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Dia dos Pais

Retratos de pais antes de serem pais

Antes do kit churrasco personalizado, calça social cáqui e coletâneas de rock clássico seu pai foi um cara descolado e baladeiro.
Pai do Pedro Falcão. Todas as fotos foram gentilmente cedidas.

Acredite se quiser, seu pai já foi jovem. Houve uma época em que ele não era seu pai e talvez nem pensasse que seria pai de alguém eventualmente. Seu pai já flertou, foi xavecado, tomou um porre, fumou um ou dois cigarrinhos de artista e tirou muita onda com os amigos.

Em homenagem aos nossos pais antes do nosso nascimento, pedimos para nossos leitores que mandassem retratos dos pais novinhos e descrevessem um pouco quem eram eles antes dos CDs de new age largados no carro. Muitas fotos não estão na melhor qualidade, já que várias foram digitalizadas ou apenas definharam com o tempo, mas dá pra ver o tanto de paizão gato e moderno que o pessoal tem.

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Pai do Felipe Apezatti

"Bom, meu pai agora está com 58 anos. Na época dessa foto, nos idos de 70, ele devia ter uns 17, 18. Não sei a idade ao certo, eu ainda não era nascido, mas recuperei uma série de slides da minha família que contém essas imagens, viagens para a praia — posteriormente ele viria a morar em Santos — e para o interior. Essa imagem, acredito, deve ser em Águas de Lindoia. Meus avós gostavam muito de ir para lá no final de semana, descansar, comer naqueles restaurantes bem bregas que ficaram iguaizinhos até meados dos anos 90. Nessa época, meu pai tinha essa cabelo Jovem Guarda e gostava dessas calças boca de sino. Segundo relatos do meu pai, o meu avô Plínio não gostava nem um pouco desse tipo de vestimenta e principalmente do cabelo [dele]."

Pai da Bia Souza

"Meu pai hoje tem 74 anos, quatro filhas, dois netos, duas netas e acaba de saber que em fevereiro chega o primeiro bisneto/a. Hoje ele é aposentado, mas trabalhou a maior parte da vida no ramo de bebidas e alimentos, principalmente na Brahma. Fumou a maior parte da vida e teve que lutar contra um câncer há 6 anos. Venceu a doença, mas lida até hoje com sequelas bem chatas. Nunca foi um pai daqueles que abraça e beija pra demonstrar carinho, mas sempre foi (e ainda é, quando preciso) aquele que leva e busca em qualquer lugar, dá conselho sensatos, e enquanto morei com ele, não teve um dia em que acordei e meu café da manhã não estivesse pronto."

Pai da Bruna Thalenberg na ponta esquerda de cabelo armado

"Acho essa foto brisa porque meu pai é engenheiro e sem graça (super quieto, tímido, introvertido, faz as coisas padrão sem graça de engenheiro e de gente da idade dele). Na foto ele está todo descolado com os amigos parecendo uma boyband. Ele tem 64 anos agora e gere a fábrica que era do meu avô. Ele gosta muito de Beatles — e de música de maneira geral. A gente tem uma coleção de vinis enorme da época que ele era jovem; ele trabalhou em uma rádio enquanto tava na faculdade. Ele é judeu, mas não pratica e fica todo o tempo que está em casa no computador ou dormindo na frente da TV. Eu pareço fisicamente muito mais com a minha mãe, mas de jeito pareço mais com ele."

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Pai da Carolina Siqueira

"Essa foto é do meu pai em meados dos anos 70, super estiloso. Ele tinha milhares de qualidades maravilhosas, mas uma, que vendo esta foto eu me lembrei, era o bom gosto. Bom gosto para se vestir, para comprar presente, pra tudo. Andava sempre muito bem vestido e entendia o que estava na Moda."

"Meu pai com uns 15 ou 16 anos, numa época em que ele enchia um SP2 com umas oito pessoas e pegava estrada pra ir pra festas em cidades vizinhas. A maior diversão dele, nesses primeiros anos de 1970, era visitar ferro velho e montar as próprias motos. Veio pra São Paulo pouco tempo depois pra fazer publicidade e depois jornalismo na Cásper. Frequentava o sindicato, chegou a ser levado pelo DOPS (tenho uma foto de uma foto dele à la Pablo Escobar, mas aí acho meio pesado pra um especial do dia dos pais), era amigo do pessoal que tocava do Lira Paulistana. Enfim, paizão com quem gostaria de sair pro bar nessa época."

Pai do Conrado Rodrigues

"Quando eu era pequeno, meu pai sempre morou longe, por causa dos times que jogava. Essas fotos ficavam na sala de casa e mesmo detestando futebol, gostava de ver e sentir a vibe de fortaleza que elas transmitem pra mim."

Pai da Dea Lellis

"Meu pai era o tipo pai-melhor-amigo. Tinha um trabalho de gente certinha, mas adorava uma zueira. Com ele eu fumei meu primeiro e único cigarro, tomei meu primeiro porre com bebida não alcoólica e vi todos os shows de metal que uma menor de 14 anos poderia ter visto. Melhor companhia de uma pequena parte da minha vida."

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"Washington de Camargo Barbosa nasceu em 5 de agosto de 1955, em São Paulo, no longínquo bairro da Pedra Branca, zona norte da cidade. Parte da sua infância passou em um colégio interno para garotos, o Salesiano de Campinas (onde curiosamente foi gravado a saudosa série "do Sandy e Junior"). Já adulto, fez faculdade de processamento de dados quando isso ainda era o crème de la crème da tecnologia. (…) Uóshton, como lhe chamam, não ostenta mais essa cabeleira. No lugar, uma careca que brilha toda vez que lhe brota o suor. O shape longilíneo também foi substituído por uma protuberante pança, daquelas que são duras, resultado dos churrascos que adora oferecer. O bigode e a costeleta também foram extintos. Na foto, ainda solteiro, aparece com Ana Maria, minha mãe, com quem veio a se casar anos depois. Os dois se conhecem desde a quarta série e apenas engataram um relacionamento após a saída do colégio interno."

Pai da Giulia Rosso

"Meu pai é o Edu, arquiteto e sensei de Aikido, cozinheiro de mão cheia, me ensinou a ser mulherão da porra, consertar as parada tudo, furar parede, ser durona e me amar sempre demais. Sempre foi descoladex, ama Star Wars e Asterix."

Pai da Gabriela Ferigato

"Ele é o cara que chegava em casa cansado do trabalho, apagava as luzes da sala e me chamava para deitar no chão com ele ao som de Freddie Mercury. Sempre ao som dele. Que tentava me ensinar, sem sucesso da minha parte, os segredos da bendita trigonometria, mas uma coisa eu aprendi. Sou a menina mais sortuda do mundo por tê-lo como pai."

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Pai do Pedro Falcão

"O nome dele é Nelson Falcão Filho, tem uns 60 e poucos hoje, mas quando era jovem (e playboy), ele era hippie e curtia muito a Jovem Guarda. Ele também tinha uma Puma – que depois foi roubada – e um Volkswagen Voyage 1984, que ele teve que vender para pagar os custos de se ter um filho (no caso, eu). Essas fotos antigas são ótimas para eu jogar na cara do meu pai toda vez que ele reclama que o meu cabelo tá comprido demais."

"Meu pai era muito foda. Brincalhão, paizão e fazia de tudo pra gente. Ele faleceu de câncer em 1999."

Pai do Alexandre Linares

"Manoel é pai de Alexandre, Bárbara e Isabelle. Essa foto foi tirada em 1977."

Pai da Paula Mazini — aqui com a mãe

"Seu Eder já tem mais de um ano de saudades. Ainda me pego aguardando algum comentário implicante relativo a qualquer decisão que eu tome na vida. Papi era chato e briguento, mas ao mesmo tempo um cara extremamente sensível, daqueles que ficava com o olho cheio de lágrimas só de escutar o Tom Jobim cantar. Bom de papo (essa parte eu puxei dele), generoso, sempre tinha alguma iguaria gourmet pra me dar de presente. Na melhor definição já feita, minha "tia" Anaelena Lima, comadre de anos da figura, o descreveu assim: Exímio cortador de salame fininho, descobridor de novas e boas marcas de uísque, fazedor de pizza de sardinha. O Magrelo continua aqui, bem dentro da gente, ao nosso lado, rindo da gente, implicando com a gente e, sabe-se lá, talvez, sentindo saudade da gente como sentimos saudade dele."

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Pai da Tamires Hilário

"Meu pai foi DJ de bailes soul aqui da Zone Oeste (foi assim que conheceu minha mãe, a preta da [segunda] foto, por meio de um disco do Marvin Gaye que sumiu, o que eu digo a ela que foi o maior migué com crush da história), nada muito grandioso, festinha de bairro mesmo. Minha avó achava que ele era comunista por ser barbudo, fumante e da gandaia."

Pai do Bruno Ribeiro

"Bem, essa é a minha foto favorita com o meu pai, Vanir dos Santos. Tenho outras peculiares, mas essa me toca bastante. Não sei se é a coloração amarelada, o Bobs, nossa cara de peixe morto, mas eu adoro ela. Fora que essa foto representa bastante os meus anos 90, o que faz com que eu a ame mais."

Pai da Letícia Leão

"Meu pai tinha 21 anos nessa foto, mesma idade que eu. Ele sempre foi músico, toca saxofone e é um ótimo cantor também."

Pai da Andreza Spinelli Ballan

"Papi 100% soberano, meio italiano, meio árabe. Já foi moleque de rua, agarrou a vida pelos cabelos, venceu e é o melhor pai que eu poderia ter. Nossas pernas, pés e mãos são iguais. Eu, ele e meu irmão também temos uma pinta idêntica no pescoço. Amo tanto que nem sei dizer."

Pai da Priscila Garcia

"Meu pai era muito gato e descolado. Seu nome era Sergio Fernandes Neto. Nasceu numa cidadezinha no sertão do Ceará. Seus pais migraram para Osasco quando ele ainda era muito pequeno. Essa semana, a saudade está batendo forte, inevitável. Ele faleceu subitamente em 2011. Resultado de uma vida muito boêmia e de poucos cuidados com a saúde. Na época, eu morava fora do país e acabei não voltando para o enterro. Fato que vai sempre apertar o meu coração."

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Pai da Mirella Machado

"Nos anos 1970, meu pai estava trabalhando em um dos primeiros cruzeiros transatlânticos que vieram para o Brasil. Com isso, ele conseguiu conhecer de NYC à África. Ele sempre teve esse espírito livre e aventureiro, trabalhou com viagens, com baladas e sempre teve paixão por paraquedismo. Nessa mesma época, ele já era paraquedista profissional e saltava aí pelo Brasil com a minha madrinha."

Pai da Hannah Levy

"Meu pai é o cara que minhas amigas achavam gato na época da escola, me levava de carro ouvindo The Smiths no último volume e cantando comigo "There is a light that never goes out". Sempre com uma jaqueta de couro e fumando. Ele foi roqueiro, fotógrafo e artista louco, nunca foi um pai padrão. Ensinou tudo pra mim e pra minha irmã sobre música gringa nos anos 60, 70 e 80. Ele curte também Radiohead, o que eu acho o máximo. Infelizmente com 55 anos teve um AVC (ano passado) e agora vive uma vida completamente diferente."

Pai da Fernanda Couto (de camisa branca)

"O que lembro da história dessa foto é que foi quando ele entrou na faculdade Lusíadas, em Santos, pra cursar administração de empresas. Tão raspando o cabelo dele e acho ele o mais gatão da turma."

"Meu pai sempre foi o cara da festa, o brother que você sempre quer nas suas festas. Ele nunca foi do time das camisas e na primeira foto ele devia tá ali tomando um sol e por não ter cicatriz na cara isso deve ter sido antes de 81."

Pai da Cassila Karina Canoro

"Ele tinha 19 anos quando eu nasci. Meu pai foi, e é, muito importante na minha vida."

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Pai da Adriana Debatin

"Essa foto foi tirada quando meu pai estava fazendo um teste para a TV Tupi quando as novelas ainda eram transmitidas ao vivo. Ele tirou essa foto no Piva, na época considerado um dos melhores fotógrafos de São Paulo. A dedicatória na foto é pra madrinha dele, a tia Ana, que era uma senhora maravilhosa e tinha dois olhos lindos cor de azul. Meu pai sempre esteve à frente do seu tempo. Foi ator, jornalista, trabalhou com política e faz muita falta."

Pai da Lilian Januário

"Meu pai desde cedo é cheio de personalidade. Mesmo passando por dificuldades financeiras mandava fazer suas roupas com tecidos super estilosos pra conquistar as gatinhas no baile (assim ele conquistou minha mãe, aliás). Era muito fã do Antônio Marcos e queria ser cantor, até se inscreveu no Chacrinha mas não levou o sonho a frente. Minha mãe tinha ciúme dele com as tchutchucas do baile, mas conquistou o coração do boy, que se apresentou como Flávio que era seu apelido e o chama por esse nome até hoje mesmo seu nome na certidão ser Maurílio. Hoje ele continua estiloso e amando música e além disso tudo também é o pai mais querido do mundo!"

"Meu pai faleceu há 2 anos já, e às vezes parece que a ficha não caiu. Ao contrário do filho, tinha um talento com a bola que o levou a ser convidado para jogar no Internacional quando novo, plano abolido pela minha avó. Sinto falta não só do companheiro para assistir Bonanza e os faroestes do TCM, mas do cara que me ajudava a segurar a barra nas horas difíceis. Era um sujeito carismático e que sabia contar piadas muito bem."

Pai do Amauri Gonzo

"Reza a lenda que meu pai está matando um gambá nessa foto. Ou uma raposa. Ou um mão-pelada. Bom, era um bicho no sótão de casa. O crime ambiental já prescreveu, então não tem problema de mostrar. Nem sei por onde anda esse revólver, mas lembro dele na infância. Meu pai deixou o Exército quando minha mãe engravidou do primeiro filho, e acabou levando a arma junto. Foi criado na roça, saiu do meio do mato para servir as Forças Armadas, dois anos depois era sargento. Quando viu que só vira oficial quem vinha de família de oficial, acabou saindo em busca de alguma coisa melhor — ainda assim, até hoje ele guarda uma grande admiração pelo Exército, foi meio que uma força civilizatória para ele. Na foto aparece uma característica que eu herdei do meu pai fortemente, além do vício em nicotina, a barba cerrada e a cor dos olhos: a mania de morder a língua quando vai fazer algo complicado como armar a pontaria."

"Dizem que são duas versões de mim nessa foto. Meu pai usava cabelo comprido porque tinha vergonha das orelhas."

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