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Música

Bad Brains em 2012: Quase

Todo mundo só tem a perder se esperar que o Bad Brains de 2012 seja alguma coisa próxima do que costumava ser: as chamas simplesmente não queimam tanto assim durante trinta anos.

O Bad Brains tem feito alguns shows de quase volta nos últimos 15 anos, e julgando pelos shows do verdadeiro Bad Brains, todos foram bem ruins.

Pra todo mundo que presta atenção na banda desde o começo, isso não é surpresa. Nos anos 80, óbviamente, o Bad Brains 1) fazia um dos melhores sons do mundo 2) do jeito mais incrível e imediato e 3) tinha uma presença de palco muito foda.

Enquanto eles continuaram incrivelmente loucos e bem legais depois de 86, o consenso é que os shows do Bad Brains da era de ouro de Nova York do começo dos anos 80 — altamente conhecidos, dos quais eu não participei porque era um bebê — foram o auge da banda. Os shows deles nessa época pareciam afrescos insanos, zonas de guerra, ou algo misturando essas coisas. Fotos e vídeos dos shows provam isso, assim como os discos ao vivo. A banda foi aclamada além dos confinamentos do gênero, merecidamente. Hardcore ou o que seja, não há nenhum ponto, precedente ou antecedente, àquela era do Bad Brains. Sem discussão.

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Ainda assim é melhor não insistir. Focar muito em quão incrível o Bad Brains era faz a paisagem musical pós-1985 parecer A Zona do livro Gravity Rainbow. Ouvir muitos discos e ver muitas fotos do Bad Brains faz sua vida de jovem se tornar uma busca vaga por emoções similares, com aventura e diversão, mas com um vago arrependimento. Quando você sai dessa doideira de Bad Brains, tudo o que encontra é uma festa que já acabou e uma sala que já foi varrida.

É um pouco injusto julgar o resto do gênero pelos padrões do Bad Brains: o hardcore dos anos 80 era basicamente música feita por moleques, um dos melhores exemplos que envolvem algum tipo de foda-se musical ou má comunicação ou simples amadorismo. Enquanto todas as bandas na compilação New Breed são melhores que os Beatles, não é o tipo de música que funciona em voltas muito tempo depois. Quem quer ver um cara de 50 anos tentando foder uma música?

Apesar disso, ultimamente muitos grupos de hardcore têm voltado. Ou eles até têm se saído bem (como o Bold, que nunca chegou a acabar, fez um showzinho incrível em fevereiro no Lit Lounge) ou muito mal (como o Refused, a pior banda do mundo). O Bad Brains, por outro lado, tem tentado se reunir desde 1999 – apesar de só ter terminado mesmo em 95 – e, de certa maneira, a banda foi formada por essa prática.

Diferentemente de muitas bandas (boas) de hardcore, eles sempre foram músicos proficientes, então tocar num palco grande com um equipamento bom 30 anos depois não é um problema. Sempre reverenciados, a popularidade deles não é novidade: um documentário sobre eles está pra sair, PMA, a frase de autoajuda dos anos 30 que eles reapropriaram nos primeiros discos já é um tópico piegas no Twitter, e até o profissional Mos Def está no filme. Poxa, eles até tocaram numa festa da VICE. Por que não tirar a poeira da van pra uma turnê?

Ainda assim, como é o caso de bandas que voltam, eles estão velhos, muita gente presta atenção demais ao gênero, e os shows são ruins: “O HR não canta” é uma das críticas, “Ele está segurando uma gaiola” é outra. As duas são válidas. No show que vi recentemente ele tocou uma guitarra que podia ou não estar ligada e o vocal estava mais baixo no mix do que o de uma banda da 4AD (o resto do pessoal estava perfeito).

Os vocais do Bad Brains têm sido um problema desde depois do Quickness — eles até colocaram um cara do Faith No More pra cantar, porra — e isso não é culpa da volta. Todo mundo só tem a perder se esperar que o Bad Brains de 2012 seja alguma coisa próxima do que costumava ser: as chamas simplesmente não queimam tanto assim durante 30 anos. As pessoas envelhecem e perdem a capacidade de dar mortal de costas, mas um HR inconstante ainda é melhor que o Israel Joseph I.

Algumas vezes o Bad Brains, reunido agora por mais tempo do que esteve separado, oferece um vislumbre do que costumava ser, apesar de não ter sido bem assim no show que vi. O HR não estava bem e era difícil ouvir o que ele estava cantando. Mas ele conseguiu uma vez, num show em Vermont em 2002 pra umas 50 pessoas. Então há uma chance dele fazer isso de novo, e se você fechar os olhos, vai ser como se o Bad Brains estivesse tocando. Pode não ser o suficiente pra algumas pessoas, mas pra mim é. Mas é melhor não ficar pensando muito nisso.