Cerca de mil manifestantes se concentraram ontem (28) na frente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro pedindo a saída de Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, e reivindicando o direito ao aborto.O ato, composto majoritariamente por mulheres, interditou a Avenida Rio Branco por cerca de 25 minutos. Segundo a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, 500 pessoas compareceram à manifestação. Já as organizações que convocaram o protesto contabilizam esse número em 3.500 manifestantes.
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Além das feministas, algumas lideranças evangélicas, formadas por pastores, pastoras, bispos, bispas e crentes de diversas igrejas assinaram um manifesto e também compareceram ao protesto que exigia a saída de Cunha por conta das inúmeras acusações de corrupção e desvio de dinheiro em contas da Suíça.O repórter Matias Maxx registrou todo o evento e conversou com Thamires Sarti, historiadora, professora e feminista que estava presente no protesto."Há anos, uma pauta feminista não ganhava tanta adesão e visibilidade. Sem contar a participação das garotas, são muitas secundaristas na linha de frente", conta a historiadora.
O estopim para a tomada das ruas foi uma série de aprovações na Câmara dos Deputados que bate de frente com a luta das mulheres em relação a regulamentação do aborto, acesso à pílula do dia seguinte e direto de escolha de não poder carregar uma gravidez fruto de violência sexual.O PL nº 5069/2015 restringe o acesso às medicações abortivas, além de prever novas punições para o anúncio de meios abortivos e o induzimento, a instigação ou o auxílio à prática de aborto, burocratizando ainda mais, dessa forma, o acesso a esse procedimento em casos de estupro.Essa não é a primeira tentativa da bancada fundamentalista cristã de impedir que as mulheres tenham direito aos seus corpos. Em 2013, relatada pelo próprio Cunha, outra proposta polêmica foi aprovada. O Estatuto do Nascituro nega acesso ao aborto, mesmo em caso de estupro, e exige que o agressor sexual pague pensão à criança.
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Além disso, foi aprovado ontem na Alerj o relatório final da CPI do Aborto instaurada desde fevereiro para investigar clínicas e o comércio de medicações que possam estimular o aborto. Entre outras propostas oferecidas no relatório, está um projeto de lei que exige a notificação à polícia de qualquer atendimento em hospitais relacionado a aborto, inclusive os espontâneos e os previstos em lei.
No Brasil, o acesso negado ao aborto é uma das maiores causas de mortes femininas. Cerca de 1 milhão de pessoas morre por ano por conta de abortos feitos em condições precárias, enquanto outras 250 mil são internadas por complicações.Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.