Identidade

Quem lacra, lucra: empresas tão sacando que ter imagem pública conservadora dá ruim

Uma nova pesquisa mostrou que o público gosta mais de marcas quando elas abraçam causas progressistas como direitos LGBTQ.
A split image of a Colin Kaepernick billboard and a sneaker on fire.
Esquerda: Outdoor de Colin Kaepernick de sua campanha mais recente para a Nike, que gerou reação negativa dos conservadores. Foto por Justin Sullivan/Getty. Direita: uma foto de estoque da Getty de um tênis em chamas. 

Faz um tempo que os conservadores estão reclamando que grandes corporações, de gigantes das redes sociais até a Nike, têm preconceito contra valores de direita. Uma nova pesquisa da Morning Consult destacada pela Axios mostra por que eles provavelmente estão certos. A pesquisa sugere que há uma boa razão para companhias adotarem posições progressistas: os consumidores americanos estão do lado esquerdo de muitas questões da guerra cultural.

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Corporações não estão fazendo isso por bondade, porque elas não têm coração. Mas têm acionistas, e muitas vezes ser publicamente progressista ajuda no resultado final. Patrocinar Colin Kaepernick, por exemplo, fez subir as ações da Nike, mesmo com toda a polêmica gerada nos EUA.

A pesquisa da Morning Consult, que entrevistou cerca de 2.200 americanos, fez várias descobertas, mas aquela que a Axios apontou era uma lista de “questões quentes” e o número correspondente de participantes que se sentiam de maneira positiva ou negativa sobre uma empresa que tomou uma posição sobre elas. As questões mais populares incluíam direitos LGBTQ, ação afirmativa, reforma da justiça criminal e direitos civis – todas causas associadas com a esquerda política. E enquanto apoio para a campanha de um democrata atraiu 3% mais aprovação que desaprovação dos participantes, apoio a um republicano era a posição menos popular para uma empresa tomar em -12 pontos.

A screenshot of a poll showing that people like corporations more when they come down on the liberal side of issues.

Screenshot via Morning Consult

Mesmo sendo apenas uma pesquisa, é verdade que nos EUA nos últimos anos companhias vêm tomando publicamente o lado liberal de vários debates. Pressão da comunidade dos negócios e boicotes de organizações como a NBA fizeram a Carolina do Norte repelir parcialmente sua infame “lei do banheiro” antitrans em 2017, e grande empresas ajudaram a derrubar uma legislação similar no Texas. A Nike assinou com Kaepernick, um quarterback da NFL que supostamente entrou para a lista negra da liga por ajoelhar durante o hino nacional, um grande contrato de patrocínio. A Gillette recentemente tornou uma propaganda estilo #MeToo “precisamos ser melhores, homens” uma grande parte de seu branding. Até o WalMart, uma corporação geralmente associada com estados republicanos, vem gradualmente restringindo vendas de armas nos últimos anos e fazendo um esforço para reduzir emissões de carbono. A Dick's Sporting Goods, que como o WalMart continua sendo uma grande varejista de armas, se juntou a cadeia de mercados em limitar a venda de armas de fogo.

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Isso é surpreendente considerando que nos EUA os dois lados do espectro político basicamente comandam uma quantidade igual de apoio público, mas como a pesquisa do Morning Consult mostrou, posições mais pra esquerda geralmente são mais populares que posições conservadoras. (Isso ecoa outras pesquisas mostrando apoio mais amplo a políticas democratas.) Mas as pessoas que votam nos EUA tendem a ser mais velhas e brancas que os americanos no geral, e pessoas brancas mais velhas têm mais chance de votar nos republicanos. Além disso, o eleitorado primário do GOP é ainda mais velho, branco e homem, então os eleitores responsáveis por colocar republicanos no governo – ou tirá-los para colocar um candidato ainda mais de direita – provavelmente são o tipo de conservador que fica puto com a Nike tirar do mercado um tênis com uma versão da época da escravidão da bandeira americana.

Republicanos se tornaram muito bons em ganhar eleições sem um apoio popular geral, em parte graças a técnicas como gerrymandering e leis que restringem acesso ao direito de votar. Eles também são ajudados pelo Senado e Colégio Eleitoral, que dão um poder desproporcional para eleitores rurais em estados menores às custas dos eleitores democratas, que se concentram nas grandes cidades.

Mas, ironicamente, considerando a exortação dos republicanos das virtudes do livre mercado, as empresas que realmente respondem às visões do mercado perceberam que o lucro está em se retratar como progressista. Então, enquanto os conservadores conseguiram colocar no poder uma administração que está cortando proteções para pessoas LGBTQ, os americanos no geral tendem a apoiar direitos LGBTQ, ou pelo menos querem que as empresas de que compram apoiem.

Isso não significa que a América Corporativa é um bastião de progressismo. Muitas empresas evitam tomar qualquer posição que possa ser muito polêmica, mesmo que se manter neutro esteja cada vez mais difícil nesses tempos polarizados. E como executivos americanos tendem a ser homens mais velhos brancos, a demografia exata provavelmente apoia os republicanos. É assim que temos o chefe da companhia dona das Academias Equinox doando pesado para Donald Trump, mesmo com a base de clientes democratas da Equinox lançando um boicote que pode realmente prejudicar a companhia.

Se você é conservador, pode parecer meio injusto que a Nike possa se alinhar com Kaepernick e subir na bolsa de valores, enquanto doar para o presidente pode prejudicar a Equinox. Mas isso não é uma conspiração liberal da costa para impulsionar uma agenda de marxismo cultural da esquerda. O que acontece é que o país como um todo não apoia o conservadorismo político, e as diretorias reconheceram esse fato. A pesquisa do Morning Consult foi o último lembrete de que mesmo que Trump esteja na Casa Branca, os americanos por quem ele fala são principalmente uma minoria de velhos brancos que está encolhendo. E os dias deles no poder podem estar contados.

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