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Os riscos para a saúde de fazer uma tatuagem

Relatos incluem complicações com a tinta, infecções, efeitos tóxicos, cicatrizes e mais.
Uros Jovicic/Unsplash

Matéria originalmente publicada no Tonic.

Quase metade das pessoas entre 18 e 35 anos têm tatuagem, e quase uma em quatro se arrepende de ter feito uma, segundo uma pesquisa de 2016 do Harris Poll. Baseado numa estimativa de cerca de 60 milhões de pessoas nessa faixa etária, isso significa que 7,5 milhões de pessoas se arrependem de ter se tatuado.

Como clínico geral, já notei também que muitos dos meus pacientes jovens se arrependem de suas tatuagens. Quando pergunto sobre elas, muitos dizem que fizeram quando era muito novos, e que na época pesquisaram pouco ou nada antes de tomar a decisão.

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Sem uma fonte (confiável ou não) de informações sobre tatuagem para sugerir aos meus pacientes, comecei a investigar o tópico por conta própria. Meu objetivo era escrever uma referência rápida para adolescentes revisando questões de saúde e sociais que podem encontrar depois de fazer uma tatuagem.

O que descobri foi uma variedade de preocupações inesperadas e às vezes chocantes que todo mundo deveria conhecer. Para minha surpresa, há diversos relatos de complicação com a tinta, infecções, efeitos tóxicos, cicatrizes, queimaduras, irritações crônicas e muito mais.

Entre as preocupações estão os efeitos de longo prazo que a tinta de tatuagem pode ter no sistema imunológico, interpretação de espécime patológico e outras complicações de saúde impossíveis de prever.

Certas tintas podem ser tóxicas. Algumas, inclusive, podem conter compostos cancerígenos, descobriu um estudo da Agência de Proteção Ambiental holandesa de 2012. Uma em cada cinco tintas de tatuagem continha químicos cancerígenos, e a grande maioria das tintas testadas não cumpriam os padrões de saúde internacionais para a composição, descobriu outro estudo patrocinado pelo governo australiano. Mais preocupante ainda, os cancerígenos foram identificados em 83% das tintas pretas — de longe a cor mais popular entre as tatuagens.

A Sociedade Europeia de Pesquisa de Tatuagem e Pigmentos estabeleceu em 2013 uma missão para educar o público sobre os “fatos fundamentais da tatuagem”, que muitas gerações mais novas ignoram. Esse grupo encontrou bário, cobre, mercúrio e outros componentes prejudiciais em tintas de tatuagem. A pesquisa deles também descobriu erros entre os ingredientes listados nas embalagens e a composição química realmente encontrada nos testes.

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Mais recentemente, a Administração de Alimentos e Drogas dos EUA começou a se envolver mais com tintas de tatuagem, afirmando que “Muitos pigmentos usados em tintas de tatuagem são cores de uso industrial presentes em tinta de impressora e tinta automobilística”. Como outros estudos, a agência agora está examinando a composição química de tintas e pigmentos e como eles se comportam no corpo humano, além dos efeitos de curto e longo prazo.

Tintas que contém metais em sua fórmula podem sofrer reações durante exames de ressonância magnética. Por exemplo, dois estudos de caso falam sobre pacientes sofrendo de queimaduras induzidas por ressonância em suas tatuagens, atribuídas a compostos de ferro no pigmento usado. Radiologistas dizem que reações magnéticas são raras, mas alguns sugeriram simplesmente evitar tintas de tatuagem contendo metais.

Patologistas, enquanto isso, relatam tinta de tatuagem em biópsias cirúrgicas de nódulos linfáticos. Por exemplo, um relatório de 2015 do jornal Obstetrics and Gynecology detalhou o caso de uma mulher com câncer cervical que os médicos acreditavam ter se espalhado através de seus nódulos linfáticos. Depois da cirurgia para remover os nódulos, eles descobriram que o que parecia serem células malignas numa ressonância na verdade era tinta de tatuagem. Um diagnóstico equivocado similar ocorreu em outro paciente com melanoma.

Aí você tem as infecções. As infecções mais comuns associadas a tatuagens envolvem staphylococcus aureus ou bactérias pseudomonas devido à má preparação da pele ou esterilização do equipamento. Infecções de pele por staphylococcus podem se tornar sérias e até ameaçar a vida do paciente, com cepas resistentes a antibióticos entre os casos mais comuns.

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Três por cento das tatuagens infeccionam, e quase 4% das pessoas que se tatuam relatam dores durante mais de um mês, descobriu um estudo de 2015 da Escola de Medicina da Universidade de Tulane. Cerca de 22% dos participantes da pesquisa com novas tatuagens relataram coceira persistente durando mais de um mês.

Um surto de infecções de pele micobacterianas em 22 pessoas em quatro estados em 2011 e 2012 foi ligado a algumas marcas específicas de tinta. Os Centers for Disease Control and Prevention dos EUA, trabalhando com departamentos locais de saúde pública, conseguiram conter as infecções através de intenso rastreamento e investigação.

Transtornos cutâneos mais sérios como sarcoidose, líquen plano e reações parecidas com lúpus aparecem cada vez mais na literatura médica. Esses problemas de pele podem durar por muito tempo e deixar marcas permanentes.

Um estudo publicado no Hepatology descobriu que “exposição a tatuagem está associado a infecções de hepatite C (HCV), mesmo entre pessoas sem os fatores de risco tradicionais. Todos os pacientes com tatuagens devem ser considerados em risco maior de infecção por HCV e devem passar por exames”.

Hepatite, que é 10 vezes mais infecciosa que o HIV, pode ser transmitida por agulhas usadas pelos tatuadores. É por isso que a Cruz Vermelha americana restringe doações de sangue de indivíduos com tatuagens novas feitas fora de estabelecimentos regulados.

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Um estudo da Universidade de Tulane deu mais crédito a essas restrições de doação, mostrando que 17% de todos os participantes tinham pelo menos uma tatuagem feita em outro lugar que não um estúdio de tatuagem, e 21% admitiram estar intoxicados quando fizeram pelo menos uma de suas tatuagens.

A principal resposta que os participantes do Harris Poll deram para se arrepender de sua tatuagem era que eles eram “muito novos quando a fizeram”. A segunda razão mais comum, que coincide com a primeira, é que a tattoo não “se encaixa em seu estilo de vida atual”.

Quer a tatuagem retrate um nome, uma pessoa, um lugar ou uma coisa, seu significado e percepção estão em fluxo constante. Eric Madfis e Tammi Arford, escrevendo sobre o dilema de arrependimentos com tatuagens, apontam que “símbolos são dinâmicos no sentido em que são específicos da época, sempre em mutação, e sempre num estado de transição gradual”.

Tatuagens têm significados diferentes dependendo de quem as interpreta, sua história relativa e conhecimento, e são dinâmicas porque podem ter significados diferentes dependendo do tempo e da experiência. A primeira pessoa a fazer um arame farpado no bíceps pode ter parecido criativa, única e inovadora. A centésima pessoa a fazer a mesma tatuagem não era nada disso, e com o tempo, quando ambas são vistas em público, elas recebem a mesma reação.

A “resposta emocional do observador” de qualquer tatuagem pode ser baseada em “estratificação social” e não é sempre previsível, segundo Andrew Timmings da Universidade St. Andrews no Reino Unido. Suas entrevistas com gerentes de recursos humanos mostraram que tatuagens podem prejudicar perspectivas de emprego.

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Outro estudo, da Universidade de Tampa, confirmou que 86% dos estudantes acreditam que ter uma tatuagem visível pode atrapalhar suas perspectivas de trabalho.

Pesquisadores do Harris Poll descobriram que participantes mais velhos eram menos tolerantes a tatuagens visíveis enquanto o prestígio da posição aumentava. Enquanto a maioria das pessoas de 51 anos e acima estão confortáveis com atletas profissionais tatuados, a aceitação cai significativamente quando médicos, professores de primário e candidatos a presidente são incluídos.

Compreensivelmente, pessoas que têm muitos amigos e família com tatuagens geralmente as veem com menos estigma, e tendem a sofrer menos de arrependimento, relatou um estudo do The Social Science Journal de 2014. Mas o estudo também descobriu que quando os participantes tatuados eram expostos a indivíduos sem tatuagens, como no trabalho ou numa instituição de ensino superior, mais vitimização acontecia, e os impactados tinham mais chance de sofrer de arrependimento e pensar em remoção.

Fazer uma tatuagem, que é similar a tomar uma decisão que pode mudar sua vida (e definitivamente vai mudar seu corpo) muito jovem não é tão diferente assim de casar muito novo (que tem uma taxa de arrependimento de 37%) ou escolher seu curso na faculdade muito cedo (com uma taxa de arrependimento de 32%). Para muitos, tomar uma grande decisão quando jovem é algo muito propenso a arrependimento. A diferença com tatuagens é ter que encarar esse arrependimento diariamente.

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Enquanto o número de pessoas tatuadas cresce, o mercado para remover essas tatuagens também encontrou seu nicho. Serviços de remoção com laser crescem rapidamente em todos os países e se tornaram uma indústria multimilionária, com potencial para crescer ainda mais enquanto gerações mais tatuadas envelhecem.

Mas algumas tatuagens problemáticas não podem ser removidas. Os lasers disponíveis atualmente têm limitações nas cores que podem apagar, as cores mais brilhantes sendo as mais difíceis de remover. Pessoas mais pigmentadas tendem a ter menos sucesso com certos lasers e exigem mais sessões para evitar danos à pele.

Como o laser quebra as partículas de pigmento sob a pele para que o corpo remova do sistema, questões de infecção, cicatrizes e espalhamento de tinta se tornam uma preocupação novamente. Tatuagens cobrindo grandes áreas do corpo simplesmente são grandes demais para apagar em uma sessão, e podem levar anos para serem removidas.

Complicações com laser incluem dor, bolhas, cicatrizes e, em alguns casos, um escurecimento da tinta da tatuagem pode ocorrer, segundo dermatologistas.

Enquanto a tecnologia e a procura por remoção de tatuagens avança, algumas das limitações atuais dos lasers vão diminuir. Novas tintas mais fáceis de remover estão sendo patenteadas, o que pode representar uma abordagem mais saudável devido a ingredientes biodegradáveis, e uma resposta mais previsível para o laser. Psicosecond lasers também estão diminuindo dramaticamente o número de sessões necessárias em algumas populações.

Educação é a chave. Com tanta gente considerando fazer uma tatuagem desde cedo, informar os jovens sobre os riscos de saúde e sociais pode ajudar a evitar arrependimentos. Acrescentar permanentemente educação de arte corporal em aulas de saúde pode mitigar alguns desses erros e diminuir o arrependimento no futuro.

Greg Hall é professor na Case Western Reserve University. Esta matéria foi publicada originalmente no The Conversation . Leia o texto original aqui .

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