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Música

O show de estreia do Prophets of Rage foi obviamente cheio de bate-cabeças e política

Três quartos do Rage Against the Machine original se juntaram à Chuck D do Public Enemy e B Real do Cypress Hill para cumprir uma missão muito clara: acordar a América.

Estrear na Sunset Strip, no tradicional The Whisky A Go Go, foi um jeito curioso do recém-formado supergrupo Prophets of Rage começar a sua jornada. O espaço, conhecido basicamente por seus shows de metal e por abrir-se a bandas que pagam para tocar, não parece uma opção óbvia para que um grupo enraizado no hip-hop faça sua grande estreia. Porém, quando os integrantes de Rage Against The Machine, Public Enemy e Cypress Hill desceram desajeitados as escadas, saídos de seus camarins e em direção ao mesmo palco que já viu gente como Jim Morrison virar um astro, a casa noturna mostrou-se uma boa plataforma de lançamento para uma noite de batidas powerhouse e de um rock desavergonhadamente politizado.

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No decorrer das últimas semanas, pôsteres, sinais e notícias misteriosas trazendo o nome do grupo invadiram tanto as ruas de Los Angeles quanto a internet. Havia fortes boatos de que o Rage Against the Machine estava se reformando para combater os males e lutar durante um ano eleitoral bizarro, mas a reunião pela qual clamavam os fãs do Rage continua no papel. Logo começaram a vazar notícias de que se formara uma aliança entre 3/4s do Rage Against The Machine (o guitarrista Tom Morello, o baterista Brad Wilk e o baixista Tim Commerford), Chuck D e B-Real — a união deles com certeza motivada pelo mesmo desejo que originara o RATM no início dos anos 90: eles queriam que a América acordasse.

Com um forte esquema de segurança e a proibição de celulares (nossos telefones foram trancados num parangolé ridículo, que parecia um cooler de cerveja), o apertado público de 500 pessoas no Whisky teve de se virar sem seus aparelhos eletrônicos. Pôsteres com a hashtag #MakeAmericaRageAgain enfeitavam o exterior da casa de shows e as paredes internas; havia também uma mesinha de vendas com bonés vermelhos enfeitados com o slogan, caçoando de um tal de Donald John Trump.

Depois da apresentação de um DJ, o quinteto deu início aos trabalhos com uma escolha apropriada, a faixa do Public Enemy chamada “Prophets of Rage”, e na sequência fez um show poderoso de 22 músicas, baseado no catálogo de todos os três grupos em pouco menos de 75 minutos. No decorrer da noite, Chuck D. e B-Real prestaram homenagem ao ausente Zack de la Rocha, com o rapper de Cypress Hill certa hora chegando a sugerir que eles estavam “guardando uma cadeira” para o antigo frontman do Rage, e Chuck acrescentando que “o cantor talvez esteja enjaulado, mas suas palavras não”. Mais uma gentileza do que uma necessidade, talvez — os dois MCs atacaram os vocais de de la Rocha com destreza e facilidade.

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A última apresentação do RATM em sua encarnação original se deu quase cinco anos atrás, no LA Coliseum, em julho de 2011, como parte do festival LA Rising, organizado pela própria banda. Naquela noite, a banda conseguiu lotar uma das maiores casas de shows da cidade – mais de 100 vezes maior que o Whisky – para fazer um semi-inspirado show com os seus maiores sucessos, que acabou deixando uma impressão de que os agitadores já haviam passado de seu prazo de validade musical. Mas, nessa época de Trump e de grandes afrontas — todo dia surge uma nova bizarruice na sátira em que a campanha presidencial se transformou — chegou a hora de Tom Morello e companhia reemergirem, ainda que numa outra função.

O crescendo que se seguiu, e que incluiu uma misteriosa contagem regressiva, especulações desenfreadas e, por fim, a internet descobrindo o que exatamente estava rolando, Mas, depois que a notícia começou a circular, todos os eventos pareceram anticlimáticos. Embora o frontman original do Rage, de la Rocha, esteja sentado no banco de reservas e fazendo lá as coisas dele, noticia-se que ele deu sua bênção ao grupo recém-formado num estilo que encheria de orgulho o coração de um Corleone.

O grupo tornou oficial sua formação na estação local de rock alternativo KROQ mais cedo no mesmo dia, com a antiga equipe do Rage (e do Audioslave) anunciando que juntaria forças com as duas lendas do rap para formar o Prophets of Rage. Isso não surpreendeu ninguém que estivesse ligado nas notícias durante as últimas semanas — mas um entusiasmo em torno da banda começou a se formar mesmo assim.

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Reuniões e supergrupos, ou, nesse caso, um pouco de ambos, são coisas arriscadas — às vezes melhores na teoria do que na prática. O Rage Against the Machine sempre incluiu elementos de hip-hop — coisa que se intensificou no cover que fizeram de “Renegades of Funk” do Afrika Bambaata — de modo que a parceria com os dois rappers é menos surpreendente do que o momento em que ela ocorreu.

Ouvir Morello, Wilk e Commerford juntarem forças mais uma vez como se nunca tivessem se separado não foi tão surpreendente quanto revigorante. Velhas favoritas do Rage, como “Guerrilla Radio”, “Bombtrack” e “Know Your Enemy” foram recebidas pelo público com furor, enquanto Chuck D. e B-Real conclamavam a multidão, que formou um mosh pit turbilhonante que só fez crescer com o passar da noite. Esse jogo de puxa-empurra entre o Prophets of Rage e o público movido a testosterona só vez aumentar a impressão de urgência até que culminasse em faixas com o poder do Rage como “Sleep Now In the Fire” e o icônico solo movido a ácido de bateria do Morello.

Grande parte da noite foi ocupada por músicas do Rage, mas tanto o Public Enemy quanto o Cypress Hill foram bem representados. Uma versão reconfigurada de “Fight the Power” que incorporou “No Sleep ‘till Brooklyn”, dos Beastie Boys, e “Bring the Noise” e “Welcome to the Terrordome” foram acréscimos bem-vindos ao set, assim como os clássicos do Cypress Hill “Rock Superstar” e “Shut ‘em Down”.

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“Gostaríamos de dedicar essa música a Donald Trump”, B-Real exclamou para o público suado antes de começar a cantar “The Party's Over”. Como a única música original do coletivo que foi incorporada ao show, o flamejante hino político permitiu um pequeno vislumbre do que o futuro próximo talvez nos reserve. Com o poder do baixo de Commerford, dos clássicos licks de guitarra uivantes de Morello e dos catarrentos vocais de B-Real, a música é um lembrete de como é o som de um poderoso comentário social cheio de angústia, quando é feito do jeito certo.

O anúncio da missão do Prophets of Rage recebeu seu ponto final com os hinos de batalha “Bulls on Parade” e “Killing in the Name”. Depois de uivar o último “Fuck you, I won't do what you tell me”, os integrantes da banda sorriram uns para os outros no palco, sabendo que haviam passado pelo primeiro teste.

Acenderam-se as luzes, mas em vez de correrem para a saída atrás de seus telefones, os fãs passaram a arrancar os pôsteres das paredes, dos parapeitos, levando o que conseguissem levar. Por um instante, a anarquia reinou suprema, a natureza desconhecida e o entusiasmo em volta do futuro imediato do Prophets of Rage permitindo aos fãs que olhassem para o que está por vir, em vez de para o passado, em busca de quem não estava ali.

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Tradução: Marcio Stockler

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