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Música

Beastmilk: Esmagamento Genocida

Uma conversa sobre Charles Manson, leite, sêmen e outros fluídos da vida.

Se você ainda não permitiu que seus preciosos orifícios fossem penetrados pelos hinos góticos de “Climax”, do Beastmilk, então é hora de se render e se permitir. Liderada pelo vocalista Kvohst (ou Mat McNerney) – um inglês que passou sua gloriosa juventude na frente de bandas da vanguarda do black metal e usando roupas obscuras de death metal – o quarteto finlandês descobriu que combinar riffs contagiantes de guitarra da era Brighter Than A Thousand Suns com um vocal grave no estilo Sisters of Mercy e o romantismo lírico subversivo do The Smiths é uma das melhores ideias musicais que ninguém jamais teve. Até agora. Além disso, todas as músicas falam sobre sexo, morte ou apocalipse. Normalmente sobre os três juntos. Climax foi produzido pelo guitarrista da Converge, Kurt Ballou, e saiu na Black Friday bem a tempo de conquistar um espaço em nossas listas pessoais de melhores álbuns de 2013. Eu rastreei Kvohst recentemente em seu covil secreto na Finlândia para obter todos os detalhes pertinentes.

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NOISEY: Você é um inglês vivendo na Finlândia. Por que você se mudou para lá?
KVOHST: Eu casei com uma finlandesa, então me mudei para cá por razões amorosas uns quatro anos atrás. Eu estava fazendo música com minha outra banda, Hexvessel, procurando por um tipo de inspiração. Eu viajei pela Escandinavia por alguns anos procurando por alguma coisa e eu encontrei na Finlândia.

O que o atraiu para a Escandinavia, para começar?
Morando e crescendo em Londres como um cara totalmente urbano, eu queria algo bem distante desse tipo de vida e da minha educação católica. Eu só queria a coisa mais maluca que eu pudesse encontrar. [risos] E eu curtia muito os vikings naquela época; Acho que eu era um pouco louco quando criança. Mas a natureza e tudo mais apenas grudaram em mim. Eu cresci para amar muito esse lugar.

Você fala a língua?
Não, finlandês não. Mas eu falo um pouco de norueguês. Eu estava numa banda norueguesa, então eu aprendi a língua quase fluentemente. Mas finlandês é algo totalmente diferente. Tem influências diferentes e é muito, muito difícil de aprender. É bem única e você pode dizer o mesmo sobre os finlandeses. Eles são outra espécie de seres humanos – muito estranhos, mesmo. Se você assistir aos filmes do Aki Kaurismäki, é uma bela reprodução de como os finlandeses são.

Na minha experiência, eles gostam de beber.
Sim, gostam muito. [risos]

Como você escolheu o nome Beastmilk? É simples, mas provocativo – como “Climax”, o título do álbum. Era essa a intenção?
Yeah. Nós estávamos discutindo muito sobre leite, sêmen e fluídos da vida, coisas assim. Eu e Goatspeed, o guitarrista, estávamos falando sobre Aleister Crowley e seu livro White Stains, e o potencial mágico de certos fluídos. Existe essa ideia de que o sangue é algo chocante, mas também exageradamente usado como símbolo. Então pensamos que o leite era um símbolo bem poderoso e cíclico também. Mas eu odiei muito o nome Beastmilk no começo. Era Black Milk ou Beastmilk e foi tipo “Putz mano, esse trocadilho não é bom”. Mas a parte inteligente é que as pessoas costumam amar ou odiar o nome. E a gente tava cansado do fato de que você pode chamar sua banda de Goat-alguma coisa ou alguma coisa-machado, todos esses nomes legais, mas então você ouvia e a música não cumpria com essa expectativa. Beastmilk também envolve temas que queríamos abordar. Antigamente, nomes de bandas como Killing Joke faziam as pessoas pensarem, mas hoje estamos muito acostumados em ouvir esses tipos de nomes. Então é legal quando as pessoas ficam bravas com o nome, tipo “Ai meu deus, eles tiveram que recorrer a isso….” Mas é um pouco Freudiano nesse sentido – parece “Breastmilk” (leite de seio) e essa é parte da diversão.

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Eu acho que o nome poderia ser interpretado de forma diferente se a sua estética não fosse do jeito que é. Se Beastmilk fosse uma banda de death metal, e a ilustração da capa do álbum fosse um demônio estuprando uma freira ou algo assim, teria uma conotação completamente diferente. Mas, obviamente, a sua música não soa assim, e a capa do álbum quase se parece com uma obra de Matthew Barney.
Certo, certo. Quando surgimos pela primeira vez com a demo, ninguém tinha a menor idéia de onde tínhamos vindo. Era música pós-punk, mas recomendado pelo [baterista/vocalista da Darkthrone e tastemaker do metal pelo mundo] Fenriz, então penetramos na mente de algumas pessoas, tipo: "Eu estou autorizado a gostar disso?" [risos] E nós pressionamos isso mais ainda com o álbum. É incrível como muitos, tipo, entusiastas verdadeiros [do metal] estavam curtindo isso. Nós tocamos no [festival de metal de Londres] Live Evil este ano, e todas essas pessoas estavam batendo cabeça com a gente. Nós estávamos tipo, "Vocês tem certeza, caras? Sério?” Mas isso é legal. Eu gosto da ideia de que ele pode ter tomado essa forma, se é o que as pessoas querem. Cabe a eles. Gosto muito do fato de que pode ser multifacetado.

Sua formação musical inclui death metal, black metal de vanguarda, e neo-folk.
Sim, eu passei meu tempo fazendo coisas de metal na minha adolescência e nos meus 20 anos e então eu comecei a tocar no Hexvessel, que é folk-psicodélico. Então faz muitos anos que eu estou ativamente fazendo metal. Mas isso define quem você é de uma certa forma, e eu estou orgulhoso de faz parte dessa cena. Faz bastante tempo que estou contribuindo musicalmente, apesar de eu permanecer conectado a todas as bandas e ainda ouvir a música, obviamente.

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Então o que você está conseguindo com o Beastmilk que você não conseguiu com suas bandas de metal?
Ainda extraio muito do metal, mas eu suponho que é o caso de estar no lugar certo e sempre tentando desafiar a si mesmo. Eu meio que senti como se já tivesse feito tudo o que eu queria fazer lá. Mas o Beastmilk é algo que eu não ouvia há certo tempo na música. Eu ficou empolgado de ouvir algumas coisas misturadas que eu não acho que realmente poderiam ter sido feitas antes. Parece ser o momento ideal para misturar essas coisas. Enquanto isso eu sinto como se o death metal e o black metal seguiram seu curso para mim em termos do impacto que poderiam ter. Eu sempre fui uma pessoa de fora daquelas cenas – já fiz parte da Dødheimsgard e da Code, que são muito black metal vanguardista. Então, eu nunca estava confortável em montar uma banda tradicional.

Você mencionou o Killing Joke antes. Ouço um pouco disso – especificamente no tempo de Night Time e Brighter than a Thousand Suns – no Beastmilk. Mas eu também ouvi Morrissey. É disso que você está se baseando com este álbum?
Sim, e muito disso tem a ver com toda banda pós-punk que parece o Joy Division. É quase como quando você conecta sua guitarra e liga o reverb, você não pode ficar longe desse som, especialmente se você cresceu nesse país. Está no seu sangue, essa música, então é meio óbvio que ele iria sair. É mais como uma influência subconsciente do que uma ativa. Mas Killing Joke é definitivamente uma banda com a qual eu posso me relacionar.

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Muitas das músicas do Climax soam como hinos. Era a intenção que elas fossem?
Sim, mas de uma forma distorcida. Você mencionou o Morrissey antes, e eu acho que o que ele estava fazendo com o The Smiths era uma espécie de criação de hinos a partir de temas distorcidos. Para mim, Beastmilk é sobre a emoção de usar alguns dos temas que foram tocados pelo black metal e death metal, mas você pode realmente empurrar para uma espécie direção pop cativante que permite que um monte de gente curta. Considerando que o metal é um pouco limitado no alcance. Então está me permitindo sentir a mesma vibe do black metal, mas abrindo-se um pouco mais. E eu acho que os Smiths fez algo semelhante quando eles escreveram canções pop com temas estranhos. Então, sim, eles foram feitos para ser hinos , mas não , como…eu não sei , eu estou tentando pensar em uma banda realmente zuada… Turisas ou algo parecido.

Kurt Ballou é conhecido por produzir bandas super-pesadas ​​como o High on Fire, Trap Them e sua própria banda, o Converge Na teoria, não parece que ele seria o cara certo para algo mais sutil e melódico como o Beastmilk , mas o resultado final é uma das melhores produções que ele já fez. Por que você quis trabalhar com ele?
Essa é uma das razões pelas quais escolhemos ele – porque não é o que você poderia imaginar. Ter o Kurt a bordo nos deu a sensação de que qualquer coisa poderia acontecer, porque não era o caminho mais seguro para ir. Mas foi muito importante para nós trabalhar com um cara que traria uma perspectiva diferente para o trabalho. Porque músicas como as nossas são bem simples e muito catchy, você pode cair na armadilha de fazer apenas a coisa fácil. Mas passamos por uma luta intensa para sair de seu estúdio, e eu acho que isso é perceptivel na gravações. Ele pegou uma banda que era basicamente uma banda demo e nos fez subir para o nível onde nós poderíamos fazer um álbum. Ele fez um ótimo trabalho.

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E Kurt não é o único membro do Converge envolvido. Tem também o Nate Newton fazendo alguns backups.
Sim, ele está em "Genocidal Crush" e “The Wind Blows Through Their Skulls". Nate é um cara que esteve realmente conectado com a gente desde o começo. Ele pediu nossas coisas e falou com Kurt sobre nós e nos convidou para os seus shows. Então ele tem sido um grande apoio da banda desde o início. Foi excelente ter ele lá com a gente. Foi legal ter essa conexão com o hardcore americano e com a cena punk. De alguma forma nós conseguimos conquistar muito desde a Finlândia até lá, e eles podem entendê-lo porque há tanto disso em nossa música também – Dead Kennedys, The Misfits e esse tipo de coisa. Por isso, é muito interessante para mim. É óbvio que é ótimo que o Fenriz trabalhou nisso mas estar conectado com os caras da Converge também foi bastante impressionante para mim.

Há também uma mulher cantando na música "Strange Attractors”. Quem é ela?
Essa é a cantora da Occultation. Nós tocamos num show com eles em Nova York e ficamos muito encantados com sua voz e por ela como pessoa também. Ela veio para o estúdio e começou a nos ensinar yoga e outras coisas. Ela é uma pessoa muito inspiradora. E é melhor tê-la do que alguém que é mais conhecida, como Jex Thoth ou algo assim. Muitas vezes eu fico irritado porque eu acho que as bandas colocam um cantor convidado em um álbum mais pelo seu nome do que por seu talento. Mas o Occultation é uma banda que as pessoas deveriam conhecer. Eles tem um cara do Negative Plane, por isso eles são meio que parte da cena black metal, mas aí eles estão fazendo essa coisa inspirda no Christian Death com algumas vibes do pós-punk. Compartilhamos algumas referências em comum, mesmo soando muito diferente de nós, por isso nós sentimos como se tivessemos encontrado algumas almas gêmeas lá. Quero dizer, não há muitas bandas por ai com quem pudéssemos tocar ao vivo e a coisa fazer realmente sentido.

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Você mencionou Fenriz, que tem sido um grande divulgador do Beastmilk . Ele conheceu sua música online, ou você estava em contato com ele pela cena black metal ? Eu sei que ele também tocou no Dødheimsgard uma época.
Estive com amigos de Fenriz por muitos anos, mas eu realmente nunca lhe mandei nenhuma das minhas bandas . Tivemos uma conversa muito tempo atrás em que ele estava tipo "Não se preocupe com isso. Eu não vou sentar com você e tocar o novo Darkthrone, assim como você não tem que sentar comigo e tocar o que você está fazendo. Se eu estiver afim, vou encontrar por conta própria". Mas eu mandei a fita demo, junto de algumas outras coisas, e ele me mandou um email e disse que ele tinha realmente gostado. Acho que foi a primeira banda em que eu já estive da qual ele realmente gostava, por isso estou muito feliz com isso.

Eu entendo que você tem um forte interesse em Charles Manson, você mesmo citou seu nome na canção "Fear Your Mind". Como você o conheceu?
Eu fiquei realmente obcecado pela leitura de Helter Skelter, e a partir disso eu li tudo e vi tudo o que pude sobre ele. Eu estava encomendando fitas VHS pelo correio e tudo mais. Mesmo nos dias de hoje, eu estou pesquisando coisas on-line sobre a Família o tempo todo. Eu não sei o porquê. Por um curto período de tempo comecei a ler sobre outros crimes reais, mas por algum motivo tudo sempre voltava para Manson. Sendo um pouco hippie, eu posso de alguma forma encontrar algo para relacionar com a sua filosofia ambiental e com minhas próprias experiências com drogas psicodélicas e tentativas de transformar a minha mente. Quando eu li sobre a Família Manson, um monte de perguntas que eu tinha sobre o lado escuro de todo estilo de vida hippie foram respondidas. Um monte de coisas que ele diz eu meio que posso concordar, o que me faz me interessar ainda mais. Muito do que ele diz é loucura, e muitas coisas que ele e a família fizeram foram horríveis, mas é bastante interessante que através dessas coisas você possa descobrir algo sobre si mesmo.

Ele ainda é uma espécie de bicho-papão nacional aqui, pelo menos para as pessoas daquela geração. Mas ele não chegou a matar ninguém, o que torna a coisa toda mais fascinante. E como você disse: para cada coisa louca que sai de sua boca, ele vai dizer algo que tem um tipo único de sabedoria.
Sim, exatamente. Ele mesmo diz: você pode conhecer um país através de seus assassinos. Quanto mais eu viajo pela América, eu penso nas coisas que eu li e nas coisas que ele disse que surgem em minha mente, e isso te permite conhecer muito sobre a psique de uma nação e como as coisas funcionam. Para as pessoas normais que cresceram em uma sociedade cristianizada, isso provavelmente soa completamente insano, mas eu acho que se você passou por cenas extremas, você pode se relacionar com o culto à sua volta. Alguns subgêneros da música são cultos em si mesmos.

E agora vocês são colegas de gravadora aqui nos Estados Unidos.
[Risos] Sim, é bastante divertido. Eu realmente amo todo seu conceito “Air Trees Water Animals”. Eu acho que é fantástico. Eu poderia continuar lendo sobre isso para sempre. E ouvi dizem que alguém contrabandeou um telefone celular para que ele mandasse mensagens para as pessoas em que tudo o que ele iria fazer era cantar , "I’ve been dancing in the devil’s face!" repetidamente. Foi realmente excelente. Eu gosto da idéia de que ele tem um telefone móvel, mas tudo o que ele faz com ele é aterrorizar as pessoas com essas músicas loucas. É muito inspirador de certa forma.

J. Bennett toca guitarra na banda Ides of Gemini e ocasionalmente arrisca escrever umas matérias. Dá uma olhada no Ides of Gemini aqui.