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Por que a Dancehall no Morro foi atacada mais uma vez?

No último sábado (5), a festa que rola na Favela do Sapo, zona norte de São Paulo, foi interrompida por bombas de gás lacrimogêneo. A PM desconhece a ação.
Foto: Jardiel Carvalho/ R.U.A Foto Coletivo

Novamente a festa Dancehall no Morro foi atacada pela Polícia Militar. De acordo com os organizadores do evento, que é itinerante, mas tem acontecido na Favela do Sapo, na zona norte de São Paulo, a polícia teria jogado inúmeras bombas de gás lacrimogêneo para dispersar as 1.500 pessoas presentes no local no último sábado (5). Em agosto do ano passado, a festa já tinha sofrido represálias por parte da polícia.

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Por telefone, um dos organizadores da Dancehall, Marcelo Gregório, relatou que por volta das 22h, quando eles ainda montavam os equipamentos de som e apenas 50 pessoas estavam na festa, uma viatura de polícia teria passado e arremessado uma bomba de efeito moral. Já durante a madrugada, funcionários do PSIU (Programa de Silêncio Urbano) teriam passado por lá. "Eles só tiraram fotos, não passaram decibelímetro, não mediram som, nada", relata Marcelo.

O organizador conta que a PM teria pedido que o som fosse reduzido e que a rua fosse desobstruída. "Reduzimos o volume e conseguimos colocar essas 1.500 pessoas na calçada pros carros passarem." Marcelo afirma que o policial teria concordado. "Expliquei que o som ia ficar rolando naquele volume reduzido até as pessoas dispersarem e irem embora. Tem muita gente que vem de outra cidade pro baile", justificou. "Ele [o policial] falou que tudo bem, com a maior simpatia do mundo. Coisa que nunca vi. Tanto que desconfiei muito por isso."

Minutos depois que os policiais foram embora, bombas de gás lacrimogêneo teriam sido arremessadas. "Caiu granada de pimenta em cima da casa das pessoas. Caiu bomba na cabeça de uma menina", relembra o organizador.

Foto: Jardiel Carvalho/ R.U.A Foto Coletivo

No evento do Facebook, quem esteve na Dancehall publicou mensagens e relatos consternados sobre a noite, como "lamentável" e "primeira vez que eu colo e já quase tomei bomba na cara".

A VICE procurou a Polícia Militar* para comentar o caso, que até o momento de publicação desta reportagem afirmou desconhecer a intervenção. Por e-mail, a assessoria de imprensa respondeu que "as informações que nos passaram não dão conta do uso de munição química". No outro episódio de repressão, a PM negou saber da existência da ação policial.

Marcelo lamenta o ocorrido. "Eu ainda não tô conseguindo conceber direito o que aconteceu. Foi realmente muita covardia. Da outra vez foi muito covarde, mas dessa vez foi mais. Porque eu dialoguei com o policial como organizador do evento."

A próxima edição da festa está agendada para o dia 9 de abril e vai acontecer no mesmo local. Mas, para edições futuras, a organização da Dancehall no Morro pretende alugar um espaço para que as pessoas não corram mais tanto risco. Emocionado do outro lado da linha, Marcelo parece desapontado: "Faz sentido fazer um dancehall no morro longe do morro?".

*Atualização: durante a apuração da reportagem, a VICE enviou um vídeo feito por uma das pessoas presentes no local da festa para a Polícia Militar, que respondeu às 14h45 de hoje (8) que o material será enviado para análise do batalhão responsável. "A informação inicial é de que não houve ação de controle de distúrbios civis no local", reforçou, por e-mail, a assessoria de imprensa.

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