Riscando o chão na Disputa Nervosa, a batalha do passinho em BH
Foto por Sô Fotocoletivo

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Música

Riscando o chão na Disputa Nervosa, a batalha do passinho em BH

O jeito moleque de dançar funk não é exclusividade do Rio e de São Paulo e a galera mineira dos Passistas Dancy mantém a tradição vivona.

Todas as fotos são do Sô Fotocoletivo

Faz 15 anos que os lekes inventaram o passinho, o jeito zica que os moleques de comunidades do Rio de Janeira inventaram de dançar o funk. E nesse tempo o assunto foi explorado como poço de petróleo na Arábia Saudita. Desde vídeos com milhões de views no YouTube, a doc-sociológico A Batalha do Passinho, da GloboNews, chegando a ter concurso no Caldeirão do Hulk, a dança apareceu em tudo quanto é lugar. E assim, a molecada seguiu rabiscando o chão com passos rápidos e freestyle de coreografias que uniam funk, frevo, samba, contorcionismo, break e os cambau.

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A dança, mesmo depois de toda sua exploração, segue vivona. Um exemplo é a cena emergente do passinho em Belo Horizonte. O movimento dançante que parecia exclusividade dos bailes do Rio e dos fluxos de São Paulo, começou a ferver em BH por volta de 2013. Kdu dos Anjos, arte-educador e belo-horizontino do Aglomerado da Serra, é o criador da Disputa Nervosa, a competição da dança a surgir na capital das Gerais em 2015. A história de Kdu com as batalhas, porém, surge antes. Como jurado no Duela BH em setembro de 2015 — campeonato de passinho que acontece todos os anos durante a Virada Cultural de Belo Horizonte —, ele conheceu JohnathanDancy, mandando passinhos e perguntou se Johnathan topava dar oficina de passinho no Centro Cultural Lá da Favelinha, no seu bairro do Aglomerado da Serra.

A cultura do funk não é só letra indecente. O funk também é resistência em defesa das minorias.

E aí foi fácil uma coisa levar a outra. Johnathan, que mora na mesma comunidade que o arte-educador, aceitou o convite e, juntamente com Cysi dos Anjos, irmã de Kdu, deram início às aulas. A partir daí, as oficinas de passinho começaram a acontecer no centro cultural, sempre nas tardes de sábados, colocando a criançada para aprender e praticar a dança — e logo passaram a realizar apresentações de passinho pela cidade e colando nas Disputas Nervosas. Cysi dos Anjos, dançarina e professora da oficina dá a letra sobre o movimento: "A cultura do funk não é só letra indecente. O funk também é resistência em defesa das minorias."

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Leia: "Passinho do abençoado: Os melhores vídeos de funk gospel do YouTube"

JohnathanDancy, que começou a dançar o passinho quando tinha 14 anos, hoje, com 18, é uma das referências da dança em Belo Horizonte, além de ser o criador do grupo Passistas Dancy. E o engraçado nessa história, é que ele me contou que nem curtia funk por causa das letras, mas quando viu um amigo de escola dançando ele perguntou: "O que é isso aí?". Depois de conhecer o passinho, Johnathan não parou de treinar, vendo vídeos na internet e praticando adoidado em casa.

Leia: "Até a Beyoncé transa o passinho"

O Passistas Dancy, aliás, é o único grupo, digamos, oficial de passinho de Belo Horizonte. "Atualmente, o único grupo existente de passinho foda em BH é o nosso", ressalta Johnathan, um dos idealizadores do grupo. Ele afirma que o grupo que ajudou a fundar oferece oficinas gratuitas da dança com intuito de mostrar às pessoas que essa é mais uma vertente da cultura nascida na favela. "Nós queremos mostrar o nosso dia a dia, nossa vivência através da dança, a cultura da favela, a resistência que é acordar cedo, treinar, trabalhar, batalhar, sair e voltar. É importante colocar para a sociedade as barreiras que vamos vencendo a cada dia", fala o dançarino.

Dá pra sacar mais vídeos da Disputa Nervosa aqui

Na Disputa Nervosa, que aconteceu no último dia 10 de junho, os dançarinos inscritos eram avaliados de acordo com uma pontuação que leva em conta a originalidade e acerto nas coreografias. As inscrições eram gratuitas, e o campeão da batalha levaria R$ 300 para casa — enquanto o segundo colocado ganharia uma macarronada no capricho da Dona Rosa, que vende lanches na entrada do Tambor Mineiro, onde acontecia a Disputa naquela noite. No total foram 11 inscritos. Tudo pronto para o início da batalha, Kdu dos Anjos, mestre de cerimônia da Disputa Nervosa, convidou os jurados para ocuparem seus lugares e deu início as disputas altamente acirradas, que seguiram até o vencedor ter sido conhecido. Vai sacando o movimento nas fotos aqui embaixo:

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Antes de iniciar a Disputa Nervosa, algumas coreôs dos dançarinos dos Passistas Dancy e os Passistas Mirins, todo mundo aluno das Oficinas de Passinho. Foto: Sô Fotocoletivo.

Aninha, 9 anos, é a prodígio das Oficinas de Passinho. Foto: Sô Fotocoletivo.

Camila do Quadradinho, 18 anos, disputando a Disputa Nervosa com passinho, caras & bocas. Foto: Sô Fotocoletivo.

Andréia, também aluna da Oficina de Passinho, não tá de brincadeira na disputa. Foto: Sô Fotocoletivo.

Cysi dos Anjos e Jenniffer arrancam assovios da galera. Foto: Sô Fotocoletivo.

Na semifinal: Jenniffer, Johnathan Dancy e Aninha disputam o prêmio. Foto: Sô Fotocoletivo.

Jenniffer e Black Tiger na disputa final. Jennifer numa pegada Michael Jackson. Black virou Pink Tiger. Foto: Sô Fotocoletivo.

Jenniffer parece não acreditar que ela se sagrou campeã da Disputa Nervosa. Foto: Sô Fotocoletivo.

Após o anúncio da vencedora, todo mundo cai na pista: Jenniffer. Foto: Sô Fotocoletivo.

A jurada Maria Teresa, Tetê, encoraja a campeão da noite, Jenniffer — numa cena habitada por caras, a mina mandou benzão. Foto: Sô Fotocoletivo.

Agora é só curtição. Foto: Sô Fotocoletivo.

Kdu dos Anjos avisou que, pós-batalha, o baile funk era da geral. Foto: Sô Fotocoletivo.

Cysi dos Anjos. Foto: Sô Fotocoletivo.

Johnathan Dancy durante ensaio do grupo Passistas Dancy, no Centro Cultural Lá da Favelinha, no Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte. Foto: Sô Fotocoletivo.

Oficina de Passinho no Centro Cultural Lá da Favelinha. A pequena Aninha, quando não está rabiscando o chão com suas coreografias ou desfilando saltos sincronizados, tá sempre de olho nos outros dançarinos. Foto: Sô Fotocoletivo.

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