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passagem de ano

Porque é que a noite de Passagem de Ano é tão deprimente?

Não é segredo para ninguém que esta época de festividades pode ser dura para a saúde mental. Falámos com um psicólogo sobre as razões pelas quais o último dia do ano pode ser especialmente difícil para algumas pessoas.
Imagem por Kayla Snell via Stocksy.

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma Broadly.

À medida que 2017 se aproxima do fim, tanto o alívio como o desespero vão-se apoderando de nós. Estamos contentes por o ano estar a acabar, mas tristes por ter sido tão impiedosamente horrível. Enquanto por todo o Mundo as pessoas se preparam para dizer adeus a 2017, embebedando-se de tal forma que não se vão lembrar sequer dos seus últimos momentos, há quem sinta mais dificuldades em libertar-se de uma tristeza mais duradoura.

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Habitualmente pensamos no Natal (bem como no Dia de Acção de Graças, nos Estados Unidos) como uma época mentalmente castigadora. No entanto, um estudo de 2012 descobriu que aproximadamente um sexto da população britânica considerava a Passagem de Ano como "o dia mais deprimente do ano". Tendo isto em conta, decidimos conversar com o psicólogo Larry Kubiak, director dos Serviços de Psicologia do Tallahasee Memorial Behavioral Health para tentarmos perceber o que faz com que a última noite do ano seja especialmente complicada para a saúde menta.


Vê: "Sê boa pessoa, sê gentil, sê 2018"


O que diferencia a noite de Passagem de Ano de outras épocas festivas - e pode torná-la particularmente perturbadora - é a ênfase na reflexão. Kubiak explica á Broadly: "Sempre que há um tempo para reflexão, tens o potencial para ficar ainda mais deprimido. Principalmente se sentires que não te consegues comparar aos outros". Durante este período estamos mais propensos a a reflectir sobre o que conseguimos atingir e sobre o que não conseguimos atingir. O psicólogo sublinha que o falhanço na concretização de determinados objectivos, como a perda de peso, maiores cuidados com a saúde, ou a conquista de uma promoção nos últimos 12 meses, podem fazer-se sentir de forma mais pesada no fim do ano.

E a noite de Passagem de Ano pode ser tão complicada para quem tenha sido diagnosticado com depressão, como para quem não tenha. De acordo com Kubiak, para pessoas que já sofrem de depressão e/ou Transtorno Afectivo Sazonal (TAS), a Passagem de Ano pode piorar sentimentos desagradáveis e estados de ânimo que, de alguma forma já estavam presentes. Para aqueles que ainda não estavam deprimidos, os mesmos factores podem contribuir para o crescimento de sentimentos de tristeza por volta desta altura.

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Muitas vezes, quem está deprimido tem dificuldades em sair de casa. Na Passagem de Ano, com a pressão de sair até de manhã pode ser um factor de ainda maior stress. "Sempre que deixas que uma convenção social dite o que fazes, em vez de fazeres o que sentes que é melhor para ti, corres o risco de criar ansiedade, depressão e por aí fora", sublinha Kubiak. O Fim de Ano coloca estas pessoas perante uma escolha complicada: sair, apesar de não quererem, ou lidar com a pouco confortável tarefa de dizer aos amigos que desta vez não vai ser possível. Para além disso, os factores financeiros e os gastos excessivos da época podem também transformar os festejos de Fim de Ano em algo ainda mais aterrador.

Segundo o psicólogo, esta Passagem de Ano em particular pode implicar um desafio ainda maior para a saúde mental quando comparada com as anteriores. O especialista cita o estudo anual da American Psychological Association, intitulado "Stress in America", que descobriu que, pela primeira vez na última década, o dinheiro não foi o elemento de stress principal para os norte-americanos, mas sim, "o futuro da nação". Apesar de o Fim de Ano ser uma época de reflexão, é também uma altura em que as pessoas se focam no futuro e nas esperanças que têm para o ano seguinte. Com a moral em baixo, os norte-americanos [como muitos outros povos do Planeta] podem, infelizmente, estar a sentir mais temor do que esperança numa altura em que 2018 se aproxima.

Todavia, o que Kubiak enfatiza durante a nossa conversa é que, sentirmo-nos em baixo à medida que 2017 se fina, é normal. É bom que reconheças os teus sentimentos, ainda que sejam negativos. "A única maneira de não sentir depressão ou ansiedade é se fores uma pedra. A depressão e a ansiedade são emoções humanas normais, que podem até ser benéficas. Só se tornam perigosas quando se tornam extremamente intensas, ou extremamente prolongadas", garante Kubiak. Se sentires uma tristeza esmagadora, que se prolonga por 2018 o psicólogo aconselha que procures ajuda. Seja ela ajuda de um profissional, ou, simplesmente, que digas o que sentes a alguém que te ama.


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