definição de uma nova roupagem para a música dance quanto o coletivo escocês. Com toda a festividade hedonista deles, dá para ver que a equipe da Numbers tem um bom olho para talentos.

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Redinho, vulgo Tom Calvert, é um desses talentos, um desses caras brilhantes e despretensiosos da Numbers, à margem da música eletrônica, frequententemente correndo o risco de ser negligenciado como um dos membros mais rock e estridentes da gravadora. Por trás da aparência polida, o malandro do talkbox lavado e experimentos musicais é um aventureiro destemido nos estúdios.

O garoto londrino teve êxito onde muitos fracassaram — ele conseguiu criar um som próprio. Na era do pós-tudo, em que a hibridização dos gêneros britânicos de dance alcançou novas camadas de perplexidade, Calvert divide o pódio com Machinedrum e Addison Groove como um dos diversos produtores capazes de conjurar sons sem precedentes no esqueleto de gêneros díspares, aparentemente incompatíveis, com muita elegância e resultados surpreendentes. Agora que Calvert está lançando seu LP de estreia, tipicamente indefínivel, intitulado apenas Redinho, ele converou com o THUMP sobre festas, a Numbers, o estado atual da música dance e Stevie Wonder.

THUMP: Onde você mora em Londres?
Redinho: No sudeste de Londres. Moro com o meu irmão e várias pessoas num casarão em Brockley. Ele também é músico. Meu outro irmão mora ao lado, em Peckham, e também é músico.

Na sua opinião, o que aconteceu com Glasgow para a cidade gerar tantos produtores marginais de uma só vez?
Evidentemente, algo está acontecendo, mas se eu tivesse que adivinhar, diria que é porque Glasgow é uma cidade com uma forte paixão por música. Dá para sentir isso lá. A galera é incrível.

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Você costuma ficar um tempinho lá?
Sim, esporadicamente. Fui várias vezes à Rubadub. A vibe é incrível. Os shows em Glasgow são especials, principalmente quando a Numbers está envolvida. É uma vibe única.

Você acha que há uma cena própria lá, e se houver, acha que ela gira em torno do contingente da Numbers?
Não sei dizer se é "uma cena", mas há um senso de comunidade nas baladas. Especialmente na Rubadub. A Numbers tem tantos DJs que vieram da Rubadub. Digo, vários costumavam trabalhar lá.

É verdade que a equipe da Numbers vive uma vida intensa?
Ah, eu não consigo acompanhar o ritmo deles. Quer dizer, o Jack em particular me espanta. Mas, ao mesmo tempo, alguns tiveram filhos, os caras mais velhos, então nem todos são malucos assim.

De volta a Londres: qual é sua balada favorita?
Quer saber, ultimamente, tenho curtido festas caseiras. Fizemos várias festas na nossa casa, até que fomos obrigados a parar, quando a vizinhança nos ameaçou com uma multa de 5 mil libras caso fizéssemos outra.

Como foi isso?
Sei lá, acho que é porque, basicamente, tratamos as festas como grandes produções noturnas. Temos turntables, mais turntables e uma banda, e também arrumamos um PA enorme. É ridículo. Pra falar a verdade, nossos vizinhos são bem legais, mas alguém ficou farto na última vez e chamou a polícia, que apareceu e acabou com a festa.

Os irmãos Calvert participam desses números musicais?
Sim! Os irmãos Calvert estão com a corda toda; às vezes, na verdade, formamos a base da banda.

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Isso parece classudo.
Já fizeram mosh na nossa sala de estar! Mosh, cara! Ridículo. Depois, meu irmão estava tocando baixo, um cara veio e jogou cerveja na cabeça dele, e eles acabaram numa briga feia. Foi quando as pessoas começaram a cair no laguinho do nosso quintal.

Incrível, não? Cair num laguinho no meio de uma festa.
Se você soubesse o fedor repugnante que inunda a casa quando alguém agita a porcaria daquela superfície… Se você caísse lá de fato, acabaria com a sua noite.

Você curte raves ou é do tipo que fica mais em casa? Algumas músicas suas foram feitas para fones de ouvido, outras são mais de balada.
Gosto de fazer música para todo tipo de situação. Não sei. De qualquer forma, eu vivo em baladas, ou festivais, como DJ, então sair de casa no tempo livre parece trabalho. Quer dizer, quando eu era novo, quase sempre estava fora, mas agora prezo outras formas de interação social.

Créditos da foto: Desiré Van Den Berg

Que outras formas? Você está se referindo ao circuito underground, secreto, de badminton?
Ainda não sou um cara influente no mundo do badminton. É mais desenho. Estou fazendo aulas de desenho, com modelos vivos; ilustro pessoas nuas e sinto a ira tomar conta de mim quando percebo que sou um bosta. Eu adorava desenhar quando era criança. Ultimamente, venho fazendo as coisas que costumava fazer quando criança. Por isso, entrei numa onda de andar de bicicleta. Isso traz à tona a criança que há em mim.

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Antes de trabalhar com música dance e eletrônica, quando você e seus irmãos tocavam bateria e guitarra, que bandas você curtia?
Cresci tocando em bandas com meus irmãos, e começamos como fãs de Red Hot Chilli Peppers e Rage Against The Machine, e também Pantera e Machine Head. Mas eu não conseguia tocar Machine Head. Depois, passamos a curtir jazz e funk, depois hip hop, e enfim eletrônica.

Evidentemente, o hip hop ainda influencia a sua música. O que você acha da avalanche de híbridos de trap-house que vêm surgindo nos EUA?
Acho que hoje, em geral, a música é bem aberta. E acho que, no fim das contas, no novo milênio, criatividade é pegar elementos preexistentes e combiná-los para fazer algo novo.

Por que você acha que, atualmente, muitos produtores novos incorporam tantos gêneros no trabalho deles? É um negócio crescente. Logo surge um gênero triplo, ou quádruplo. E, muitas vezes, os produtores considerados mais progressivos são os mesmos que combinam gêneros, em vez de concentrar o trabalho em apenas um gênero e desenvolver a música dance assim.
Acho que você precisa garantir que a faixa não desande em retalhos Frankenstein. Quando esses produtores são considerados originais, é só porque são capazes de combinar os gêneros uniformemente. Como observador, ainda dá para quebrar a faixa em suas partes constituintes, mas é mais difícil.

Por falar em sons originais, você poderia desconstruir "Slap" pra gente? A faixa parece não ter precedentes na música.
Bem, a faixa se chama "Slap" porque faço slapping com o baixo. Adoro o Flea, do RHCP, e gosto especialmente dos primeiros trabalhos dele, porque ele tocava na velocidade da luz em Blood Sugar…. Então, fiz slapping com os sons do baixo e imaginei o Flea pirando. Eu queria que o produto final soasse como o ritmo dele.

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Ouvi dizer que IDM também é uma grande influência do seu trabalho.
Se por IDM você quer dizer coisas como Aphex [Twin] e Squarepusher, então sim, cara. Eu AMO tudo isso. Digo, "Slap" certamente tem uma influência de IDM. O negócio do IDM é mais difícil de identificar em Redinho, mas uma faixa do álbum chamada "Shem" tem um quê de Aphex.

O que influenciou o processo de criação de Redinho?
Retomando nossa conversa sobre influências, o conceito de Redinho era combinar Stevie Wonder, que eu adoro, com funk dos anos oitenta em geral, porque sou um filho dos anos oitenta com elementos mais contemporâneos, como a bass music. Grande parte do processo é testar novas faixas na pista e ver o que funciona, e então voltar ao estúdio e aperfeiçoar. Primeiro, há o aspecto técnico do trabalho, isto é, se todos os sons realmente funcionam nos altofalantes das baladas. Em segundo lugar, é preciso entender a atmosfera que a faixa cria, se tem a energia certa.

Se você pudesse produzir qualquer estrela contemporânea, quem seria?
Não sei se ele ainda pode ser considerado contemporâneo, mas Andre 3000.

Quais são os seus próximos planos?
Meu próximo passo é a turnê. Algumas coisas na Europa, não posso divulgar os detalhes agora.

E, por último, qual é a sua com o talkbox? É tão incrível! A voz humana não é utilizada o bastante em produções eletrônicas. Conte um pouco do seu fascínio com isso.
Bem, cresci ouvindo soul e Stevie Wonder, como eu já disse, e muito do soul é o aspecto vocal. Mas o Stevie é um herói para mim porque, nos tempos áureos dele, embora fosse um compositor incrível, ele também curtia muito produção e era aberto às tecnologias da época. Então, como resultado, a música dele, na verdade, era bem experimental. Essa é a minha aspiração.

O EP Redinho acabou de ser lançado pela Numbers - garanta o seu aqui.
Siga o Redinho no Twitter: @Redinho
Siga John Calvert no Twitter: @JCalvert_music

Tradução: Stephanie Fernandes