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Scorsese Nunca Fez Isso

Ou como Lloyd Kaufman, o herói dos cineastas vagabundos, conferiu puteiros da Augusta, ensinou como se faz cinema sem dinheiro... e tombou morto na Liberdade.

Ou como Lloyd Kaufman, o herói dos cineastas vagabundos, conferiu puteiros da Augusta, ensinou como se faz cinema sem dinheiro… e tombou morto na Liberdade.

“Moooo”, dizem dezenas de vaquinhas estampadas numa gravata vermelha. Logo acima da gravata, o rosto de Lloyd Kaufman se abre num sorriso ao reparar no letreiro em néon multicolorido do Las Jegas, boate da rua Augusta onde os clientes costumam pagar R$ 102 por programas de 40 minutos, geralmente sem sexo anal e com boquete de camisinha.“É um puteiro”, explica em inglês o cineasta Fernando Rick, que acompanha Kaufman num passeio pelas ruas do centro de São Paulo, ciceroneado por uma equipe da TV Cultura, na noite de 3 de junho.

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“Puteiros? Adoro puteiros. Me lembram minha casa”, diz Lloyd. “Lembram o quê?”, pergunta a esposa de Lloyd, Pat Swinney Kaufman, filmando tudo com uma handycam. “Diga para a câmera.” “Eu disse que me lembram o Congresso americano”, corrige.

Lloyd é um senhor de 66 anos, pai de três filhas formadas em Harvard, Yale e Columbia, casado há 37 anos com a mesma mulher. Visto de relance em seu visual grisalho de terno, camisa xadrez e gravata, quase poderia ser confundido com um norte-americano do tipo respeitável, republicano, brocha e sócio do Rotary Club local. Mas é só você reparar nas estampas de vaquinha de sua gravata, ver os tênis que ele combina com o terno ou, principalmente, ouvir o que Lloyd fala sem parar, alternando piadas retardadas e manifestos contra a lavagem cerebral de Hollywood — e aí você se toca de que esse só pode ser mesmo Lloyd Kaufman, presidente da Troma Entertainment, uma das mais antigas produtoras independentes de cinema ainda em atividade do mundo, responsável por quase mil filmes de baixo orçamento, como O Vingador Tóxico, Terror Firmer e Poultrygeist: Night of the Chicken Dead, que transformaram a receita PUTARIA + VÍSCERAS + CRÍTICA SOCIAL + HUMOR SACANA em arte.

“Você vai ser o Vingador Tóxico”, avisa Lloyd para Fernando, enquanto arranca de sua mochila surrada uma máscara de borracha com o rosto de seu personagem mais famoso, que mostrou a cara deformada em quatro filmes, um desenho animado e até em uma versão teatral, Toxic Avenger Musical, que deve chegar à Broadway neste ano. A história do faxineiro vítima de bullying que ganha superpoderes após ser jogado num tonel de lixo radioativo também invadiu Hollywood, por meio de uma refilmagem que está sendo dirigida por Steven Pink, de A Ressaca. (“Ninguém aceita distribuir nossos filmes em lugar nenhum, mas querem refilmá-los. É ridículo”, comenta Lloyd.)

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Mesmo morrendo de vergonha, Fernando segue todas as ordens do tio Lloyd. Após vestir a máscara de “Toxie”, ele sai caminhando pela Augusta ao lado do presidente da Troma, sempre mostrando adesivos com a marca da produtora para a câmera de tevê. Depois, Lloyd obriga Fernando/Toxie a invadir uma academia e pedalar na bicicleta ergométrica. “Toxie precisa se manter em forma”, explica. Como cineasta boicotado pelos canais tradicionais de distribuição em todo o mundo, Lloyd aprendeu a fazer de si mesmo um personagem e a transformar cada entrevista numa performance para divulgar seus filmes.

Dali a pouco, continuando a matéria numa rua da Liberdade, Lloyd interrompe a entrevista e leva a mão ao peito. Diante do microfone da Cultura, faz uma careta de dor à la Costinha, balbucia “Acho que… estou… morren…” e se joga ao chão com as pernas para cima, fazendo barulho de peido com a boca. Em seguida, obriga Fernando, eu e a repórter da tevê a gritar horrorizados: “Meu Deus, Lloyd Kaufman está morto!”. Tudo registrado pela headycam da Sra. Kaufman para os extras do próximo DVD da Troma.

Na van da TV Cultura, Lloyd não perde a chance de sacanear Fernando: “Você deu um ótimo Toxie gay”. Livre da máscara do herói de Tromaville, Fernando desabafa em bom português: “Que carão eu passei”. Mas ele não poderia recusar um pedido do cara que o fez querer ser cineasta. Rick (que no RG leva o nome de Fernando Henrique Cardoso) tinha 15 anos quando viu O Vingador Tóxico pela primeira vez e chapou. Os primeiros filmes de sua produtora, a Black Vomit, criada em 2001, foram Rubão, o Canibal e Feto Morto, podreiras que combinavam violência gratuita com mulher pelada, canibalismo, incesto, necrofilia… ou seja, eram Troma na veia. Nos anos seguintes, os filmes de Rick seguiram por caminhos bem distantes do estilo Troma, com o horror “Coleção de Humanos Mortos” e o documentário punk Guidable – A Verdadeira História do Ratos de Porão, mas ele nunca abandonou suas raízes podres. Afinal, foi a Black Vomit que trouxe Lloyd ao Brasil, para encerrar uma mostra de filmes da Troma que a produtora de Rick promoveu entre 31 de maio e 5 de junho, numa parceria com o Cine Olido, da prefeitura de São Paulo.

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Rick leva Kaufman para seu apartamento, a uma quadra da avenida Paulista. Há cerveja e vinho rolando pelo apê, mas Kaufman, vegetariano, ignora as bebidas, preferindo manter sua loucura sóbria. Pat aceita uma taça. “Como toda típica esposa americana, ela adora beber”, resmunga Lloyd.

“Você se masturbou?”, pergunta o catarinense Gurcius Gewdner assim que vê Kaufman entrar no apartamento. Diretor de Mamilos em Chamas, uma história de amor encenadas com cadáveres de animais, Gewdner é um dos vários admiradores da Troma que vieram de longe para conhecer o mestre. “Sim, me masturbei vendo um filme seu. Minha esposa foi testemunha da cena”, responde Lloyd. Ele chegou naquele dia ao Brasil, mas já parece bem entrosado com os fãs que conheceu há poucas horas, todos umas três décadas mais novos do que ele.

Rick aproveita para mostrar a Lloyd o último trabalho da Black Vomit, o curta Ivan, uma história de inspiração bíblica com um artista bebum fazendo de Cristo e um travesti de Maria Madalena pelos cantos mais sujos do centrão velho de São Paulo. Denso, irônico e muito bem acabado, Ivan não tem nada a ver com Troma no conteúdo, mas a produção soube se valer das manhas do cinema independente, como usar elenco e técnicos trampando sem remuneração — por brodagem ou vontade de fazer parte de um projeto bacana. O resultado parece agradar ao mestre. “Não vou dizer isso para a TV, Fernando, mas Ivan é melhor do que Troma”, sentencia Lloyd.

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Do apê de Rick, o casal Kaufman, Rick e seus amigos, inclusive este repórter, vão para um bar playba do centro, onde todo mundo bebe de graça, já que o dono é fã da Troma.  Os Kaufman saem de lá antes da meia noite, já que, no dia seguinte, Lloyd vai ministrar uma aula com o tema “Make Your Own Damn Movie” no Cine Olido.

Quando Lloyd aparece no Cine Olido, dessa vez com uma gravata vermelha sem vaquinhas, o auditório com 236 lugares está tomado. Boa parte do público é formada por cineastas independentes, gente que teve a cabeça pervertida pelo legado da Troma e faz seus filmes com a cara e a coragem, sem dinheiro, sem frescura, sem leis de incentivo. “Se jogarem uma bomba hoje no Cine Olido, acaba o cinema vagabundo do Brasil”, comenta o catarinense Petter Baiestorf, ele próprio um dos mestres deste jeito punk de fazer filmes, criador da famigerada Canibal Filmes, que há 20 anos dispara obras como A Curtição do Avacalho, Arrombada: Eu Vou Mijar na Porra do Seu Túmulo ou O Doce Avanço da Faca. “A Troma foi um dos modelos que usei para criar a Canibal, nisso de filmar com a grana que tiver à disposição e o que der errado se transformar em estética”, conta Petter.

“As produções da Troma são um belo ponto de partida para constatar que (quase) tudo é possível, basta querer fazer”, comenta Felipe Guerra, que se apaixonou à primeira vista pela Troma ao ver um VHS importado de Toxic Avenger 2 na metade dos anos 90. “Para um jovem que sonhava fazer cinema independente e achava que isso era loucura, o Toxic Avenger surgiu como uma prova de que era possível produzir um filme divertido com praticamente nada”, diz Guerra, que hoje finaliza o seu quarto longa-metragem, chamado Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-feira 13 do Verão Passado Parte 2 - A Hora da Volta da Vingança dos Jogos Mortais de Halloween.

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Após elogiar os filmes e, principalmente, a depilação brasileira, Lloyd descreve seu método de trabalho, projetando cenas de filmes, entrevistas e making-offs. Ele recomenda investir um longo tempo na pré-produção, com muitos ensaios nos estúdios e nas locações. Filmar as cenas na mesma sequência do roteiro (uma das vantagens deste método é que, se um ator enche o saco, você pode matar o seu personagem sem problemas). Fugir dos grandes centros: se os nova-iorquinos estão cansados de ver equipes de filmagem, moradores de cidades pequenas, ao contrário, ainda se fascinam e estão sempre prontos a colaborar com a magia do cinema. Usar a pós-produção para melhorar o filme, se for o caso rodando cenas adicionais. Misturar gêneros, quebrar regras, ser livre. Sem esquecer a segurança dos atores, da equipe e de quem passa na rua. As cenas de making-off deixam claro que Lloyd não tem nada de doidão quando está no set: é um obcecado por segurança, que se orgulha de a Troma nunca ter registrado um acidente em 40 anos de podreira.

Entre uma dica e outra, Lloyd saca um lenço da lapela e, diante do microfone, assoa o nariz com o estrondo de um elefante. “Vocês nunca viram Martins Scorsese fazer isso”, diz. Não mesmo.

Pergunto a Pat se o marido dela é “assim o tempo todo”. "Assim como?", ela quer saber. Engraçado, insano, tento responder. Ela lembra que, quando eram crianças, as filhas do casal reclamavam das caretas que o pai fazia quando posava para as fotografias dos álbuns de família, tão diferente da cara de adulto usada pelos outros pais em suas fotos. “Fica normal, papai, fica normal”, elas pediam. E Pat conclui: “mas não tem jeito. Lloyd não consegue ser normal”.

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A seguir, uma entrevista com o anormal.

VICE: Você diz que não se importa que baixem seus filmes de graça. Por quê?
Lloyd Kaufman: Nós somos artistas e fazemos arte para as pessoas. Como a indústria de cinema e entretenimento é controlada por um pequeno número de homens brancos e ricos muito poderosos, a maioria dos artistas independentes não tem chance de ganhar a vida. Não fazemos isso para ganhar dinheiro. Fazemos porque queremos que nossa arte seja vista. Às vezes a gente ganha dinheiro. O Vingador Tóxico ou Poultrygeist: Night of the Chicken Deadsão alguns dos meus filmes da Troma que renderam algum dinheiro, mas não é por isso que faço arte. Se quisesse ganhar dinheiro, eu poderia trabalhar em Wall Street. Eu estudei na Universidade de Yale. George W. Bush estava na minha classe — a gente tomava banho juntos de vez em quando e ele estava sempre rodando pelo campus de Yale atrás de armas de destruição em massa… O ponto é: eu poderia ter ido para Wall Street e ganhado um monte de dinheiro. Cinema não tem a ver com dinheiro, cinema é arte e você tem que ir atrás de sua arte. Isso vem em primeiro lugar. Então, se os jovens ao redor do mundo querem compartilhar minha arte, está OK. A menos que ganhem dinheiro, porque aí deveriam dar esse dinheiro para mim. Não deveriam roubar dinheiro da minha arte, mas se estão apenas compartilhando arte de graça, eu não ligo. Eu fico feliz.

Qual o segredo para ser um dos mais antigos produtores independentes do mundo?
Faça aquilo em que você acredita e vá em frente, não ligue para o que as pessoas dizem, não ligue para os críticos… exceto os da revista VICE, porque a VICE é sempre a melhor. E case-se com uma boa mulher por 37 anos. “Sê fiel a ti mesmo”, Shakespeare disse isso. William Shakespeare foi uma espécie de Coffin Joe do século 16. Ele era um puta desordeiro e se metia em encrencas também. Shakespeare era como a Troma daqueles dias.

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Você tem uma esposa e três filhas. Como todas essas mulheres em sua casa veem os seus filmes cheios de sangue e mulher pelada?
Minhas filhas se rebelaram contra mim. Elas foram para Yale, Harvard, Columbia, se formaram em antropologia, falam árabe e chinês… Ah, onde foi que eu errei? Dei a elas o bom e velho sexo e violência, mas elas se rebelaram! Acho que minha esposa foi uma boa influência nisso para elas… infelizmente. Minha esposa as arruinou. Fez delas jovens americanas respeitáveis, trabalhadoras e brilhantes.

Então suas filhas vão ganhar dinheiro?
Não, elas são intelectuais. Querem mudar o mundo, lutar pelos animais, proteger a Amazônia. São bem idealistas. Cada filha está interessada, do seu jeito, em fazer do mundo um lugar melhor, em primeiro lugar. E espero que arrumem um jeito de ganhar a vida também, para que possam sustentar o pai delas na velhice.

É mais fácil fazer filmes agora do que no tempo que você começou?
É mais fácil fazer filmes agora, graças à revolução digital. A produção de filmes se democratizou. Qualquer um pode fazer um filme. Mas é mais difícil ganhar a vida para comer e pagar seu aluguel fazendo arte, porque no meu país as leis que protegiam o público contra o monopólio não existem mais. A indústria cinematográfica da América se tornou um cartel controlado por um pequeno número de conglomerados. Se você não faz parte do clube do Rupert Murdoch, da Sony, ou da Paramount, é muito difícil ganhar a vida. A boa notícia é que você pode ter um emprego de verdade, ser um enfermeiro, um professor, um filósofo ou um travesti, e fazer filmes sem dinheiro. Quando comecei, há 40 anos, para fazer um filme você precisava de celuloide, que era caro. Mesmo o meu primeiro filme custou US$ 100 mil. Agora você pode fazer filmes sem nada. O típico filme de Hollywood custa de US$ 50 milhões a US$ 100 milhões. Gastam outros US$ 50 milhões em marketing e publicidade e em lavagem cerebral para fazer as crianças irem ao Burger King e comprar os bonecos do novo filme de Michael Bay. Viver de fazer filmes é muito mais difícil do que já foi, mas fazer filmes é bem mais fácil do que antes.

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E a internet?
Internet não dá dinheiro. Mas internet é muito boa, porque permite conhecer a verdade das notícias, o que o The New York Times não informa. Você também encontra muita besteira, mas pode ter acesso a vários pontos de vista e conhecer a arte genuína, como Troma, Coffin Joe e os cineastas underground. Há várias forças obscuras que querem tomar conta da internet e torná-la um brinquedinho do grupo do Murdoch. Temos que proteger a internet, ou vamos terminar como China ou Irã. Aí não teremos mais liberdade na Web, apenas filmes de Adam Sandler 24 horas por dia. Em meu país os grandes conglomerados estão gastando bilhões de dólares em Washington para tentar transformar a internet numa super-rodovia particular para Fox, Paramount, Sony e Disney, enquanto o resto de nós terá uma estradinha esburacada em que você tem que esperar um longo tempo para carregar e onde ninguém poderá encontrar seu website. Hoje o site da Troma tem as mesmas vantagens que o site da Disney. Se as pessoas gostam do que nós temos, elas acessam. Se gostam do site da Disney, vão para lá. É diferente com as salas de cinemas. Os cinemas da América só servem para lavagem cerebral das crianças. Com US$ 100 milhões gastos em propagandas, as crianças sofrem lavagem cerebral da mesma maneira que Mao Tsé-Tung fazia com a população chinesa, com pôsteres, músicas e uma única fonte de notícias. A internet é a última mídia democrática, e os jovens ao redor do mundo têm que lutar para mantê-la livre, aberta e diversificada.

Como você conheceu Coffin Joe (José Mojica Marins, ou, para nós, o Zé do Caixão)?
Eu o encontrei pela primeira vez há uns 20 anos, em um festival. Eu tinha lido sobre Coffin Joe em revistas underground. Acho que ele e Jesse Franco são do mesmo tipo. São muito diferentes, mas são prolíficos e não parecem se importar tanto com a forma tradicional do cinema, o que é ótimo. Seu espírito é mais forte do que a forma. Acho que eu e Coffin Joe nos encontramos duas vezes em festivais. Um homem muito simpático. Acho que Coffin Joe não fala inglês, por isso não pudemos fazer sexo gay. Eu tentei, mas ele se recusou. Não conte à minha mulher.

Seus filmes agora estão sendo refeitos pelos caras grandes.
Acho que a internet tornou a Troma mais famosa, mesmo que a gente não tenha conseguido mais receita. Mother’s Day, dirigido pelo meu irmão Charles Kauffman, o mais talentoso, foi refilmado com grandes estrelas, Jaime King e Rebecca De Mornay, com produção de Brett Ratner, que fez A Hora do Rush e X-Men ou algo assim. O Vingador Tóxico agora está sendo refilmado por Akiva Goldsman, que ganhou o Oscar por Uma Mente Brilhante. Ele contratou como diretor e roteirista Steven Pink, que dirigiu A Ressaca e Alta Fidelidade, e deve gastar US$ 100 milhões no remake.

Você acha que será um bom filme?
Steven Pink é um diretor talentoso, então acho que será muito bom.

Melhor do que o original?
Claro, como não? Vai ser muito melhor. Especialmente porque deve me render muito dinheiro.

E você poderá fazer mais filmes com esse dinheiro.
Exato. E vários garotos vão aprender sobre O Vingador Tóxico a partir da refilmagem. Não há razão para que refilmagens não possam ser boas. Você não vai para a cadeia por fazer uma boa refilmagem. Estou feliz que tenham me pagado bastante dinheiro por isso e agora posso rodar Vingador Tóxico 5 e outros maravilhosos filmes da Troma. A refilmagem será uma coisa boa para o mundo. E tem Vingador Tóxico: O Musical, que ganhou uma versão maior e está indo para a Broadway. Esteve em cartaz em Nova York por um ano, off-Broadway, e foi encenado na Coreia e no Canadá. Tudo isso é resultado do compartilhamento de arquivos. Ninguém ouve falar de nós. Estamos na lista negra. Por que este musical? Compartilhamento de arquivos. Por que as refilmagens? Compartilhamento de arquivos. Num mundo justo, "Poultrygeist” teria feito US$ 100 milhões, mas o filme caiu na lista negra. Mesmo assim, milhões de pessoas viram e gostaram, e agora os grandes nos procuraram porque querem refilmar “Poultrygeist”. Ninguém aceita distribuir nossos filmes em lugar nenhum, mas querem refilmá-los. É ridículo.

Os caras não querem distribuir seus filmes, mas querem refazê-los.
Não é louco? É fascinante. Por isso eu digo que para nós, artistas independentes, o compartilhamento de arquivos é bom. De fato, estou preparando meu sexto livro, Sell your own damn movie, e ali uma das minhas sugestões é: libere sua arte de graça e o dinheiro vai voltar. Porque, mais importante do que o dinheiro, é o tempo das pessoas. O tempo gasto pelos seus fãs. Olhe para as pessoas em São Paulo. Olhe para todos vocês, caras. Vocês estão gastando seu tempo comigo. Isto é muito mais importante do que dinheiro.

TEXTO E ENTREVISTA POR FAUSTO SALVADORI
FOTOS POR MATHEUS CHIARATTI