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Música

Setentismo Anti-Indie: O OYF É o Dave Matthews Band Brasileiro

O sexteto de folk-prog toca neste domingo em SP e prepara tour nacional ao lado de trutas gringos.

Queens of the Stone Age, Foo Fighters, Vampire Weekend. O rock tá ruim de salvação faz mais de década, e você que acompanha o Twitter do Noisey sabe bem disso. O que não impede o pessoal de acreditar – assim como a gente acredita que um dia o Jawbreaker pode voltar. O sexteto OYF (Optic Yellow Felt) é desses que ainda tem fé no Roque. Eles são amigos do ex-tour manager do R.E.M., colam no estudiozão Rancho de La Luna, se emocionam em tocar no Hard Rock Café, curtem um Dave Matthews Band.

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A base da banda é o trio Jimmy B. na batera, e os irmãos Nader, Lino e Victor, respectivamente no baixo e no violão. Eles cresceram juntos no interior de Minas Gerais, e tinham outro projeto na adolescência chamado The Blind Birds, que não alçou voo, com o perdão do trocadilho. Mas serviu para alinhar a química entre eles a fim de que, anos mais tarde, viessem a constituir o OYF acompanhados pelos camaradas Eduardo Marsom (guitarra), Nando Morsani (piano) e Ricardo Pires (saxofone).

Depois de ter sido indicada ao Independent Music Award 2013, a banda se prepara para um ano recheado de boas novas. Eles estão encabeçando o projeto Flying Low Tour Brazil, que consiste em 12 apresentações por aqui ao lado das gringas DiNola (Nova Orleans) e Rancho de La Lunatics (do Dave Catching, ex-Queens of The Stone Age). Durante essa série de shows, eles vão gravar o documentário do grupo, que fará parte da série Hands On Tour Guide. Pra quem não tá ligado, esse projeto é tipo um guia para bandas independentes do mundo todo, explicando o passo a passo de como organizar e realizar sua própria turnê. Em maio, o projeto estará na programação do Bananada (GO) e do SESC São Paulo.

Fora isso, neste domingo (16), rola um show especial do OYF no Centro Cultural São Paulo, com participações do Apollo 9 e do Gustavo Riviera (Forgotten Boys). Vai ser o evento de gravação do primeiro DVD deles e lançamento do novo EP, que recebeu o nome deUse Headphones. Aproveitamos a deixa e trocamos uma ideia com o Victor sobre a fase atual da banda e as paradas que vêm pela frente. Sente só:

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Qual era a proposta da banda quando vocês começaram e no que ela se difere do som que vocês estão produzindo no momento?

A proposta era e é aplicar nossa opinião pessoal do que consideramos boa música. Nosso primeiro CD é um álbum sedento por multissonoridade simultânea, várias linhas arranjadas paralelamente à melodia principal da canção. Uma aposta "setentosa" na contramão da cena indie atual. Um risco que optamos correr apostando na originalidade. Acredito que nosso segundo trabalho também trará esse pensamento, porém a maturidade musical da banda será notória.

A música do OYF tem uma característica muito peculiar, difícil de ser definida dentro dos costumeiros rótulos da crítica musical. Nas palavras de vocês, como descreveriam o seu trabalho em termos de inspiração, aspiração e influências?

Em termos estéticos somos algo entre uma big band e uma banda de rock'n'roll. Dependendo do setlist, somos uma jam band. Nosso repertório completo conta com quase 20 instrumentos, mas nem sempre o apresentamos por conta das limitações dos picos. Em se tratando da nossa inspiração, definitivamente pende pra inquietude da rebeldia melancólica (risos). Em termos de influência, vai de Bruce Springsteen a Pink Floyd, de Dave Matthews a Radiohead, de Nick Drake a Bob Dylan. Nossa aspiração é o mercado de festivais nacionais e internacionais.

Pelo estilo de música que vocês fazem e pegando o gancho desse lance que você comentou, "as limitações dos picos", fica claro que não é tão simples encontrar lugares capazes de acolher apropriadamente, em termos de acústica e infra mesmo, o conceito todo. Isso reduz a agenda de shows da banda?

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Sim, isso é um problema. Principalmente no início da carreira. Mas depois fomos nos adaptando e criando versões do show para um set mais enxuto e ágil, de modo que pudéssemos nos adequar aos picos pequenos da cena independente.

Como foi a repercussão do primeiro álbum até aqui, e quais as expectativas para essa nova fase que vocês inauguram agora com o DVD e o EP que está pra sair? Tem algum selo por trás disso ou vocês seguem na independência?

Nosso primeiro CD foi muito bem recebido na América do Norte. Temos um compilado bem interessante de matérias que saíram na imprensa norte-americana. Em 2013, fechamos o ano com 30 apresentações e quatro festivais nos Estados Unidos e no Canadá. Quando tocamos no Hard Rock Café da cidade de Memphis (Tennessee), foi muito louco porque nos convidaram pra assinar a parede ao lado de nomes como U2, Metallica, ZZ Top… Enfim, uma surpresa irada pra gente!

O que vocês estão preparando de especial para este show que vai rolar no CCSP? O DVD seguirá uma linha de documentário sobre a banda ou seria mais um registro puro da performance ao vivo?

Para esse show vamos aplicar um sonho antigo de convidar três backing vocals femininos pra enfeitar os coros de voz que usamos em todas as músicas do disco. O DVD seguirá uma linha narrativa: entre uma música e outra vão rolar histórias legais, dramáticas, engraçadas, importantes, ou seja, um compilado da nossa trajetória contada pelos próprios membros da OYF. Então será uma mistura de show e de bate-papo com a banda. Acho que vai ficar bem legal.

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Fala um pouco sobre o projeto da turnê que vocês estão agitando, a Flying Low Tour. Qual o papel de vocês nessa empreitada e como embarcaram na ideia?

Conhecemos o Dave Catching através de um amigo em comum com o Robert Singerman, ex-tour manager do R.E.M. e nosso, digamos, guru em Nova York. Ele nos apresentou o Jimmy Ford e acabamos tocando juntos em março no SxSW 2013 - a OYF e a banda do Jimmy, o DiNola. Meses depois, em outubro, na nossa segunda tour, por telefone o Jimmy nos colocou em contato com o Dave Catching, já que estávamos na Califórnia tocando no Culture Collide. Demos um pulo em Joshua Tree pra conhecer o lendário estúdio Rancho de La Luna. De lá pra cá viemos solidificando essa amizade e propomos, meu irmão e eu, de fazer uma turnê com as três bandas desse ciclo de amizade: o Dave e seu projeto, Rancho de La Lunatics, o DiNola do Jimmy e a OYF como banda host. Será algo em torno de dez cidades brasileiras, de Porto Alegre a Brasília, e o rolê todo vai virar parte de um documentário que estamos desenvolvendo chamado Hands On Tour Guide, que é uma espécie de tutorial para bandas iniciantes de como fazer sua própria turnê. A primeira temporada já foi gravada nos Estados Unidos ano passado e a versão Brasil será realizada agora em maio.

Como foi a experiência de trabalhar com o Roy Cicala? Vocês também ficaram surpresos com a notícia da morte dele?

O Roy é uma lenda e será um amigo e tutor inesquecível. Passamos nove meses, todos os dias, dentro do estúdio com ele e vivenciamos telefonemas de Lou Reed, Yoko Ono… Fora as histórias não autorizadas de lendas do rock que ele contava (risos). Produzimos juntos e até escrevemos uma música em parceria. Viramos amigos ao longo do tempo e ele deixou um buraco no peito de todos que o conheciam. Não foi surpresa, pois acompanhávamos toda sua luta contra o câncer…

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O nome da banda é uma curiosidade. O que motivou esse batismo? Tem alguma história ou referência especifica nessa transa?

O nome vem escrito num tubo de bolinhas de tênis. Um dia, depois da aula no colégio, resolvi tirar um cochilo e uma fresta de luz da janela refletia aquele amarelo no quarto todo. Eu já buscava um nome que se encaixasse com a banda, até então era Blind Birds. Daí agarrei o tubo para removê-lo da luz e li: "Wilson 3 Tennis Balls Optic Yellow Felt". Ao invés de "feltro", interpretei a tradução como vinda de "feel" no passado (risos) [Nota dos autores: o substantivo "felt", em inglês, pode significar "feltro", mas também é o pretérito de "feel" - do verbo "sentir"]. Então eu pirei e, na sequência, já saí liguei pro Lino e disse: "Temos um novo nome irado!". Ele concordou no ato.

Como funciona o processo de composição e produção/gravação das músicas de vocês em estúdio? Vocês costumam passar muito tempo talhando/elaborando os sons?

Eu componho as letras e a base da música. Depois surge de tudo, algumas linhas já soam na cabeça no momento da criação. Outras nascem de experimentos de timbragem e do esquema "tentativa e erro" que acontece no estúdio, da química entre nós. E tem erro que soa tão legal que fica como arranjo oficial pro disco. Nesse novo trampo, mal lançamos uma ideia, e o outro já entende e faz. Nada como a estrada para enaltecer a química de uma banda. Tá animal!

OYF @ CCSP

Quando: 16 de março (domingo), 18h

Quanto: R$ 10

Para mais informações, saca o site dos caras aqui.